Mostrando postagens com marcador Annie Besant. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Annie Besant. Mostrar todas as postagens

19 setembro 2025

Da Inglaterra a Índia: a jornada de Annie Besant

Uma mulher à frente do seu tempo

Imagem criada ChatGPT.
Annie Wood Besant nasceu em 1º de outubro de 1847, em Londres, filha de William Burton Persse Wood e Emily Roche Morris. Seu pai faleceu quando ela ainda era criança, deixando a família em dificuldades. Sua educação foi conduzida em parte pela mãe e em parte por Ellen Marryat, amiga da família. Nessa época, Annie já mostrava um espírito questionador. Em sua autobiografia, ela recorda que “desde a infância eu tinha uma sede insaciável de saber, e nenhum medo de onde esse saber pudesse me conduzir” (Besant, 1893, p. 15).

Em dezembro de 1867, com vinte anos, casou-se com o reverendo Frank Besant, com quem teve dois filhos, Arthur e Mabel. O casamento, porém, foi infeliz, marcado por conflitos devido à crise de fé de Annie e à sua rejeição aos dogmas cristãos. A própria Annie descreveu: “Nós éramos um par mal ajustado, sem afinidade real, unidos apenas por laços externos” (Besant, 1893, p. 53). A separação legal ocorreu em 1873, quando inicialmente levou consigo a filha Mabel. (NETHERCOT, 1960, p. 45).

Após a separação Annie Besant iniciou sua militância social e intelectual na década de 1870, ao lado de Charles Bradlaugh (1833–1891), líder da National Secular Society, defendendo causas como a liberdade de expressão, a educação pública, o controle de natalidad e, de forma geral, os direitos das mulheres. A parceria ganhou destaque durante o caso Fruits of Philosophy (1877), quando ambos foram processados por publicar um livro sobre métodos de controle de natalidade, considerado obsceno na época. Segundo Taylor (1991, p. 87), “Besant encontrou em Bradlaugh um mentor e aliado, que lhe mostrou como articular ideias radicais e defender o direito à liberdade de pensamento”. A colaboração com Bradlaugh foi decisiva para o desenvolvimento do ativismo público de Annie, preparando-a para sua posterior atuação na teosofia, na educação e na política na Índia. No entanto, após essas polêmicas relacionadas às suas ideias sobre controle de  natalidade, Annie perdeu a guarda dos filhos. Em 1878, a decisão judicial favoreceu o marido, Frank Besant, o que a afetou profundamente do ponto de vista emocional.

Embora separada legalmente, Annie ainda manteve algum contato com os filhos, mas era limitado e supervisionado pelo pai. Em suas memórias, Besant expressa pesar e saudade: ela escreveu que a separação a “marcou para sempre, ensinando o preço da independência e da defesa de ideias impopulares” (Besant, 1893, p. 107). A perda da guarda reforçou sua determinação política e social. Muitos biógrafos, como Taylor (1991, p.88), destacam que "a dor pessoal de Annie fortaleceu seu compromisso com causas que ela acreditava serem justas, como educação, liberdade e direitos das mulheres". A partir de então, ela canalizou o amor pelos filhos em seu trabalho público e na educação de jovens, como nas escolas teosóficas que fundou posteriormente na Índia.

Em 1889, ela ingressou na Sociedade Teosófica, tornando-se uma de suas líderes mais influentes. Em 1907, foi eleita presidente mundial, cargo que exerceu até sua morte. Annie acreditava que a espiritualidade deveria andar lado a lado com a transformação social. Segundo Besant (1893, p. 212) “A verdadeira religião deve ser vivida na vida diária, traduzida em serviço à humanidade”.

No campo maçônico, Annie Besant foi iniciada em Paris, em 27 de julho de 1902, na Ordem Le Droit Humain. Poucos meses depois, em 26 de setembro de 1902, participou da fundação da Loja Human Duty n. 6, em Londres, tornando-se sua primeira Venerável Mestra. Esta loja estava ligada à Le Droit HumainComo lembra Nethercot (1963, p. 211), “com a fundação da nova loja, Besant consolidou a presença da co-maçonaria (como era chamada a maçonaria mista naquela época - co-freemasonry) na Grã-Bretanha e abriu caminho para sua expansão mundial”. Besant trabalhou para expandir a maçonaria mista para diversos países, incluindo Irlanda, Índia, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e regiões do Sudeste Asiático.

Na Índia, Besant atuou como educadora e nacionalista. Apoiou a criação de escolas e faculdades, editou jornais e, em 1916, fundou a Home Rule League (inspirada em movimentos irlandeses de autonomia) que exigia autogoverno para a Índia dentro do Império Britânico. Por isso, foi presa em 1917 sob a Defense of Indialegislação que dava poderes ao governo colonial para prender líderes sem julgamento formal, em nome da 'segurança do império'. O governo britânico considerava a atividade de Besant subversiva, especialmente durante a Primeira Guerra Mundial, quando qualquer movimento político (que pudesse enfraquecer a autoridade britânica) era visto como perigoso. 

Annie ficou confinada em Ooty (montanhas do sul da Índia) por cerca de 93 dias. Sua prisão provocou grande mobilização popular e apoio de líderes indianos, o que aumentou a visibilidade do movimento Home Rule League. Após essa forte pressão popular, ela foi libertada e eleita presidente do Congresso Nacional Indiano no mesmo ano (CHANDRA, 2001, p. 74).

Annie Besant faleceu em 20 de setembro de 1933, em Adyar, Índia. Sua vida foi marcada por profundas transformações espirituais e políticas. Como resume Taylor (1991, p. 301), “ela foi ao mesmo tempo livre-pensadora, socialista, teósofa, maçom e nacionalista indiana — um exemplo raro de coerência na diversidade”. Deixou as seguintes obras publicadas de sua autoria:

BESANT, Annie. The Education of the People. 1882.
BESANT, Annie. An Autobiography. London: T. Fisher Unwin, 1893.
BESANT, Annie. The Ancient Wisdom. 1897.
BESANT, Annie. Woman’s Work in the World. 1902.
BESANT, Annie. Education in the West Indies. 1907.
BESANT, Annie. An Introduction to Yoga. 1908.
BESANT, Annie; LEADBEATER, Charles W. Occult Chemistry. 1908.
BESANT, Annie. Theosophy and the Soul. 1911.
BESANT, Annie. The Case for India. 1917.
BESANT, Annie. India: Its Problems and Its Leaders. 1923.

Referências Bibliográficas

BESANT, Annie. An Autobiography. London: T. Fisher Unwin, 1893. Disponível em: https://www.gutenberg.org/ebooks/12085. Acesso em: 16 set. 2025.

CHANDRA, Jyoti. Annie Besant: From Theosophy to Nationalism. New Delhi: K.K. Publications, 2001.

NETHERCOT, Arthur H. The First Five Lives of Annie Besant. Chicago: University of Chicago Press, 1960.

NETHERCOT, Arthur H. The Last Four Lives of Annie Besant. Chicago: University of Chicago Press, 1963.

TAYLOR, Anne. Annie Besant: A Biography. Oxford: Oxford University Press, 1991.

Sandra Cristina Pedri

Sociedade Teosófica - Saiba Mais

Desvende a Sabedoria da Teosofia Blavatsky e Olcott . Copilot. Você já parou para refletir sobre as grandes questões da existência? Quem som...