Mostrando postagens com marcador maçonaria mista. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador maçonaria mista. Mostrar todas as postagens

03 novembro 2025

O que Sócrates Pode nos Ensinar?

Reflexão, Liberdade e Busca Pela Verdade

Sócrates. Meta AI.

"A vida que não é examinada não vale a pena ser vivida" — Sócrates, em A Apologia.

A Maçonaria é, antes de tudo, uma jornada de transformação ética, intelectual e espiritual. E poucos personagens da história da filosofia encarnam tão bem esses ideais quanto Sócrates. Em A Apologia de Sócrates, escrita por Platão, encontramos não apenas a defesa de um homem injustamente acusado, mas um verdadeiro tratado sobre coragem moral, liberdade de pensamento e compromisso com a verdade — valores que ressoam profundamente com a essência da Maçonaria. Por isso, A Apologia de Sócrates é uma das primeiras leituras recomendadas às Aprendizes, que são convidadas a refletir sobre como aplicar os ensinamentos socráticos em suas próprias vidas.

Sócrates foi condenado à morte por "corromper a juventude" e "não acreditar nos deuses da cidade". Na verdade, seu "crime" foi pensar livremente e incentivar outros a fazerem o mesmo. Na Maçonaria, também estimulamos as mulheres a pensarem livremente, a se conhecerem por meio de estudos, leituras e questionamentos. Encorajamos a rejeição de verdades prontas, promovendo a investigação, reflexão e construção de um entendimento próprio. Assim como Sócrates não recuou diante da injustiça, nós também não devemos recuar em nossa busca pela verdade — mesmo que ela nos confronte ou nos cause dor. 

Temos o costume de acreditar nas pessoas mais próximas, mas é preciso duvidar para encontrar a verdade. É preciso coragem para duvidar dos outros e até de nós mesmas, das nossas crenças mais arraigadas, pois aquilo que entendemos como real pode ser apenas uma imagem distorcida da realidade — uma visão filtrada pelas lentes que estamos acostumadas a usar. Lentes invisíveis, mas poderosas, que moldam nossos comportamentos, emoções e reações.

Quando tiramos a lente, matamos o nosso conhecido "eu interior". Às vezes, é necessário deixar morrer quem fomos, para que possamos renascer como quem realmente somos. Esse processo exige entrega, humildade e força. Mas é nele que reside a verdadeira liberdade: a liberdade de ser, de pensar, de sentir — sem amarras, sem ilusões. Como disse Sócrates: "Não é por temor da morte que um homem deve agir, mas por temor de cometer injustiça." (PLATÃO, 2001, p. 45). E há uma forma de injustiça muito danosa: aquela que praticamos contra nós mesmas, quando negamos nossa essência ou silenciamos nossa voz interior.

A máxima socrática "Conhece-te a ti mesmo" é um dos pilares da iniciação maçônica. Sócrates não se dizia sábio — pelo contrário, afirmava que sua sabedoria consistia em reconhecer sua ignorância. Esse é o ponto de partida para a verdadeira sabedoria: "Sei que nada sei" (PLATÃO, 2001, p. 38). Incentivamos nossas irmãs a buscar o conhecimento continuamente, a questionar suas crenças, a explorar outras formas de pensar, a ver o outro lado da moeda, a conhecer outras culturas e períodos históricos. Esse mergulho no "todo" amplia a consciência e fortalece a identidade.

Toda iniciação é um convite à introspecção — não apenas da irmã que passa pelo ritual, mas de todas as que dele participam, com carinho e dedicação, trabalhando nos preparativos e nos bastidores. Ao participarmos de uma Cerimônia Magna ou de uma Oficina, temos a chance de olhar para dentro de nós mesmas. E em cada símbolo, encontramos uma chave capaz de abrir as portas do nosso próprio templo interior.

Sócrates acreditava que a liberdade de pensar era um dever moral. Ele não impunha verdades — fazia perguntas. E é justamente isso que propomos: nada de dogmas, mas reflexão; nada de respostas prontas, mas caminhos de busca. "Sou como um tábano (mutuca) que desperta o cavalo adormecido da cidade" (PLATÃO, 2001, p. 29).

Ele via sua vida como uma missão. Não buscava glória, riqueza ou poder. Seu propósito era servir à verdade e ao bem comum. De forma semelhante, a Maçonaria tem como missão promover o desenvolvimento de mulheres livres e de bons costumes, conscientes de que o verdadeiro valor não está no cargo que ocupam, mas na forma como exercem a liderança — com ética, humildade e compromisso com o bem comum. Mulheres que não buscam prestígio em cargos, nem se deixam inebriar pelo poder que lhes é temporariamente confiado. Queremos que estejam conscientes de que não são o cargo, mas estão no cargo — e, por isso, devem estar comprometidas com a construção de uma sociedade mais fraterna. Não é o título, a comenda ou a posição que importam, mas sim o exemplo que é dado, dentro e fora dos templos.

Por ser a Maçonaria um espaço de crescimento, estudo, liberdade e ação, ela agrega mulheres livres e de bons costumes que, como Sócrates, não têm medo de pensar, de questionar e de transformar, pois ela é feita de irmandade, luz e coragem

Se desejamos descobrir algo em nós mesmas e no mundo, a Maçonaria é um caminho e, como Sócrates, podemos começar com uma simples pergunta: Quem somos?

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

PLATÃO. Apologia de Sócrates. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2001.

REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga: vol. I – Dos Pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Loyola, 2003.

28 outubro 2025

Helena Petrovna Blavatsky

Legado para a Maçonaria

Helena Blavatsky. Copilot.

Helena Petrovna Blavatsky nasceu em 12 de agosto de 1831, em Ekaterinoslav, no Império Russo (atualmente Dnipro, Ucrânia). Era filha do coronel Pytor Alekseyevich Gan, nobre russo de origem alemã, e de Elene Andreyevna Fadeyeva, escritora conhecida pelo pseudônimo Zeneida R-va. Após a morte da mãe, em 6 de julho de 1842, na cidade de Odessa, então parte do Império Russo, Helena foi criada pelos avós maternos em Saratov, cidade localizada na Rússia Europeia, às margens do rio Volta. Ali teve acesso à rica biblioteca aristocrática de seu bisavô, o príncipe Pavel Dolgorukov, iniciado na Maçonaria no século XVIII, o que influenciou profundamente sua formação esotérica.

Recebeu edcuação informal por meio de governantas, aprendendo piano, dança e línguas. Autodidata, desde jovem dedicou-se ao estudo do ocultismo, alquimia e magia, lendo autores como Parecelso, Agrippa e Khunrath. A influência intelectual de sua avó, Helena Pavlovna Dolgorukova, botânica e poliglota, também foi determinante para sua formação.

