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26 outubro 2025

Josefina de Beauharnais - Imperatriz

Elegância e Poder no Império Napoleônico

Josefina de Beauharnais. Meta AI
A Imperatriz Josefina de Beauharnais (Marie Josèphe Rose Tascher de La Pagerie), esposa de Napoleão Bonaparte, é uma figura central na história da maçonaria feminina. Sua atuação como Grã-Mestra das Lojas de Adoção no início do século XIX representa um marco na luta pela inclusão das mulheres em espaços iniciáticos e filosóficos.

Josefina nasceu em 23 de junho de 1763, em Les Trois-Îlets, na Martinica, então colônia francesa. Filha de Joseph Gaspard Tascher de La Pagerie e Rose Claire des Verges de Sannois, foi educada de forma doméstica, como era comum entre as elites coloniais (WIKIPEDIA, 2025).

Em 1779, com 16 anos de idade, casou-se com Alexandre de Beauharnais (1760-1794), com quem teve dois filhos: Eugênio (1781-1824) e Hortênsia (1783-1837). Alexandre foi guilhotinado em 1794 durante o Terror da Revolução Francesa, e Josefina (com 31 anos de idade) foi presa, sendo libertada após a queda de Robespierre (WIKIPEDIA, 2025).

Segundo a Grande Loja Simbólica da Lusitânia (2018), Josefina foi iniciada na Maçonaria em 1790, na cidade de Estrasburgo, tornando-se membro ativo das Lojas de Adoção Fidélité e Sainte Sophie, consideradas paramaçônicas. Essa iniciação ocorreu enquanto seu marido, Alexandre de Beauharnais, servia no exército do Reno, do qual se tornaria comandante-chefe em 1793. Curiosamente, a combatente Marie-Henriette Heiniken também atuou nesse exército como ajudante de campo do general Charles Antonie Dominique Lauthier-Xaintrailles, seu companheiro, entre 1792 e 1793.

Em 1796, casou-se com Napoleão Bonaparte, tornando-se Imperatriz dos Franceses em 1804. O casamento foi anulado em 1810 por não gerar herdeiros, mas Josefina manteve boa relação com Napoleão até sua morte em 1814 com 51 anos de idade.

Posteriormente, entre 1804 e 1805, Josefina atuou como Grã-Mestra das Lojas de Adoção Regular da França, promovendo a criação de lojas femininas paralelas às masculinas, com o objetivo de incluir mais mulheres na maçonaria. Embora o papel dela seja central para as tradições maçônicas femininas, alguns historiadores acadêmicos debatem se sua liderança foi de fato ativa ou predominantemente honorária e de prestígio social.

Segundo Santos (2011), as Lojas de Adoção eram tuteladas por lojas masculinas e tinham funções limitadas, muitas vezes restritas a bailes e festividades. Tinham, também, ritos próprios, adaptados da tradição maçônica, com graus, símbolos e alegorias morais. Sob a liderança de Josefina, essas lojas ganharam legitimidade e visibilidade, representando um avanço na emancipação feminina dentro da maçonaria.

Josefina é considerada uma precursora da maçonaria feminina moderna, tendo inspirado movimentos posteriores como o Le Droit Humain, fundado por Marie Deraismes em 1893. Sua atuação como Grã-Mestra simboliza a possibilidade de liderança feminina em espaços tradicionalmente masculinos (HIVERT-MESSECA, 2015).

Josefina também teve papel na definição do gosto artístico e decorativo da França pós-revolucionária. Como Imperatriz, ela contribuiu para estabelecer o chamado estilo Consulado e Império, caracterizado pela inspiração na arte e arquitetura da Antiguidade clássica, com elementos como colunas, esfinges, águas e liras. Esse estilo se manifestava tanto na decoração de interiores quanto na moda, com móveis de linhas retas e tecidos nobres, além de vestidos de corte império que se tornaram símbolo de elegância feminina. O Castelo de Malmaison, residência pessoal de Josefina, tornou-se referência estética e cultural, influenciando palácios e residências aristocráticas em toda a Europa. Sua sensibilidade artística e refinamento ajudaram a consolidar uma estética que refletia o poder, a ordem e a sofisticação do novo regime napoleônico.

