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14 outubro 2025

Clémence Royer - Filiada a Société d'Anthropologie

 Da tradução de Darwin à luta feminista

Clémence Royer (Clémence-Auguste Royer) nasceu em Nantes (França) em 21 de abril de 1830. Filha única de Augustin-René Royer, oficial militar realista, e Joséphine-Gabrielle Audouard, costureira, Royer foi educada em casa e, aos 10 anos, enviada ao convento do Sacré-Coeur em Le Mans. No entanto, abandonou a fé católica na adolescência e continuou sua educação de forma autodidata, desenvolvendo interesse por filosofia, ciência e feminismo.

Clémence Royer. ChatGPT.

Em 1856 (com cerca de 26 anos de idade) estabeleceu-se em Lausanne, Suíça, onde viveu com recursos próprios e dedicou-se ao estudo de filosofia, economia e ciência. Em 1862, traduziu para o francês a obra A Origem das Espécies de Charles Darwin, incluindo uma introdução de 60 páginas que refletia suas próprias ideias evolucionistas, influenciadas por Jean-Baptiste Lamarck (Scientific Women, s.d.). 

Lamarck foi um naturalista e biólogo francês que propôs uma teoria coerente da evolução das espécies, antes de Darwin, desenvolvendo a ideia de herança de caracteres adquiridos. Para ele os organismos poderiam transmitir às próximas gerações características adquiridas durante sua vida. Ele é considerado um precursor do evolucionismo, embora sua teoria não tenha resistido à seleção natural darwiniana, especialmente porque a genética moderna mostrou que caracteres adquiridos não são transmitidos hereditariamente.

Essa tradução feita por Clémence Royer foi controversa na época, pois ao incorporar suas próprias interpretações nas páginas iniciais da tradução que fez, acabou gerando críticas tanto de Darwin quanto de outros cientistas.

Em 1865, Royer iniciou uma união com Pascal Duprat, intelectual francês exilado, com quem teve um filho. Apesar de seu envolvimento intelectual e político, detalhes sobre sua vida familiar são escassos.

Mais tarde Royer participou ativamente do movimento feminista francês (republicano, laico e racionalista) da Terceira República. Nessa época sua atuação foi mais filosófica e intelectual, defendendo que a ciência e a instrução feminina seriam os instrumentos de emancipação. Sendo assim, ela defendia as mesmas ideias de Maria Deraismes.

Em 1878, esteve presente no primeiro Congresso Internacional sobre os Direitos da Mulher. No Congresso de 1889 foi convidada por Maria Deraismes para presidir a seção histórica. Em seu discurso argumentou que a introdução do sufrágio feminino (direito das mulheres de votar e serem votadas em eleições políticas) provavelmente levaria a um aumento do poder da Igreja. Sob a liderança de Hubertine Auclert, Maria Deraismes e Clémence Royer passaram a lutar pelo direito ao voto feminino, focando seus esforços na educação, nos direitos civis e na crítica ao poder da Igreja sobre as mulheres. Defendiam a necessidade de uma educação laica que favoreceria o livre-pensamento, pois temiam que mulheres pouco instruídas votassem de forma conservadora, fortalecendo a Igreja Católica.

Clémence Royer (filósofa, economista, tradutora e feminista francesa) faleceu em 6 de fevereiro de 1902, em Neuilly-sur-Seine, França, com 71 anos de idade.

Relação com a Maçonaria

Clémence esteve ligada a círculos de livre-pensamento e à Maçonaria por meio da Société d'Anthropologie de Paris, instituição maçônica de prestígio ligada à ciência e ao pensamento filosófico tendo sido a primeira mulher admitida nesta Sociedade. Embora não haja registros específicos sobre sua iniciação em uma loja maçônica tradicional, sua afiliação a esta instituição indica sua participação em círculos maçônicos e intelectuais (Scientific Women, s.d.).

Royer é lembrada como uma pioneira do feminismo e da ciência no século XIX. Sua tradução de Darwin introduziu o darwinismo na França e influenciou o pensamento científico da época. Além disso, sua participação ativa no movimento feminista e sua afiliação a Société d'Anthropologie (instituição maçônica) destacam seu papel na promoção da igualdade de gênero e na disseminação do livre-pensamento (Wikipedia, 2025; Scientific Women, s.d.).