Casou-se aos 17 anos com Nikifor Vassilievich Blavatsky, vice-governador da província de Erevan. O casamento não foi consumado, e ela fugiu durante a lua de mel. Posteriormente, teve uma união com Michael Betanelly, mas não há registros de filhos.

A partir de 1849, iniciou uma série de viagens que a levaram ao Egito, Índia, Tibete, Europa e Estados Unidos. Em 1875, fundou com Henry Steel Olcott a Sociedade Teosófica, em Nova York. Publicou obras influentes como Isis Sem Véu (1877) e A Doutrina Secreta (1888) que se tornaram pilares do esoterismo moderno.

Annie Besant, iniciada na Maçonaria Mista Le Droit Humain foi sua discípula e sucessora na Sociedade Teosófica. Embora Helena não tenha sido iniciada em nenhuma Loja Maçônica regular — seja masculina, feminina ou mista — foi reconhecida por John Yarker, maçom britânico envolvido com ritos esotéricos, como detentora honorífica de graus simbólicos do Rito de Adoção, sistema ritualístico utilizado por Lojas Femininas na França desde o século XVIII. Entre os títulos que lhe foram atribuídos estão: Mestra Perfeita; Cavaleira da Rosa-Cruz; e Princesa Coroada do Rito de Adoção. Esse reconhecimento era mais simbólico do que funcional, representando respeito por sua contribuição ao pensamento esotérico e à integração de tradições iniciáticas.

Esse reconhecimento não decorreu de iniciação formal em Loja, mas sim de sua atuação nos círculos ocultistas e do profundo conhecimento que demonstrava sobre os rituais e simbolismos maçônicos. Blavatsky estudou obras de maçons como Jean-Marie Ragon, teve contato direto com maçons europeus e orientais, e influenciou discípulos como Charles Leadbeater e Annie Besant — esta última iniciada na Maçonaria Mista Le Droit Humain e sua sucessora na Sociedade Teosófica.

O legado de Blavatsky para as mulheres está na forma como articulou a ideia de uma fraternidade universal, a valorização dos mistérios antigos e a busca pela sabedoria divina — pilares que dialogam diretamente com os ideais Maçônicos. Defendeu o pensamento independente, a libertação das mulheres do dogmatismo religioso e abriu espaço para a atuação feminina em ambientes intelectuais e espirituais. Embora não tenha sido maçom no sentido institucional, foi uma ponte entre o esoterismo oriental e o simbolismo ocidental, inspirando muitos maçons a aprofundarem o aspecto espiritual da Ordem.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

CRANSTON, Sylvia. Helena Blavatsky: a vida e a influência extraordinária da fundadora do movimento teosófico moderno. Brasília: Editora Teosófica, 1992.

EMILIÃO, Sergio. Madame Blavatsky e a Maçonaria. Disponível em: https://masonic.com.br/videos/blavatsky.pdf. Acesso em: 28 out. 2025.

INSTITUTO DE PESQUISAS PROJECIOLÓGICAS E BIOENERGÉTICAS – IPPB. Blavatsky e a Sociedade Teosófica. Disponível em: https://www.ippb.org.br/textos/especiais/mythos-editora/blavatsky-e-a-sociedade-teosofica. Acesso em: 28 out. 2025.

CÍRCULO DE ESTUDOS MAÇÔNICOS DO BRASIL. Helena Blavatsky e a Maçonaria. Disponível em: https://estudosmaconicos.com.br/helena-blavatsky-maconaria/. Acesso em: 28 out. 2025.

WIKIPÉDIA. Helena Blavatsky. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Helena_Blavatsky. Acesso em: 28 out. 2025.

18 outubro 2025

Marie-Henriette Heiniken

A Combatente Esquecida da Revolução Francesa

Marie-Henriette. Meta AI.

Marie-Henriette Heiniken nasceu em BerlimPrússia, no século XVIII em data desconhecida. Não há registros disponíveis sobre os nomes de seus pais. Apaixonou-se pelo general Charles Antoine Dominique Lauthier-Xaintrailles com quem manteve uma relação amorosa. Segundo o artigo de Guida (2018), apesar de ter adotado o nome “Madame de Xaintrailles” como sinal de esperança de casamento, a união nunca se concretizou. O casal não teve filhos.

Para acompanhar o general Xaintrailles, Marie-Henriette disfarçou-se de homem e serviu nas Guerras Revolucionárias Francesas como sua ajudante de campo. Demonstrou coragem e habilidade militar em diversas batalhas, destacando-se na recuperação de um parque de artilharia dos prussianos, no salvamento de batalhões franceses em situações críticas e na travessia a nado de um rio para levar informações ao quartel-general, salvando Armée du Rhin (CRUYPLANTS; AERTS, 1912)

Foi afastada do exército por volta de 1793, durante uma purga (exclusão) de elementos femininos das forças armadas francesas. Essa exclusão das mulheres refletia a tentativa de reafirmar normas patriarcais em meio à instabilidade política e social da época.

Em 1795, Marie-Henriette Heiniken retornou ao serviço militar, possivelmente com o apoio de Lazare Carnot, figura influente no governo revolucionário. Sua reintegração pode ter sido motivada por sua comprovada competência militar e pela necessidade de quadros experientes em meio às guerras revolucionárias.

Lazare Nicolas Marguerite Carnot (1753-1823), conhecido como o "Organizador da Vitória", foi engenheiro militar, matemático e político, membro do Comitê de Salvação Pública, criador da levée en masse, diretor do Diretório (1795-1797) e ministro da Guerra em 1800.

Com o término de seu relacionamento com Xaintrailles — que a abandonou em 1798, após anos de convivência e batalhas compartilhadas — Henriette foi enviada ao Egito em missão confidencial por Napoleão Bonaparte. Atuando como ajudante de campo do general Jacques-François Menou, participou da Batalha de Aboukir (1799), um confronto terrestre contra tropas otomanas que haviam desembarcado na costa egípcia. Durante os combates, sofreu uma grave queda de cavalo, o que a levou a se afastar do serviço ativo em 1801 (WHEELWRIGHT, 2020).

Jacques-François Menou, conhecido como Abdallah de Menou após sua conversão ao Islã, foi um importante militar e político francês, deputado da nobreza nos Estados Gerais, presidente da Assembleia Nacional Constituinte em 1790 e comandante na campanha do Egito.