Além disso, sua trajetória de vida — de viúva empobrecida à Imperatriz — reflete resiliência, inteligência social e influência política, tornando-a modelo de elegância, diplomacia e poder feminino em tempos de revolução e império. 

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

GRANDE LOJA SIMBÓLICA DA LUSITÂNIA. Josefina de Beauharnais e a Maçonaria de Adoção. Facebook, 29 ago. 2018. Disponível em: https://www.facebook.com/grandelojasimbolicalusitania/posts/httpsgrandelojasimbolicalusitaniapt/1829749607079202. Acesso em: 19 out. 2025. [facebook.com]

HIVERT-MESSECA, Gisèle; HIVERT-MESSECA, Yves. Femmes et Franc-maçonnerie: Trois siècles de franc-maçonnerie féminine et mixte en France (de 1740 à nos jours). 2. ed. Paris: Éditions Dervy, 2015.

SANTOS, Fernanda Cristina. A mulher na história da maçonaria portuguesa: opressão e liberdade no contexto maçónico. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2011. Disponível em: https://archive.org/download/a-mulher-na-historia-da-maconaria-portuguesa. Acesso em: 19 out. 2025.

WIKIPÉDIA. Josefina de Beauharnais. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Josefina_de_Beauharnais. Acesso em: 19 out. 2025.

14 outubro 2025

Clémence Royer - Filiada a Société d'Anthropologie

 Da tradução de Darwin à luta feminista

Clémence Royer (Clémence-Auguste Royer) nasceu em Nantes (França) em 21 de abril de 1830. Filha única de Augustin-René Royer, oficial militar realista, e Joséphine-Gabrielle Audouard, costureira, Royer foi educada em casa e, aos 10 anos, enviada ao convento do Sacré-Coeur em Le Mans. No entanto, abandonou a fé católica na adolescência e continuou sua educação de forma autodidata, desenvolvendo interesse por filosofia, ciência e feminismo.

Clémence Royer. ChatGPT.

Em 1856 (com cerca de 26 anos de idade) estabeleceu-se em Lausanne, Suíça, onde viveu com recursos próprios e dedicou-se ao estudo de filosofia, economia e ciência. Em 1862, traduziu para o francês a obra A Origem das Espécies de Charles Darwin, incluindo uma introdução de 60 páginas que refletia suas próprias ideias evolucionistas, influenciadas por Jean-Baptiste Lamarck (Scientific Women, s.d.). 

Lamarck foi um naturalista e biólogo francês que propôs uma teoria coerente da evolução das espécies, antes de Darwin, desenvolvendo a ideia de herança de caracteres adquiridos. Para ele os organismos poderiam transmitir às próximas gerações características adquiridas durante sua vida. Ele é considerado um precursor do evolucionismo, embora sua teoria não tenha resistido à seleção natural darwiniana, especialmente porque a genética moderna mostrou que caracteres adquiridos não são transmitidos hereditariamente.

Essa tradução feita por Clémence Royer foi controversa na época, pois ao incorporar suas próprias interpretações nas páginas iniciais da tradução que fez, acabou gerando críticas tanto de Darwin quanto de outros cientistas.

Em 1865, Royer iniciou uma união com Pascal Duprat, intelectual francês exilado, com quem teve um filho. Apesar de seu envolvimento intelectual e político, detalhes sobre sua vida familiar são escassos.

Mais tarde Royer participou ativamente do movimento feminista francês (republicano, laico e racionalista) da Terceira República. Nessa época sua atuação foi mais filosófica e intelectual, defendendo que a ciência e a instrução feminina seriam os instrumentos de emancipação. Sendo assim, ela defendia as mesmas ideias de Maria Deraismes.