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

ROYER, Clémence. A Origem das Espécies de Charles Darwin. Tradução francesa com introdução de Clémence Royer. Paris, 1862.

SCIENTIFIC WOMEN. Clémence Royer. Disponível em: https://scientificwomen.net/women/royer-clemence-85?utm_source=chatgpt.com. Acesso em 27 set. 2025.

WIKIPEDIA. Clémence Royer. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cl%C3%A9mence_Royer. Acesso em 27 set. 2025.

04 outubro 2025

A Ordem da Estrela do Oriente

Uma Ordem Fraternal Mista e Robert Morris

Antes da fundação da primeira Loja Maçônica Mista, Le Droit Humain (Ordem Maçônica Mista Internacional), criada por Maria Deraismes e Georges Martin em 4 de abril de 1893, surgiu nos Estados Unidos a Ordem da Estrela do Oriente (Order of the Eastern Star – OES), uma das mais antigas e importantes organizações paramaçônicas do mundo, aberta à participação de homens e mulheres.

Robert Morris. Copilot.
Dividida em três Eras, conforme o Grande Capítulo Geral, a Primeira Era teve início em 1850, com a criação da Ordem por Robert Morris (1818–1888). Maçom, educador e poeta, Morris buscava oferecer às mulheres ligadas à Maçonaria uma estrutura fraternal própria. Acreditava que a inclusão feminina no espírito maçônico fortaleceria os valores familiares e ampliaria o alcance social da instituição (Macoy, 1876, p. 12).

Sua esposa, Charlotte Morris, e sua filha, Harriett Morris, estiveram entre as primeiras mulheres a participar ativamente dos trabalhos iniciais, contribuindo para a formulação ritualística e incentivando a participação feminina.

Em 1866, Robert Morris confiou a Robert Macoy (1816-1895), também maçom norte-americano, a tarefa de organizar e estruturar definitivamente os rituais e os manuais da Ordem. A partir desse momento, a OES entrou na Segunda Era que se estendeu até 1876. Macoy compilou e publicou um Ritual, utilizando o Rosário do Dr. Morris como guia. Este foi o início da organização dos Capítulos, e a Ordem passou a ganhar forma institucional, expandindo-se pelos Estados Unidos e internacionalmente (Macoy, 1876, p. 36). O primeiro Grande Capítulo da Ordem foi organizado em Michigan, em 1867.

Os Capítulos, equivalentes às Lojas Maçônicas, possuem identidade própria e são dirigidos por uma liderança dupla:

  • Worthy Matron (Digna Matriarca - DM): cargo feminino de maior autoridade.
  • Worthy Patron (Digno Patriarca - DP): cargo masculino, ocupado por um Mestre Maçom.
Ordem da Estrela do Oriente.

Essa estrutura reflete a natureza mista da Ordem, com protagonismo feminino desde sua origem. O principal símbolo é a ESTRELA DE CINCO PONTAS, cujas cores e pontas representam cinco heroínas bíblicas:

  1. Adah (azul) - Símbolo da fidelidade;
  2. Ruth (amarelo) - Símbolo da constância;
  3. Esther (branco) - Símbolo da lealdade;
  4. Martha (verde) - Símbolo da fé;
  5. Electa (vermelho) - Símbolo do amor.
Essas figuras femininas bíblicas foram escolhidas como modelos de virtude e de conduta, tornando-se centrais no ritual e na identidade da Ordem (OES, 2023).

Finalidade e Atuação

A Ordem da Estrela do Oriente tem como objetivos principais:

  • Praticar a caridade (apoio a hospitais, bolsas de estudo, ações sociais);
  • Vivenciar rituais simbólicos que reforçam virtudes morais e espirituais;
  • Integrar a família ao ideal maçônico, fortalecendo o papel das mulheres na comunidade maçônica.
Assim, a Ordem tornou-se uma instituição promotora da solidariedade, valores éticos e formação fraternal, contribuindo para ampliar a presença das mulheres no ambiente maçônico de forma organizada e reconhecida.