Por volta de 1800, Marie-Henriette Heiniken foi iniciada na Maçonaria na Loja Les Frères Artistes, em Paris, presidida por Jean-Guillaume-Augustin Cuvelier. A loja planejava uma cerimônia de Adoção, voltada às mulheres, mas ao descobrirem sua verdadeira identidade como guerreira combatente, os irmãos decidiram iniciá-la na Maçonaria regular masculina, conferindo-lhe o grau de Aprendiz (GUIDA, 2018).

Sua resposta à proposta de se tornar maçom foi memorável:

“Fui um homem para minha pátria, serei um homem para meus Irmãos.” (GUIDA, 2018)

Apesar de sua bravura, após a queda de Napoleão, perdeu a pensão que recebia do Império Napoleônico — por ter sido antiga companheira do general Xaintrailles —, vindo a morrer em condições precárias (GUIDA, 2018; WIKIPEDIA, 2025). 

Sobre a Pensão Recebida

Segundo a Wikipedia francesa (2025), Marie-Henriette Heiniken desejava receber uma pensão como ex-combatente, mas o reconhecimento oficial veio apenas por sua ligação com o general Xaintrailles, e não por mérito próprio. Morin (2010) relata que Marie-Henriette Heiniken escreveu ao próprio Napoleão Bonaparte, indignada por lhe recusarem a pensão como ex-combatente, alegando que o motivo da recusa era o fato de ela ser mulher e declarou:

"Não fiz a guerra como mulher, fiz a guerra como um bravo." (MORIN, 2010, p. 36). 

Ela também citou na carta que participou de sete campanhas do Reno como ajudante de campo, e que o que importava era o cumprimento do dever, não o sexo de quem o desempenhava.

A pensão foi suspensa em 1814, após a queda de Napoleão Bonaparte e a restauração da monarquia dos Bourbons, com Luís XVIII no trono. Com a mudança de regime, muitos benefícios concedidos pelo Império foram revogados, especialmente os que não estavam formalmente registrados ou que envolviam figuras consideradas controversas, como as mulheres combatentes (WIKIPEDIA, 2025). Assim, após o fim de seu relacionamento com Xaintrailles, que a abandonou, e com o encerramento de sua carreira militar, Henriette enfrentou severas dificuldades sociais e financeiras, vivendo seus últimos anos na pobreza.

Marie-Henriette Heiniken representa um símbolo de coragem, transgressão de normas de gênero e pioneirismo feminino tanto no campo militar quanto na maçonaria. Sua história é frequentemente citada em enciclopédias maçônicas e estudos sobre mulheres guerreiras e maçons.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

CRUYPLANTS, Eugène; AERTS, Winand. Dumouriez dans les ci-devant Pays-Bas autrichiens. Bruxelles: A. de Boeck, 1912.

CRUYPLANTS, Eugène; AERTS, Winand. La Belgique sous la domination française (1792–1815): Dumouriez dans les ci-devant Pays-Bas autrichiens. Paris: Librairie générale des sciences, arts et lettres, 1912. Disponível em: https://archive.org/details/AertsCruyplants1912Bnf34083962b. Acesso em: 17 out. 2025.

GUIDA, Francesco. Una storia di Amore e Massoneria Francesco Guida - Blog, 21 nov, 2018. Disponível em: https://www.francescoguida.org/2018/11/21/una-storia-di-amore-e-massoneria. Acesso em: 17 out. 2025.

MORIN, Tania Machado. As marselhesas no front. Revista de História da Biblioteca Nacional, Ano 6, Nº 63, dezembro 2010, p. 36.

MORIN, Jean-Frédéric. The Two-Level Game of Transnational Network: The Case of the Access to Medicines CampaignInternational Interactions, v. 36, n. 4, p. 309–334, 2010. Disponível em:
https://www.academia.edu/1973122/Morin_J_F_2010_The_Two_Level_Game_of_Transnational_Network_The_Case_of_the_Access_to_Medicines_Campaign_International_Interactions_vol_36_4_p_309_334. Acesso em: 17 out. 2025.

WHEELWRIGHT, Julie. Sisters in Arms: Female warriors from antiquity to the new millennium. Londres: Bloomsbury Publishing, 2020. p. 192-194.

WIKIPÉDIA. Marie-Henriette Heiniken. Disponível em: https://fr.wikipedia.org/wiki/Marie-Henriette_Heiniken. Acesso em: 17 out. 2025.

      14 outubro 2025

      Clémence Royer - Filiada a Société d'Anthropologie

       Da tradução de Darwin à luta feminista

      Clémence Royer (Clémence-Auguste Royer) nasceu em Nantes (França) em 21 de abril de 1830. Filha única de Augustin-René Royer, oficial militar realista, e Joséphine-Gabrielle Audouard, costureira, Royer foi educada em casa e, aos 10 anos, enviada ao convento do Sacré-Coeur em Le Mans. No entanto, abandonou a fé católica na adolescência e continuou sua educação de forma autodidata, desenvolvendo interesse por filosofia, ciência e feminismo.

      Clémence Royer. ChatGPT.

      Em 1856 (com cerca de 26 anos de idade) estabeleceu-se em Lausanne, Suíça, onde viveu com recursos próprios e dedicou-se ao estudo de filosofia, economia e ciência. Em 1862, traduziu para o francês a obra A Origem das Espécies de Charles Darwin, incluindo uma introdução de 60 páginas que refletia suas próprias ideias evolucionistas, influenciadas por Jean-Baptiste Lamarck (Scientific Women, s.d.). 

      Lamarck foi um naturalista e biólogo francês que propôs uma teoria coerente da evolução das espécies, antes de Darwin, desenvolvendo a ideia de herança de caracteres adquiridos. Para ele os organismos poderiam transmitir às próximas gerações características adquiridas durante sua vida. Ele é considerado um precursor do evolucionismo, embora sua teoria não tenha resistido à seleção natural darwiniana, especialmente porque a genética moderna mostrou que caracteres adquiridos não são transmitidos hereditariamente.

      Essa tradução feita por Clémence Royer foi controversa na época, pois ao incorporar suas próprias interpretações nas páginas iniciais da tradução que fez, acabou gerando críticas tanto de Darwin quanto de outros cientistas.

      Em 1865, Royer iniciou uma união com Pascal Duprat, intelectual francês exilado, com quem teve um filho. Apesar de seu envolvimento intelectual e político, detalhes sobre sua vida familiar são escassos.

      Mais tarde Royer participou ativamente do movimento feminista francês (republicano, laico e racionalista) da Terceira República. Nessa época sua atuação foi mais filosófica e intelectual, defendendo que a ciência e a instrução feminina seriam os instrumentos de emancipação. Sendo assim, ela defendia as mesmas ideias de Maria Deraismes.