Em 1878, esteve presente no primeiro Congresso Internacional sobre os Direitos da Mulher. No Congresso de 1889 foi convidada por Maria Deraismes para presidir a seção histórica. Em seu discurso argumentou que a introdução do sufrágio feminino (direito das mulheres de votar e serem votadas em eleições políticas) provavelmente levaria a um aumento do poder da Igreja. Sob a liderança de Hubertine Auclert, Maria Deraismes e Clémence Royer passaram a lutar pelo direito ao voto feminino, focando seus esforços na educação, nos direitos civis e na crítica ao poder da Igreja sobre as mulheres. Defendiam a necessidade de uma educação laica que favoreceria o livre-pensamento, pois temiam que mulheres pouco instruídas votassem de forma conservadora, fortalecendo a Igreja Católica.

Clémence Royer (filósofa, economista, tradutora e feminista francesa) faleceu em 6 de fevereiro de 1902, em Neuilly-sur-Seine, França, com 71 anos de idade.

Relação com a Maçonaria

Clémence esteve ligada a círculos de livre-pensamento e à Maçonaria por meio da Société d'Anthropologie de Paris, instituição maçônica de prestígio ligada à ciência e ao pensamento filosófico tendo sido a primeira mulher admitida nesta Sociedade. Embora não haja registros específicos sobre sua iniciação em uma loja maçônica tradicional, sua afiliação a esta instituição indica sua participação em círculos maçônicos e intelectuais (Scientific Women, s.d.).

Royer é lembrada como uma pioneira do feminismo e da ciência no século XIX. Sua tradução de Darwin introduziu o darwinismo na França e influenciou o pensamento científico da época. Além disso, sua participação ativa no movimento feminista e sua afiliação a Société d'Anthropologie (instituição maçônica) destacam seu papel na promoção da igualdade de gênero e na disseminação do livre-pensamento (Wikipedia, 2025; Scientific Women, s.d.).

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

ROYER, Clémence. A Origem das Espécies de Charles Darwin. Tradução francesa com introdução de Clémence Royer. Paris, 1862.

SCIENTIFIC WOMEN. Clémence Royer. Disponível em: https://scientificwomen.net/women/royer-clemence-85?utm_source=chatgpt.com. Acesso em 27 set. 2025.

WIKIPEDIA. Clémence Royer. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cl%C3%A9mence_Royer. Acesso em 27 set. 2025.

04 outubro 2025

A Ordem da Estrela do Oriente

Uma Ordem Fraternal Mista e Robert Morris

Antes da fundação da primeira Loja Maçônica Mista, Le Droit Humain (Ordem Maçônica Mista Internacional), criada por Maria Deraismes e Georges Martin em 4 de abril de 1893, surgiu nos Estados Unidos a Ordem da Estrela do Oriente (Order of the Eastern Star – OES), uma das mais antigas e importantes organizações paramaçônicas do mundo, aberta à participação de homens e mulheres.

Robert Morris. Copilot.
Dividida em três Eras, conforme o Grande Capítulo Geral, a Primeira Era teve início em 1850, com a criação da Ordem por Robert Morris (1818–1888). Maçom, educador e poeta, Morris buscava oferecer às mulheres ligadas à Maçonaria uma estrutura fraternal própria. Acreditava que a inclusão feminina no espírito maçônico fortaleceria os valores familiares e ampliaria o alcance social da instituição (Macoy, 1876, p. 12).

Sua esposa, Charlotte Morris, e sua filha, Harriett Morris, estiveram entre as primeiras mulheres a participar ativamente dos trabalhos iniciais, contribuindo para a formulação ritualística e incentivando a participação feminina.

Em 1866, Robert Morris confiou a Robert Macoy (1816-1895), também maçom norte-americano, a tarefa de organizar e estruturar definitivamente os rituais e os manuais da Ordem. A partir desse momento, a OES entrou na Segunda Era que se estendeu até 1876. Macoy compilou e publicou um Ritual, utilizando o Rosário do Dr. Morris como guia. Este foi o início da organização dos Capítulos, e a Ordem passou a ganhar forma institucional, expandindo-se pelos Estados Unidos e internacionalmente (Macoy, 1876, p. 36). O primeiro Grande Capítulo da Ordem foi organizado em Michigan, em 1867.

Os Capítulos, equivalentes às Lojas Maçônicas, possuem identidade própria e são dirigidos por uma liderança dupla:

  • Worthy Matron (Digna Matriarca - DM): cargo feminino de maior autoridade.
  • Worthy Patron (Digno Patriarca - DP): cargo masculino, ocupado por um Mestre Maçom.
Ordem da Estrela do Oriente.