Expansão e Relevância Histórica

Após sua formalização em 1866, a Ordem da Estrela do Oriente se espalhou rapidamente pelos Estados Unidos. Em 1876, foi criado o Grande Capítulo Geral, responsável por unificar os Capítulos existentes e padronizar a ritualística, marcando o início da chamada Terceira Era, que se estende até os dias atuais. A partir desse momento, a Ordem começou a expandir-se internacionalmente, alcançando diversos países ao longo do século XX. Atualmente, está presente em mais de 20 nações (inclusive no Brasil), reunindo cerca de 500 mil membros ativos e sendo considerada a maior organização paramaçônica internacional aberta à participação feminina — antecedendo outras formas de inserção das mulheres na Maçonaria, como a Maçonaria Mista (Le Droit Humain) e a Maçonaria exclusivamente Feminina.

A criação da Ordem, em 1850, marcou um ponto de inflexão na história da Maçonaria, ao permitir que mulheres participassem de forma institucionalizada do universo Maçônico, ainda que em uma Ordem auxiliar e própria. Desde suas primeiras líderes femininas, como Charlotte Morris e Harriett Morris, até sua consolidação internacional, a OES se destaca como espaço de protagonismo feminino e promoção de valores de fraternidade, caridade e moralidade, mantendo até hoje grande relevância no cenário maçônico mundial.

Dr. Robert Morris

Robert Morris nasceu em 31 de agosto de 1818, perto de Boston, Massachusetts (EUA), embora algumas fontes indiquem Nova York como local de nascimento. Foi advogado, professor universitário, Grão-Mestre do Estado de Kentucky, poeta proeminente e reverendo da Igreja Presbiteriana. Filho de Robert Peckham (1789-1825) e Charlotte Lavinia Shaw Peckham (1786-1837), era o quarto filho dos cinco filhos do casal. Após a separação dos pais, sua mãe mudou-se para Taunton, Massachusetts, levando a filha bebê, Charlotte, enquanto Robert e seu irmão John permaneceram em Nova York até o falecimento do pai em 1825. Após essa perda, quando Robert tinha sete anos e John, aproximadamente nove, ambos foram morar com a mãe.

Aos 18 anos, Robert Peckham (seu nome de batismo) deixou a família para ir para o Oeste. Frequentou a Academia de Bristol, em Taunton e, durante esse período, adotou o sobrenome Morris. Não se abe ao certo por que ele fez essa escolha. Uma hipótese é que tenha sido em homenagem a um tutor ou figura paterna que o acolheu, possivelmente John Morris, como algumas fontes indicam. Lecionou na Academia DeSoto, no noroeste do Mississippi, onde conheceu Charlotte Mendenhall, com quem se casou.

Charlotte Mendenhall Morris: Pioneira da Ordem da Estrela do Oriente

Charlotte Mendenhall Morris nasceu em Shelby, Tennessee (EUA), filha de Samuel e Sarah Mendenhall. Casou-se com Dr. Robert Morris em 26 de maio de 1841, com quem teve nove filhos, dos quais sete sobreviveram até a idade adulta. Em 5 de março de 1846, Dr. Morris foi iniciado na Loja Gathright, tornando-se Mestre Maçom em Oxford, Mississipi, e servindo como Grão-Mestre da Grande Loja de Kentucky entre 1858 a 1859. Faleceu em 31 de julho de 1888, sendo sepultado em La Grange, Kentucky.

Em 1850, durante um período de convalescença após um acidente, Dr. Morris e Charlotte desenvolveram os graus iniciáticos da Ordem da Estrela do Oriente, inspirados em heroínas bíblicas que exemplificavam virtudes como caridade, verdade e bondade amorosa. Charlotte faleceu em 14 de agosto de 1893, em La Grange, Kentucky aos 74 anos.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

FIND A GRAVE. Charlotte Mendenhall Morris (1818-1893). Disponível em: https://pt.findagrave.com/memorial/58546261/charlotte-morris?utm_source=chatgpt.com. Acesso em 27 set. 2025.

MACOY, Robert. Adoptive rite and ritual of the Order of the Eastern Star. New York: Masonic Publishing, 1876.

MORRIS, Rob. História da Ordem da Estrela do Oriente. Disponível em: https://easternstar.org/about/history/?utm_source=chatgpt.com. Acesso em 27 set. 2025.

ORDER OF THE EASTERN STAR (OES). History of the Order of Eastern Star. Disponível em: https://www.easternstar.org. Acesso em 27 set. 2025.

ROUNDABOUT MADISON. History Center plans 20oth birthday celebration for Rob Morris. Disponível em: https://www.roundaboutmadison.com/InsidePages/ArchivedArticles/2018/0818RobMorris.html?utm_source=chatgpt.com. Acesso em 27 set. 2025.