      Em 1878, esteve presente no primeiro Congresso Internacional sobre os Direitos da Mulher. No Congresso de 1889 foi convidada por Maria Deraismes para presidir a seção histórica. Em seu discurso argumentou que a introdução do sufrágio feminino (direito das mulheres de votar e serem votadas em eleições políticas) provavelmente levaria a um aumento do poder da Igreja. Sob a liderança de Hubertine Auclert, Maria Deraismes e Clémence Royer passaram a lutar pelo direito ao voto feminino, focando seus esforços na educação, nos direitos civis e na crítica ao poder da Igreja sobre as mulheres. Defendiam a necessidade de uma educação laica que favoreceria o livre-pensamento, pois temiam que mulheres pouco instruídas votassem de forma conservadora, fortalecendo a Igreja Católica.

      Clémence Royer (filósofa, economista, tradutora e feminista francesa) faleceu em 6 de fevereiro de 1902, em Neuilly-sur-Seine, França, com 71 anos de idade.

      Relação com a Maçonaria

      Clémence esteve ligada a círculos de livre-pensamento e à Maçonaria por meio da Société d'Anthropologie de Paris, instituição maçônica de prestígio ligada à ciência e ao pensamento filosófico tendo sido a primeira mulher admitida nesta Sociedade. Embora não haja registros específicos sobre sua iniciação em uma loja maçônica tradicional, sua afiliação a esta instituição indica sua participação em círculos maçônicos e intelectuais (Scientific Women, s.d.).

      Royer é lembrada como uma pioneira do feminismo e da ciência no século XIX. Sua tradução de Darwin introduziu o darwinismo na França e influenciou o pensamento científico da época. Além disso, sua participação ativa no movimento feminista e sua afiliação a Société d'Anthropologie (instituição maçônica) destacam seu papel na promoção da igualdade de gênero e na disseminação do livre-pensamento (Wikipedia, 2025; Scientific Women, s.d.).

      Sandra Cristina Pedri

      Referências Bibliográficas

      ROYER, Clémence. A Origem das Espécies de Charles Darwin. Tradução francesa com introdução de Clémence Royer. Paris, 1862.

      SCIENTIFIC WOMEN. Clémence Royer. Disponível em: https://scientificwomen.net/women/royer-clemence-85?utm_source=chatgpt.com. Acesso em 27 set. 2025.

      WIKIPEDIA. Clémence Royer. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cl%C3%A9mence_Royer. Acesso em 27 set. 2025.

      09 outubro 2025

      Georges Martin

      Rompendo Barreiras ao Lado de Maria Deraismes

      As mulheres contaram com a contribuição e o apoio de diversos homens maçons que enfrentaram desafios imensos para incluí-las nas Lojas Maçônicas. Começamos apresentando Arthur St. Leger, pai de Elizabeth Aldworth e, agora, apresentaremos Georges Martin.

      Georges Martin. Copilot.
      Georges Martin (1844–1916) foi um médico, político e maçom francês que desempenhou papel fundamental na fundação da maçonaria mista ao lado de Maria Deraismes. Nascido em 9 de maio de 1844 na Rue Mouffetard, em Paris, era filho de Marie Hippolyte Joseph Martin, farmacêutico, e de Anne Françoise Caroline Faffe. Estudou com os jesuítas e obteve os títulos de bacharel em Letras (1861) e Ciências (1863). Iniciou seus estudos de medicina em Paris, mas interrompeu a formação para se juntar às tropas de Giuseppe Garibaldi na campanha pela unificação italiana, em 1866. Posteriormente, retomou os estudos em Montpellier, onde obteve o título de Doutor em Medicina em 1870.

      Martin foi um republicano convicto, defensor do laicismo e da emancipação feminina. Atuou como vereador de Paris entre 1874 e 1892, senador da Terceira República Francesa pelo departamento do Sena de 1885 a 1890, e conselheiro geral em Lamotte-Beuvron de 1897 até sua morte em 1916. Durante sua trajetória política, lutou por causas sociais como a assistência às crianças, a reabertura dos escritórios de caridade e a criação de uma escola pública, laica e gratuita. Em 1884, foi eleito presidente do Conselho Geral do Sena, e sua atuação foi marcada por propostas de reformas sociais e sanitárias.

      Na Maçonaria, Georges Martin foi iniciado em 21 de março de 1879 na loja Union et Bienfaisance, ligada ao Rito Escocês Antigo e Aceito. Convencido de que a maçonaria não poderia ser verdadeiramente construtiva sem a presença das mulheres, trabalhou intensamente para conquistar a confiança das lojas masculinas e promover a iniciação feminina. Em 1882, participou da histórica iniciação de Maria Deraismes na loja Les Libres Penseurs, em Le Pecq — um ato revolucionário que contrariava as normas da maçonaria tradicional.

      Essa parceria resultou, em 4 de abril de 1893, na fundação da primeira Loja Maçônica Mista, a Grande Loja Simbólica Escocesa Le Droit Humain, base da atual Ordem Maçônica Mista Internacional Le Droit Humain. Georges Martin não desejava ocupar cargos de liderança, mas foi um orador notável e, após o falecimento de Maria Deraismes em 1894, organizou e expandiu a Ordem. Seu entusiasmo e dedicação levaram à fundação de lojas na Suíça, Inglaterra e, posteriormente, em mais de 70 países.

      “Nunca entendi por que minha mãe, a quem devo minha existência, que me criou, que me educou, a quem devo tudo o que sou, que, quando alcancei minha maioridade civil e política, já tinha vinte e um anos a mais de experiência do que eu, deveria ser considerada inferior, e eu superior, apenas por ser homem.” (Georges Martin)

      Georges Martin faleceu em 1º de outubro de 1916, em um pequeno apartamento na sede da Ordem, na Rue Jules Breton nº 5 (Paris), deixando um legado de inclusão, justiça social e fraternidade que continua inspirando a maçonaria mista até os dias atuais.

      Sandra Cristina Pedri

      Referências Bibliográficas

      LE DROIT HUMAIN BRASIL. Biografia Georges Martin. Disponível em: https://www.ledroithumainbrasil.com.br/c%C3%B3pia-biografia-maria-deraimes. Acesso em: 05 out. 2025.

      04 outubro 2025

      A Ordem da Estrela do Oriente

      Uma Ordem Fraternal Mista e Robert Morris

      Antes da fundação da primeira Loja Maçônica Mista, Le Droit Humain (Ordem Maçônica Mista Internacional), criada por Maria Deraismes e Georges Martin em 4 de abril de 1893, surgiu nos Estados Unidos a Ordem da Estrela do Oriente (Order of the Eastern Star – OES), uma das mais antigas e importantes organizações paramaçônicas do mundo, aberta à participação de homens e mulheres.