Essa estrutura reflete a natureza mista da Ordem, com protagonismo feminino desde sua origem. O principal símbolo é a ESTRELA DE CINCO PONTAS, cujas cores e pontas representam cinco heroínas bíblicas:

  1. Adah (azul) - Símbolo da fidelidade;
  2. Ruth (amarelo) - Símbolo da constância;
  3. Esther (branco) - Símbolo da lealdade;
  4. Martha (verde) - Símbolo da fé;
  5. Electa (vermelho) - Símbolo do amor.
Essas figuras femininas bíblicas foram escolhidas como modelos de virtude e de conduta, tornando-se centrais no ritual e na identidade da Ordem (OES, 2023).

Finalidade e Atuação

A Ordem da Estrela do Oriente tem como objetivos principais:

  • Praticar a caridade (apoio a hospitais, bolsas de estudo, ações sociais);
  • Vivenciar rituais simbólicos que reforçam virtudes morais e espirituais;
  • Integrar a família ao ideal maçônico, fortalecendo o papel das mulheres na comunidade maçônica.
Assim, a Ordem tornou-se uma instituição promotora da solidariedade, valores éticos e formação fraternal, contribuindo para ampliar a presença das mulheres no ambiente maçônico de forma organizada e reconhecida.

Expansão e Relevância Histórica

Após sua formalização em 1866, a Ordem da Estrela do Oriente se espalhou rapidamente pelos Estados Unidos. Em 1876, foi criado o Grande Capítulo Geral, responsável por unificar os Capítulos existentes e padronizar a ritualística, marcando o início da chamada Terceira Era, que se estende até os dias atuais. A partir desse momento, a Ordem começou a expandir-se internacionalmente, alcançando diversos países ao longo do século XX. Atualmente, está presente em mais de 20 nações (inclusive no Brasil), reunindo cerca de 500 mil membros ativos e sendo considerada a maior organização paramaçônica internacional aberta à participação feminina — antecedendo outras formas de inserção das mulheres na Maçonaria, como a Maçonaria Mista (Le Droit Humain) e a Maçonaria exclusivamente Feminina.

A criação da Ordem, em 1850, marcou um ponto de inflexão na história da Maçonaria, ao permitir que mulheres participassem de forma institucionalizada do universo Maçônico, ainda que em uma Ordem auxiliar e própria. Desde suas primeiras líderes femininas, como Charlotte Morris e Harriett Morris, até sua consolidação internacional, a OES se destaca como espaço de protagonismo feminino e promoção de valores de fraternidade, caridade e moralidade, mantendo até hoje grande relevância no cenário maçônico mundial.

Dr. Robert Morris

Robert Morris nasceu em 31 de agosto de 1818, perto de Boston, Massachusetts (EUA), embora algumas fontes indiquem Nova York como local de nascimento. Foi advogado, professor universitário, Grão-Mestre do Estado de Kentucky, poeta proeminente e reverendo da Igreja Presbiteriana. Filho de Robert Peckham (1789-1825) e Charlotte Lavinia Shaw Peckham (1786-1837), era o quarto filho dos cinco filhos do casal. Após a separação dos pais, sua mãe mudou-se para Taunton, Massachusetts, levando a filha bebê, Charlotte, enquanto Robert e seu irmão John permaneceram em Nova York até o falecimento do pai em 1825. Após essa perda, quando Robert tinha sete anos e John, aproximadamente nove, ambos foram morar com a mãe.

Aos 18 anos, Robert Peckham (seu nome de batismo) deixou a família para ir para o Oeste. Frequentou a Academia de Bristol, em Taunton e, durante esse período, adotou o sobrenome Morris. Não se abe ao certo por que ele fez essa escolha. Uma hipótese é que tenha sido em homenagem a um tutor ou figura paterna que o acolheu, possivelmente John Morris, como algumas fontes indicam. Lecionou na Academia DeSoto, no noroeste do Mississippi, onde conheceu Charlotte Mendenhall, com quem se casou.