WIKIPEDIA. Order of the Eastern Star. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Order_of)the_Eastern_Star. Acesso em 27 set. 2025.

15 setembro 2025

Marie-Adelaide Deraismes, quem foi?

Fonte: Imagem criada pelo Meta AI.

Pioneira da Maçonaria Mista

Marie-Adélaïde Deraismes (1828-1894), mais conhecida como Maria Deraismes, nasceu em 17 de agosto de 1828, em Paris, França, em uma família burguesa liberal, com profundas tendências ao livre-pensamento (LE DROIT HUMAIN, [s.d.]). Seus pais foram François Deraismes (pai) e Anne Geneviève Deraismies (mãe). Eles eram pessoas abastadas da elite burguesa liberal, com interesses culturais, filosóficos e intelectuais elevados. Seu pai, François Deraismes, era descrito como alguém "muito dedicado à cultura" e conhecedor profundo de Voltaire, o que indica que tinha meios e educação para atividades intelectuais. Anne (sua mãe) foi dona de casa. Desde jovem, Maria Deraismes recebeu uma educação erudita no ambiente doméstico: aprendeu latim e grego, estudou filósofos iluministas, interessou-se pelas religiões orientais e pelos textos dos filósofos modernos (WIKIPÉDIA, 2023).

Transformando Tradição em Modernidade

Desde seus primeiros anos de atuação intelectual, Deraismes envolveu-se com a causa dos direitos das mulheres, com especial atenção para a igualdade legal, o acesso à educação e a liberdade política (OPENEDITION JOURNALS, 2011).

O evento mais simbólico em sua trajetória de vida ocorreu em 14 de janeiro de 1882 (com 53 anos), quando foi iniciada na Loja Les Libres Penseurs, em Le Pecq, uma pequena localidade próxima a Paris. Essa iniciação a marcou como a primeira mulher a participar oficialmente de uma loja maçônica masculina, rompendo com normas tradicionais da maçonaria daquele tempo (WIKIPÉDIA, 2023; LE DROIT HUMAIN, [s.d.]).

Após essa iniciação, a loja sofreu repercussões: foi suspensa pela Grande Loja Simbólica Escocesa da França, em virtude de regras que não admitiam mulheres. A suspensão, entretanto, durou apenas alguns meses, após os membros da loja omitirem o nome de Deraismes das listas de filiação para reintegração (WIKIPÉDIA, 2023).

Onze anos depois, em 4 de abril de 1893, Maria Deraismes e Georges Martin fundaram em Paris a primeira loja maçônica mista chamada Le Droit Humain (ou Ordem Maçônica Mista Internacional “Le Droit Humain”), na qual homens e mulheres teriam iguais direitos e deveres, algo inovador para seu tempo (WIKIPÉDIA, 2023).

Além de maçônica e feminista, Deraismes consolidou-se como oradora e escritora. Participou da fundação de associações feministas, como L’Association pour le droit des femmes em 1869, além de manter estreito diálogo com o movimento republicano, anticlerical e de livre-pensamento (OPENEDITION JOURNALS, 2011).

Maria Deraismes faleceu em 6 de fevereiro de 1894 (com 66 anos), em Paris, deixando como legado não apenas textos e discursos, mas também instituições e práticas que afirmavam a igualdade de gênero, especialmente no âmbito maçônico e dos direitos civis das mulheres (LE DROIT HUMAIN, [s.d.]).

Sua foto mais divulgada é a que está em preto e branco. No entanto, pedimos ao ChatGPT para criar uma foto da Maria Deraismes mais jovem usando como base essa foto.

Referências Bibliográficas

DERAISMES, Maria. Ève dans l’humanité. Angoulême: Éditions Abeille et Castor, 1868/2008.

LE DROIT HUMAIN Brasil. Biografia: Maria Deraismes. Disponível em: https://www.ledroithumainbrasil.com.br. Acesso em 14 set. 2025.

OPENEDITION JOURNALS. Maria Deraismes (1828-1894). Revue d’histoire du XIXe siècle, 2011. Disponível em: https://journals.openedition.org/rh19/3536. Acesso em 14 set. 2025..

WIKIPÉDIA. Maria Deraismes. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: https://fr.wikipedia.org/wiki/Maria_Deraismes. Acesso em 14 set. 2025.

Sandra Cristina Pedri

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