      Robert Morris. Copilot.
      Dividida em três Eras, conforme o Grande Capítulo Geral, a Primeira Era teve início em 1850, com a criação da Ordem por Robert Morris (1818–1888). Maçom, educador e poeta, Morris buscava oferecer às mulheres ligadas à Maçonaria uma estrutura fraternal própria. Acreditava que a inclusão feminina no espírito maçônico fortaleceria os valores familiares e ampliaria o alcance social da instituição (Macoy, 1876, p. 12).

      Sua esposa, Charlotte Morris, e sua filha, Harriett Morris, estiveram entre as primeiras mulheres a participar ativamente dos trabalhos iniciais, contribuindo para a formulação ritualística e incentivando a participação feminina.

      Em 1866, Robert Morris confiou a Robert Macoy (1816-1895), também maçom norte-americano, a tarefa de organizar e estruturar definitivamente os rituais e os manuais da Ordem. A partir desse momento, a OES entrou na Segunda Era que se estendeu até 1876. Macoy compilou e publicou um Ritual, utilizando o Rosário do Dr. Morris como guia. Este foi o início da organização dos Capítulos, e a Ordem passou a ganhar forma institucional, expandindo-se pelos Estados Unidos e internacionalmente (Macoy, 1876, p. 36). O primeiro Grande Capítulo da Ordem foi organizado em Michigan, em 1867.

      Os Capítulos, equivalentes às Lojas Maçônicas, possuem identidade própria e são dirigidos por uma liderança dupla:

      • Worthy Matron (Digna Matriarca - DM): cargo feminino de maior autoridade.
      • Worthy Patron (Digno Patriarca - DP): cargo masculino, ocupado por um Mestre Maçom.
      Ordem da Estrela do Oriente.

      Essa estrutura reflete a natureza mista da Ordem, com protagonismo feminino desde sua origem. O principal símbolo é a ESTRELA DE CINCO PONTAS, cujas cores e pontas representam cinco heroínas bíblicas:

      1. Adah (azul) - Símbolo da fidelidade;
      2. Ruth (amarelo) - Símbolo da constância;
      3. Esther (branco) - Símbolo da lealdade;
      4. Martha (verde) - Símbolo da fé;
      5. Electa (vermelho) - Símbolo do amor.
      Essas figuras femininas bíblicas foram escolhidas como modelos de virtude e de conduta, tornando-se centrais no ritual e na identidade da Ordem (OES, 2023).

      Finalidade e Atuação

      A Ordem da Estrela do Oriente tem como objetivos principais:

      • Praticar a caridade (apoio a hospitais, bolsas de estudo, ações sociais);
      • Vivenciar rituais simbólicos que reforçam virtudes morais e espirituais;
      • Integrar a família ao ideal maçônico, fortalecendo o papel das mulheres na comunidade maçônica.
      Assim, a Ordem tornou-se uma instituição promotora da solidariedade, valores éticos e formação fraternal, contribuindo para ampliar a presença das mulheres no ambiente maçônico de forma organizada e reconhecida.

      Expansão e Relevância Histórica

      Após sua formalização em 1866, a Ordem da Estrela do Oriente se espalhou rapidamente pelos Estados Unidos. Em 1876, foi criado o Grande Capítulo Geral, responsável por unificar os Capítulos existentes e padronizar a ritualística, marcando o início da chamada Terceira Era, que se estende até os dias atuais. A partir desse momento, a Ordem começou a expandir-se internacionalmente, alcançando diversos países ao longo do século XX. Atualmente, está presente em mais de 20 nações (inclusive no Brasil), reunindo cerca de 500 mil membros ativos e sendo considerada a maior organização paramaçônica internacional aberta à participação feminina — antecedendo outras formas de inserção das mulheres na Maçonaria, como a Maçonaria Mista (Le Droit Humain) e a Maçonaria exclusivamente Feminina.

      A criação da Ordem, em 1850, marcou um ponto de inflexão na história da Maçonaria, ao permitir que mulheres participassem de forma institucionalizada do universo Maçônico, ainda que em uma Ordem auxiliar e própria. Desde suas primeiras líderes femininas, como Charlotte Morris e Harriett Morris, até sua consolidação internacional, a OES se destaca como espaço de protagonismo feminino e promoção de valores de fraternidade, caridade e moralidade, mantendo até hoje grande relevância no cenário maçônico mundial.

      Dr. Robert Morris

      Robert Morris nasceu em 31 de agosto de 1818, perto de Boston, Massachusetts (EUA), embora algumas fontes indiquem Nova York como local de nascimento. Foi advogado, professor universitário, Grão-Mestre do Estado de Kentucky, poeta proeminente e reverendo da Igreja Presbiteriana. Filho de Robert Peckham (1789-1825) e Charlotte Lavinia Shaw Peckham (1786-1837), era o quarto filho dos cinco filhos do casal. Após a separação dos pais, sua mãe mudou-se para Taunton, Massachusetts, levando a filha bebê, Charlotte, enquanto Robert e seu irmão John permaneceram em Nova York até o falecimento do pai em 1825. Após essa perda, quando Robert tinha sete anos e John, aproximadamente nove, ambos foram morar com a mãe.

      Aos 18 anos, Robert Peckham (seu nome de batismo) deixou a família para ir para o Oeste. Frequentou a Academia de Bristol, em Taunton e, durante esse período, adotou o sobrenome Morris. Não se abe ao certo por que ele fez essa escolha. Uma hipótese é que tenha sido em homenagem a um tutor ou figura paterna que o acolheu, possivelmente John Morris, como algumas fontes indicam. Lecionou na Academia DeSoto, no noroeste do Mississippi, onde conheceu Charlotte Mendenhall, com quem se casou.

      Charlotte Mendenhall Morris: Pioneira da Ordem da Estrela do Oriente

      Charlotte Mendenhall Morris nasceu em Shelby, Tennessee (EUA), filha de Samuel e Sarah Mendenhall. Casou-se com Dr. Robert Morris em 26 de maio de 1841, com quem teve nove filhos, dos quais sete sobreviveram até a idade adulta. Em 5 de março de 1846, Dr. Morris foi iniciado na Loja Gathright, tornando-se Mestre Maçom em Oxford, Mississipi, e servindo como Grão-Mestre da Grande Loja de Kentucky entre 1858 a 1859. Faleceu em 31 de julho de 1888, sendo sepultado em La Grange, Kentucky.