Charlotte Mendenhall Morris: Pioneira da Ordem da Estrela do Oriente

Charlotte Mendenhall Morris nasceu em Shelby, Tennessee (EUA), filha de Samuel e Sarah Mendenhall. Casou-se com Dr. Robert Morris em 26 de maio de 1841, com quem teve nove filhos, dos quais sete sobreviveram até a idade adulta. Em 5 de março de 1846, Dr. Morris foi iniciado na Loja Gathright, tornando-se Mestre Maçom em Oxford, Mississipi, e servindo como Grão-Mestre da Grande Loja de Kentucky entre 1858 a 1859. Faleceu em 31 de julho de 1888, sendo sepultado em La Grange, Kentucky.

Em 1850, durante um período de convalescença após um acidente, Dr. Morris e Charlotte desenvolveram os graus iniciáticos da Ordem da Estrela do Oriente, inspirados em heroínas bíblicas que exemplificavam virtudes como caridade, verdade e bondade amorosa. Charlotte faleceu em 14 de agosto de 1893, em La Grange, Kentucky aos 74 anos.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

FIND A GRAVE. Charlotte Mendenhall Morris (1818-1893). Disponível em: https://pt.findagrave.com/memorial/58546261/charlotte-morris?utm_source=chatgpt.com. Acesso em 27 set. 2025.

MACOY, Robert. Adoptive rite and ritual of the Order of the Eastern Star. New York: Masonic Publishing, 1876.

MORRIS, Rob. História da Ordem da Estrela do Oriente. Disponível em: https://easternstar.org/about/history/?utm_source=chatgpt.com. Acesso em 27 set. 2025.

ORDER OF THE EASTERN STAR (OES). History of the Order of Eastern Star. Disponível em: https://www.easternstar.org. Acesso em 27 set. 2025.

ROUNDABOUT MADISON. History Center plans 20oth birthday celebration for Rob Morris. Disponível em: https://www.roundaboutmadison.com/InsidePages/ArchivedArticles/2018/0818RobMorris.html?utm_source=chatgpt.com. Acesso em 27 set. 2025.

WIKIPEDIA. Order of the Eastern Star. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Order_of)the_Eastern_Star. Acesso em 27 set. 2025.

01 outubro 2025

Minha Jornada na Maçonaria Feminina Fênix Nut

Uma Escolha que Transformou Minha Vida

Meu nome é Maria, tenho 65 anos e há quase cinco anos faço parte da Ordem que mais me orgulha: a Maçonaria Feminina Fênix Nut. Digo e afirmo com convicção que essa foi uma das melhores escolhas que fiz para minha vida.

Maria Ap. de Freitas da Silva.
Algumas pessoas acreditam que ao entrar para a Maçonaria ficarão ricas materialmente ou ganharão muito dinheiro. No entanto, posso afirmar que nos tornamos, sim, ricas em sabedoria, conhecimento e, principalmente, em autoconhecimento. Isso acontece por meio de estudos, trabalhos e leituras, para aquelas que se dedicam com comprometimento e desejo genuíno de evolução — tanto da matéria quanto do espírito.

No início, confesso que me senti apreensiva. Perguntava a mim mesma o que estava fazendo nas reuniões, pois achava que não entendia nada. Antigamente, eu tinha o hábito de desistir facilmente, de não perseverar. Mas, com os ensinamentos e estudos, aprendi que tudo tem seu tempo, e que devemos dar um passo de cada vez.

Aprendi a me libertar de todos os bloqueios que impediam meu crescimento espiritual — e, consequentemente, minha evolução material. Acredito profundamente que, quando nossa vida espiritual está em equilíbrio, tudo flui. Quando temos paz no coração, tudo vai bem. Coisas que antes eu achava corretas e pelas quais discutia, sem ouvir o outro, acreditando sempre estar com a razão, hoje vejo que desperdicei tempo precioso. Quando olhamos com suavidade, tudo se resolve. Para tudo há uma saída.

Hoje sei que sou 100% responsável pelos meus atos e atitudes. Tudo o que lançamos ao universo, ele nos devolve. Por isso, o melhor a fazer é espalhar amor — e colheremos apenas coisas boas.

Claro que enfrentamos desafios no dia a dia. Mas aprendemos a manter o equilíbrio e a resolver as situações com sabedoria, colocando em prática tudo o que temos aprendido nas reuniões e nos estudos.

Cada dia é um novo dia. Um passo de cada vez. Perseverança, amor, tolerância, fé, inteligência e paciência são os princípios que agora conduzem minha vida. Tudo isso aprendi com a Maçonaria Feminina Fênix Nut. Só tenho a agradecer por todos os ensinamentos, pela paciência e pelo carinho que todas as irmãs tiveram comigo. Um amor fraternal intenso que me transformou profundamente.

Maria Aparecida de Freitas da Silva

30 setembro 2025

Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa

O Papel da Mulher e a Inclusão Iniciática na França - Século XVIII

A história da participação feminina na Maçonaria é marcada por exclusões formais e resistências institucionais, mas também por iniciativas discretas e inovadoras que buscaram incluir mulheres em ambientes iniciáticos. Uma dessas iniciativas foi a criação da Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa, na França, durante o século XVIII. Esta organização paramaçônica permitia a participação feminina em rituais simbólicos semelhantes aos da Maçonaria, embora de forma secreta e restrita (DACAMINO, 2023).

Imperatriz Josefina. Copilot.

A Ordem surgiu em um contexto de efervescência filosófica e espiritual, marcado pelo Iluminismo e pela expansão dos ritos esotéricos na Europa. A França, em especial, tornou-se um centro de experimentação iniciática, com o surgimento das Lojas de Adoção, que permitiam a iniciação de mulheres sob supervisão masculina. A Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa foi uma derivação mais simbólica e ritualística desse movimento, com estrutura própria e forte influência rosacruciana (DACAMINO, 2023).

Embora os registros sobre a fundação da Ordem sejam escassos, acredita-se que ela tenha sido criada entre 1740 e 1760, desaparecendo gradualmente após a Revolução Francesa, por volta do início do século XIX. A instabilidade política e a perseguição às sociedades secretas contribuíram para sua extinção silenciosa (DACAMINO, 2023).

Entre os nomes femininos associados à Ordem, destacam-se figuras da aristocracia e da elite intelectual francesa. A Duquesa de Bourbon (Maria Teresa Luísa de Saboia-Carignano), por exemplo, foi iniciada entre 1773 e 1775 na Loja de Adoção Saint-Jean de La Candeur, em Paris, tornando-se a  primeira mulher a receber o título de Grã-Mestra das Lojas de Adoção. Ela presidiu a Loja até 1780, promovendo a criação de novas Lojas, incentivando a participação feminina e exercendo forte influência sobre a estrutura da Ordem das Ninfas da Rosa.

Outro nome que podemos citar é a Imperatriz Josefina, esposa de Napoleão Bonaparte, que, embora não tenha sido iniciada formalmente, foi uma simpatizante ativa e defensora das práticas maçônicas femininas, contribuindo para sua preservação durante o Império Napoleônico. Atuou como Grã-Mestra honorária de Lojas de Adoção, contribuindo para sua preservação e retomada após o colapso revolucionário (DACAMINO, 2023; WIKIPÉDIA, 2023).

A estrutura da Ordem dividia seus membros entre Cavaleiros (homens) e Ninfas (mulheres), com rituais que envolviam símbolos florais, mitológicos e alquímicos. O objetivo era cultivar virtudes como a pureza, a sabedoria e a fraternidade, por meio de cerimônias que evocavam o ideal rosacruciano de elevação espiritual. 

Apesar de não ter sido reconhecida pelas potências maçônicas regulares, a Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa desempenhou um papel fundamental na história da inclusão feminina na maçonaria. Ela antecipou movimentos posteriores, como a maçonaria mista e a criação de ordens femininas autônomas, e deixou um legado simbólico que ainda inspira estudiosos e iniciadas.

Estrutura Ritualística

A Ordem operava com graus simbólicos e cerimônias que remetiam à tradição rosacruciana e Maçônica, mas com adaptações que permitiam a presença feminina. Os membros eram divididos entre Cavaleiros (homens) e Ninfas (mulheres), e os rituais envolviam símbolos florais, mitológicos e alquímicos.