      Em 1850, durante um período de convalescença após um acidente, Dr. Morris e Charlotte desenvolveram os graus iniciáticos da Ordem da Estrela do Oriente, inspirados em heroínas bíblicas que exemplificavam virtudes como caridade, verdade e bondade amorosa. Charlotte faleceu em 14 de agosto de 1893, em La Grange, Kentucky aos 74 anos.

      Sandra Cristina Pedri

      Referências Bibliográficas

      FIND A GRAVE. Charlotte Mendenhall Morris (1818-1893). Disponível em: https://pt.findagrave.com/memorial/58546261/charlotte-morris?utm_source=chatgpt.com. Acesso em 27 set. 2025.

      MACOY, Robert. Adoptive rite and ritual of the Order of the Eastern Star. New York: Masonic Publishing, 1876.

      MORRIS, Rob. História da Ordem da Estrela do Oriente. Disponível em: https://easternstar.org/about/history/?utm_source=chatgpt.com. Acesso em 27 set. 2025.

      ORDER OF THE EASTERN STAR (OES). History of the Order of Eastern Star. Disponível em: https://www.easternstar.org. Acesso em 27 set. 2025.

      ROUNDABOUT MADISON. History Center plans 20oth birthday celebration for Rob Morris. Disponível em: https://www.roundaboutmadison.com/InsidePages/ArchivedArticles/2018/0818RobMorris.html?utm_source=chatgpt.com. Acesso em 27 set. 2025.

      WIKIPEDIA. Order of the Eastern Star. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Order_of)the_Eastern_Star. Acesso em 27 set. 2025.

      30 setembro 2025

      Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa

      O Papel da Mulher e a Inclusão Iniciática na França - Século XVIII

      A história da participação feminina na Maçonaria é marcada por exclusões formais e resistências institucionais, mas também por iniciativas discretas e inovadoras que buscaram incluir mulheres em ambientes iniciáticos. Uma dessas iniciativas foi a criação da Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa, na França, durante o século XVIII. Esta organização paramaçônica permitia a participação feminina em rituais simbólicos semelhantes aos da Maçonaria, embora de forma secreta e restrita (DACAMINO, 2023).

      Imperatriz Josefina. Copilot.

      A Ordem surgiu em um contexto de efervescência filosófica e espiritual, marcado pelo Iluminismo e pela expansão dos ritos esotéricos na Europa. A França, em especial, tornou-se um centro de experimentação iniciática, com o surgimento das Lojas de Adoção, que permitiam a iniciação de mulheres sob supervisão masculina. A Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa foi uma derivação mais simbólica e ritualística desse movimento, com estrutura própria e forte influência rosacruciana (DACAMINO, 2023).

      Embora os registros sobre a fundação da Ordem sejam escassos, acredita-se que ela tenha sido criada entre 1740 e 1760, desaparecendo gradualmente após a Revolução Francesa, por volta do início do século XIX. A instabilidade política e a perseguição às sociedades secretas contribuíram para sua extinção silenciosa (DACAMINO, 2023).

      Entre os nomes femininos associados à Ordem, destacam-se figuras da aristocracia e da elite intelectual francesa. A Duquesa de Bourbon (Maria Teresa Luísa de Saboia-Carignano), por exemplo, foi iniciada entre 1773 e 1775 na Loja de Adoção Saint-Jean de La Candeur, em Paris, tornando-se a  primeira mulher a receber o título de Grã-Mestra das Lojas de Adoção. Ela presidiu a Loja até 1780, promovendo a criação de novas Lojas, incentivando a participação feminina e exercendo forte influência sobre a estrutura da Ordem das Ninfas da Rosa.

      Outro nome que podemos citar é a Imperatriz Josefina, esposa de Napoleão Bonaparte, que, embora não tenha sido iniciada formalmente, foi uma simpatizante ativa e defensora das práticas maçônicas femininas, contribuindo para sua preservação durante o Império Napoleônico. Atuou como Grã-Mestra honorária de Lojas de Adoção, contribuindo para sua preservação e retomada após o colapso revolucionário (DACAMINO, 2023; WIKIPÉDIA, 2023).

      A estrutura da Ordem dividia seus membros entre Cavaleiros (homens) e Ninfas (mulheres), com rituais que envolviam símbolos florais, mitológicos e alquímicos. O objetivo era cultivar virtudes como a pureza, a sabedoria e a fraternidade, por meio de cerimônias que evocavam o ideal rosacruciano de elevação espiritual. 

      Apesar de não ter sido reconhecida pelas potências maçônicas regulares, a Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa desempenhou um papel fundamental na história da inclusão feminina na maçonaria. Ela antecipou movimentos posteriores, como a maçonaria mista e a criação de ordens femininas autônomas, e deixou um legado simbólico que ainda inspira estudiosos e iniciadas.

      Estrutura Ritualística

      A Ordem operava com graus simbólicos e cerimônias que remetiam à tradição rosacruciana e Maçônica, mas com adaptações que permitiam a presença feminina. Os membros eram divididos entre Cavaleiros (homens) e Ninfas (mulheres), e os rituais envolviam símbolos florais, mitológicos e alquímicos.

      A participação das mulheres era vista como essencial para o equilíbrio espiritual da Ordem. Embora ainda supervisionadas por membros masculinos, as Ninfas da Rosa desempenhavam papéis ativos nos rituais e na administração interna da organização. Essa inclusão representava um avanço significativo em relação às restrições impostas pelas Constituições de Anderson (1723), que excluíam formalmente aas mulheres da Maçonaria regular.

      Relação com as Lojas de Adoção

      A Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa pode ser vista como precursora ou paralela às Lojas de Adoção. Ambas compartilhavam o ideal de educação moral e filosófica feminina, mas a Ordem tinha uma abordagem mais simbólica e menos institucionalizada.

      Não há registros oficiais precisos sobre sua extinção, mas acredita-se que tenha desaparecido gradualmente após a Revolução Francesa, por volta do início do século XIX, quando muitas estruturas maçônicas foram dissolvidas ou reformuladas. Embora tenha desaparecido com o tempo, a Ordem deixou um legado importante:

      • Inspirou outras estruturas femininas e mistas.
      • Contribuiu para o debate sobre o papel da mulher na Maçonaria.
      • Antecipou movimentos como o Le Droit Humain e a Maçonaria Mista Moderna.

      Conclusão

      A Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa representa um capítulo pouco conhecido, mas profundamente simbólico, da história da Maçonaria Feminina. Sua existência revela que, mesmo em tempos de exclusão formal, houve esforços concretos para incluir mulheres em espaços iniciáticos, reconhecendo seu valor espiritual e filosófico.