A participação das mulheres era vista como essencial para o equilíbrio espiritual da Ordem. Embora ainda supervisionadas por membros masculinos, as Ninfas da Rosa desempenhavam papéis ativos nos rituais e na administração interna da organização. Essa inclusão representava um avanço significativo em relação às restrições impostas pelas Constituições de Anderson (1723), que excluíam formalmente aas mulheres da Maçonaria regular.

Relação com as Lojas de Adoção

A Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa pode ser vista como precursora ou paralela às Lojas de Adoção. Ambas compartilhavam o ideal de educação moral e filosófica feminina, mas a Ordem tinha uma abordagem mais simbólica e menos institucionalizada.

Não há registros oficiais precisos sobre sua extinção, mas acredita-se que tenha desaparecido gradualmente após a Revolução Francesa, por volta do início do século XIX, quando muitas estruturas maçônicas foram dissolvidas ou reformuladas. Embora tenha desaparecido com o tempo, a Ordem deixou um legado importante:

  • Inspirou outras estruturas femininas e mistas.
  • Contribuiu para o debate sobre o papel da mulher na Maçonaria.
  • Antecipou movimentos como o Le Droit Humain e a Maçonaria Mista Moderna.

Conclusão

A Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa representa um capítulo pouco conhecido, mas profundamente simbólico, da história da Maçonaria Feminina. Sua existência revela que, mesmo em tempos de exclusão formal, houve esforços concretos para incluir mulheres em espaços iniciáticos, reconhecendo seu valor espiritual e filosófico.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

DACAMINO. O papel da mulher na maçonaria: uma história de exclusão e inclusão. DaCamino Livros Maçônicos. Disponível em: https://dacamino.com.br/o-papel-da-mulher-na-maconaria-uma-historia-de-exclusao-e-inclusao. Acesso em: 29 set. 2025.

FOLHA2. GONÇALVES, Nelson. A Maçonaria Feminina e Mista no Brasil e no mundo. Folha do Povo. Disponível em: https://www.folha2.com.br/2023/09/maconaria-feminina-no-brasil-e-no-mundo.html. Acesso em: 30 set. 2025.

LE DROIT HUMAIN BRASIL. Sobre a Ordem Maçônica Mista Internacional Le Droit Humain. Disponível em: https://www.ledroithumainbrasil.com.br/about-1. Acesso em: 30 set. 2025.

MACONARIA.NET. FIGUEIREDO, Luis de. Maçonaria – Le Droit Humain. Disponível em: https://www.maconaria.net/maconaria-le-droit-humain/. Acesso em: 30 set. 2025.

SCIELO PORTUGAL. PIRES, Fátima; RUAH, Mery. Mulheres e Maçonaria. Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher, Lisboa, n. 34, 2015. Disponível em: https://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-68852015000200010. Acesso em: 30 set. 2025.

WIKIPÉDIA. Mulheres e maçonaria. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mulheres_e_ma%C3%A7onaria. Acesso em: 29 set. 2025.

19 setembro 2025

Da Inglaterra a Índia: a jornada de Annie Besant

Uma mulher à frente do seu tempo

Imagem criada ChatGPT.
Annie Wood Besant nasceu em 1º de outubro de 1847, em Londres, filha de William Burton Persse Wood e Emily Roche Morris. Seu pai faleceu quando ela ainda era criança, deixando a família em dificuldades. Sua educação foi conduzida em parte pela mãe e em parte por Ellen Marryat, amiga da família. Nessa época, Annie já mostrava um espírito questionador. Em sua autobiografia, ela recorda que “desde a infância eu tinha uma sede insaciável de saber, e nenhum medo de onde esse saber pudesse me conduzir” (Besant, 1893, p. 15).

Em dezembro de 1867, com vinte anos, casou-se com o reverendo Frank Besant, com quem teve dois filhos, Arthur e Mabel. O casamento, porém, foi infeliz, marcado por conflitos devido à crise de fé de Annie e à sua rejeição aos dogmas cristãos. A própria Annie descreveu: “Nós éramos um par mal ajustado, sem afinidade real, unidos apenas por laços externos” (Besant, 1893, p. 53). A separação legal ocorreu em 1873, quando inicialmente levou consigo a filha Mabel. (NETHERCOT, 1960, p. 45).