      Sandra Cristina Pedri

      Referências Bibliográficas

      DACAMINO. O papel da mulher na maçonaria: uma história de exclusão e inclusão. DaCamino Livros Maçônicos. Disponível em: https://dacamino.com.br/o-papel-da-mulher-na-maconaria-uma-historia-de-exclusao-e-inclusao. Acesso em: 29 set. 2025.

      FOLHA2. GONÇALVES, Nelson. A Maçonaria Feminina e Mista no Brasil e no mundo. Folha do Povo. Disponível em: https://www.folha2.com.br/2023/09/maconaria-feminina-no-brasil-e-no-mundo.html. Acesso em: 30 set. 2025.

      LE DROIT HUMAIN BRASIL. Sobre a Ordem Maçônica Mista Internacional Le Droit Humain. Disponível em: https://www.ledroithumainbrasil.com.br/about-1. Acesso em: 30 set. 2025.

      MACONARIA.NET. FIGUEIREDO, Luis de. Maçonaria – Le Droit Humain. Disponível em: https://www.maconaria.net/maconaria-le-droit-humain/. Acesso em: 30 set. 2025.

      SCIELO PORTUGAL. PIRES, Fátima; RUAH, Mery. Mulheres e Maçonaria. Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher, Lisboa, n. 34, 2015. Disponível em: https://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-68852015000200010. Acesso em: 30 set. 2025.

      WIKIPÉDIA. Mulheres e maçonaria. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mulheres_e_ma%C3%A7onaria. Acesso em: 29 set. 2025.

      19 setembro 2025

      Da Inglaterra a Índia: a jornada de Annie Besant

      Uma mulher à frente do seu tempo

      Imagem criada ChatGPT.
      Annie Wood Besant nasceu em 1º de outubro de 1847, em Londres, filha de William Burton Persse Wood e Emily Roche Morris. Seu pai faleceu quando ela ainda era criança, deixando a família em dificuldades. Sua educação foi conduzida em parte pela mãe e em parte por Ellen Marryat, amiga da família. Nessa época, Annie já mostrava um espírito questionador. Em sua autobiografia, ela recorda que “desde a infância eu tinha uma sede insaciável de saber, e nenhum medo de onde esse saber pudesse me conduzir” (Besant, 1893, p. 15).

      Em dezembro de 1867, com vinte anos, casou-se com o reverendo Frank Besant, com quem teve dois filhos, Arthur e Mabel. O casamento, porém, foi infeliz, marcado por conflitos devido à crise de fé de Annie e à sua rejeição aos dogmas cristãos. A própria Annie descreveu: “Nós éramos um par mal ajustado, sem afinidade real, unidos apenas por laços externos” (Besant, 1893, p. 53). A separação legal ocorreu em 1873, quando inicialmente levou consigo a filha Mabel. (NETHERCOT, 1960, p. 45).

      Após a separação Annie Besant iniciou sua militância social e intelectual na década de 1870, ao lado de Charles Bradlaugh (1833–1891), líder da National Secular Society, defendendo causas como a liberdade de expressão, a educação pública, o controle de natalidad e, de forma geral, os direitos das mulheres. A parceria ganhou destaque durante o caso Fruits of Philosophy (1877), quando ambos foram processados por publicar um livro sobre métodos de controle de natalidade, considerado obsceno na época. Segundo Taylor (1991, p. 87), “Besant encontrou em Bradlaugh um mentor e aliado, que lhe mostrou como articular ideias radicais e defender o direito à liberdade de pensamento”. A colaboração com Bradlaugh foi decisiva para o desenvolvimento do ativismo público de Annie, preparando-a para sua posterior atuação na teosofia, na educação e na política na Índia. No entanto, após essas polêmicas relacionadas às suas ideias sobre controle de  natalidade, Annie perdeu a guarda dos filhos. Em 1878, a decisão judicial favoreceu o marido, Frank Besant, o que a afetou profundamente do ponto de vista emocional.

      Embora separada legalmente, Annie ainda manteve algum contato com os filhos, mas era limitado e supervisionado pelo pai. Em suas memórias, Besant expressa pesar e saudade: ela escreveu que a separação a “marcou para sempre, ensinando o preço da independência e da defesa de ideias impopulares” (Besant, 1893, p. 107). A perda da guarda reforçou sua determinação política e social. Muitos biógrafos, como Taylor (1991, p.88), destacam que "a dor pessoal de Annie fortaleceu seu compromisso com causas que ela acreditava serem justas, como educação, liberdade e direitos das mulheres". A partir de então, ela canalizou o amor pelos filhos em seu trabalho público e na educação de jovens, como nas escolas teosóficas que fundou posteriormente na Índia.

      Em 1889, ela ingressou na Sociedade Teosófica, tornando-se uma de suas líderes mais influentes. Em 1907, foi eleita presidente mundial, cargo que exerceu até sua morte. Annie acreditava que a espiritualidade deveria andar lado a lado com a transformação social. Segundo Besant (1893, p. 212) “A verdadeira religião deve ser vivida na vida diária, traduzida em serviço à humanidade”.

      No campo maçônico, Annie Besant foi iniciada em Paris, em 27 de julho de 1902, na Ordem Le Droit Humain. Poucos meses depois, em 26 de setembro de 1902, participou da fundação da Loja Human Duty n. 6, em Londres, tornando-se sua primeira Venerável Mestra. Esta loja estava ligada à Le Droit HumainComo lembra Nethercot (1963, p. 211), “com a fundação da nova loja, Besant consolidou a presença da co-maçonaria (como era chamada a maçonaria mista naquela época - co-freemasonry) na Grã-Bretanha e abriu caminho para sua expansão mundial”. Besant trabalhou para expandir a maçonaria mista para diversos países, incluindo Irlanda, Índia, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e regiões do Sudeste Asiático.

      Na Índia, Besant atuou como educadora e nacionalista. Apoiou a criação de escolas e faculdades, editou jornais e, em 1916, fundou a Home Rule League (inspirada em movimentos irlandeses de autonomia) que exigia autogoverno para a Índia dentro do Império Britânico. Por isso, foi presa em 1917 sob a Defense of Indialegislação que dava poderes ao governo colonial para prender líderes sem julgamento formal, em nome da 'segurança do império'. O governo britânico considerava a atividade de Besant subversiva, especialmente durante a Primeira Guerra Mundial, quando qualquer movimento político (que pudesse enfraquecer a autoridade britânica) era visto como perigoso. 

      Annie ficou confinada em Ooty (montanhas do sul da Índia) por cerca de 93 dias. Sua prisão provocou grande mobilização popular e apoio de líderes indianos, o que aumentou a visibilidade do movimento Home Rule League. Após essa forte pressão popular, ela foi libertada e eleita presidente do Congresso Nacional Indiano no mesmo ano (CHANDRA, 2001, p. 74).

      Annie Besant faleceu em 20 de setembro de 1933, em Adyar, Índia. Sua vida foi marcada por profundas transformações espirituais e políticas. Como resume Taylor (1991, p. 301), “ela foi ao mesmo tempo livre-pensadora, socialista, teósofa, maçom e nacionalista indiana — um exemplo raro de coerência na diversidade”. Deixou as seguintes obras publicadas de sua autoria:

      BESANT, Annie. The Education of the People. 1882.
      BESANT, Annie. An Autobiography. London: T. Fisher Unwin, 1893.
      BESANT, Annie. The Ancient Wisdom. 1897.
      BESANT, Annie. Woman’s Work in the World. 1902.
      BESANT, Annie. Education in the West Indies. 1907.
      BESANT, Annie. An Introduction to Yoga. 1908.
      BESANT, Annie; LEADBEATER, Charles W. Occult Chemistry. 1908.
      BESANT, Annie. Theosophy and the Soul. 1911.
      BESANT, Annie. The Case for India. 1917.
      BESANT, Annie. India: Its Problems and Its Leaders. 1923.

      Referências Bibliográficas

      BESANT, Annie. An Autobiography. London: T. Fisher Unwin, 1893. Disponível em: https://www.gutenberg.org/ebooks/12085. Acesso em: 16 set. 2025.

      CHANDRA, Jyoti. Annie Besant: From Theosophy to Nationalism. New Delhi: K.K. Publications, 2001.

      NETHERCOT, Arthur H. The First Five Lives of Annie Besant. Chicago: University of Chicago Press, 1960.

      NETHERCOT, Arthur H. The Last Four Lives of Annie Besant. Chicago: University of Chicago Press, 1963.

      TAYLOR, Anne. Annie Besant: A Biography. Oxford: Oxford University Press, 1991.

      Sandra Cristina Pedri

      15 setembro 2025

      Marie-Adelaide Deraismes, quem foi?

      Fonte: Imagem criada pelo Meta AI.

      Pioneira da Maçonaria Mista

      Marie-Adélaïde Deraismes (1828-1894), mais conhecida como Maria Deraismes, nasceu em 17 de agosto de 1828, em Paris, França, em uma família burguesa liberal, com profundas tendências ao livre-pensamento (LE DROIT HUMAIN, [s.d.]). Seus pais foram François Deraismes (pai) e Anne Geneviève Deraismies (mãe). Eles eram pessoas abastadas da elite burguesa liberal, com interesses culturais, filosóficos e intelectuais elevados. Seu pai, François Deraismes, era descrito como alguém "muito dedicado à cultura" e conhecedor profundo de Voltaire, o que indica que tinha meios e educação para atividades intelectuais. Anne (sua mãe) foi dona de casa. Desde jovem, Maria Deraismes recebeu uma educação erudita no ambiente doméstico: aprendeu latim e grego, estudou filósofos iluministas, interessou-se pelas religiões orientais e pelos textos dos filósofos modernos (WIKIPÉDIA, 2023).

      Transformando Tradição em Modernidade

      Desde seus primeiros anos de atuação intelectual, Deraismes envolveu-se com a causa dos direitos das mulheres, com especial atenção para a igualdade legal, o acesso à educação e a liberdade política (OPENEDITION JOURNALS, 2011).

      O evento mais simbólico em sua trajetória de vida ocorreu em 14 de janeiro de 1882 (com 53 anos), quando foi iniciada na Loja Les Libres Penseurs, em Le Pecq, uma pequena localidade próxima a Paris. Essa iniciação a marcou como a primeira mulher a participar oficialmente de uma loja maçônica masculina, rompendo com normas tradicionais da maçonaria daquele tempo (WIKIPÉDIA, 2023; LE DROIT HUMAIN, [s.d.]).

      Após essa iniciação, a loja sofreu repercussões: foi suspensa pela Grande Loja Simbólica Escocesa da França, em virtude de regras que não admitiam mulheres. A suspensão, entretanto, durou apenas alguns meses, após os membros da loja omitirem o nome de Deraismes das listas de filiação para reintegração (WIKIPÉDIA, 2023).

      Onze anos depois, em 4 de abril de 1893, Maria Deraismes e Georges Martin fundaram em Paris a primeira loja maçônica mista chamada Le Droit Humain (ou Ordem Maçônica Mista Internacional “Le Droit Humain”), na qual homens e mulheres teriam iguais direitos e deveres, algo inovador para seu tempo (WIKIPÉDIA, 2023).

      Além de maçônica e feminista, Deraismes consolidou-se como oradora e escritora. Participou da fundação de associações feministas, como L’Association pour le droit des femmes em 1869, além de manter estreito diálogo com o movimento republicano, anticlerical e de livre-pensamento (OPENEDITION JOURNALS, 2011).

      Maria Deraismes faleceu em 6 de fevereiro de 1894 (com 66 anos), em Paris, deixando como legado não apenas textos e discursos, mas também instituições e práticas que afirmavam a igualdade de gênero, especialmente no âmbito maçônico e dos direitos civis das mulheres (LE DROIT HUMAIN, [s.d.]).

      Sua foto mais divulgada é a que está em preto e branco. No entanto, pedimos ao ChatGPT para criar uma foto da Maria Deraismes mais jovem usando como base essa foto.

      Referências Bibliográficas

      DERAISMES, Maria. Ève dans l’humanité. Angoulême: Éditions Abeille et Castor, 1868/2008.

      LE DROIT HUMAIN Brasil. Biografia: Maria Deraismes. Disponível em: https://www.ledroithumainbrasil.com.br. Acesso em 14 set. 2025.

      OPENEDITION JOURNALS. Maria Deraismes (1828-1894). Revue d’histoire du XIXe siècle, 2011. Disponível em: https://journals.openedition.org/rh19/3536. Acesso em 14 set. 2025..

      WIKIPÉDIA. Maria Deraismes. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: https://fr.wikipedia.org/wiki/Maria_Deraismes. Acesso em 14 set. 2025.

      Sandra Cristina Pedri

      Sociedade Teosófica - Saiba Mais

      Desvende a Sabedoria da Teosofia Blavatsky e Olcott . Copilot. Você já parou para refletir sobre as grandes questões da existência? Quem som...