Após a separação Annie Besant iniciou sua militância social e intelectual na década de 1870, ao lado de Charles Bradlaugh (1833–1891), líder da National Secular Society, defendendo causas como a liberdade de expressão, a educação pública, o controle de natalidad e, de forma geral, os direitos das mulheres. A parceria ganhou destaque durante o caso Fruits of Philosophy (1877), quando ambos foram processados por publicar um livro sobre métodos de controle de natalidade, considerado obsceno na época. Segundo Taylor (1991, p. 87), “Besant encontrou em Bradlaugh um mentor e aliado, que lhe mostrou como articular ideias radicais e defender o direito à liberdade de pensamento”. A colaboração com Bradlaugh foi decisiva para o desenvolvimento do ativismo público de Annie, preparando-a para sua posterior atuação na teosofia, na educação e na política na Índia. No entanto, após essas polêmicas relacionadas às suas ideias sobre controle de  natalidade, Annie perdeu a guarda dos filhos. Em 1878, a decisão judicial favoreceu o marido, Frank Besant, o que a afetou profundamente do ponto de vista emocional.

Embora separada legalmente, Annie ainda manteve algum contato com os filhos, mas era limitado e supervisionado pelo pai. Em suas memórias, Besant expressa pesar e saudade: ela escreveu que a separação a “marcou para sempre, ensinando o preço da independência e da defesa de ideias impopulares” (Besant, 1893, p. 107). A perda da guarda reforçou sua determinação política e social. Muitos biógrafos, como Taylor (1991, p.88), destacam que "a dor pessoal de Annie fortaleceu seu compromisso com causas que ela acreditava serem justas, como educação, liberdade e direitos das mulheres". A partir de então, ela canalizou o amor pelos filhos em seu trabalho público e na educação de jovens, como nas escolas teosóficas que fundou posteriormente na Índia.

Em 1889, ela ingressou na Sociedade Teosófica, tornando-se uma de suas líderes mais influentes. Em 1907, foi eleita presidente mundial, cargo que exerceu até sua morte. Annie acreditava que a espiritualidade deveria andar lado a lado com a transformação social. Segundo Besant (1893, p. 212) “A verdadeira religião deve ser vivida na vida diária, traduzida em serviço à humanidade”.

No campo maçônico, Annie Besant foi iniciada em Paris, em 27 de julho de 1902, na Ordem Le Droit Humain. Poucos meses depois, em 26 de setembro de 1902, participou da fundação da Loja Human Duty n. 6, em Londres, tornando-se sua primeira Venerável Mestra. Esta loja estava ligada à Le Droit HumainComo lembra Nethercot (1963, p. 211), “com a fundação da nova loja, Besant consolidou a presença da co-maçonaria (como era chamada a maçonaria mista naquela época - co-freemasonry) na Grã-Bretanha e abriu caminho para sua expansão mundial”. Besant trabalhou para expandir a maçonaria mista para diversos países, incluindo Irlanda, Índia, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e regiões do Sudeste Asiático.

Na Índia, Besant atuou como educadora e nacionalista. Apoiou a criação de escolas e faculdades, editou jornais e, em 1916, fundou a Home Rule League (inspirada em movimentos irlandeses de autonomia) que exigia autogoverno para a Índia dentro do Império Britânico. Por isso, foi presa em 1917 sob a Defense of Indialegislação que dava poderes ao governo colonial para prender líderes sem julgamento formal, em nome da 'segurança do império'. O governo britânico considerava a atividade de Besant subversiva, especialmente durante a Primeira Guerra Mundial, quando qualquer movimento político (que pudesse enfraquecer a autoridade britânica) era visto como perigoso. 

Annie ficou confinada em Ooty (montanhas do sul da Índia) por cerca de 93 dias. Sua prisão provocou grande mobilização popular e apoio de líderes indianos, o que aumentou a visibilidade do movimento Home Rule League. Após essa forte pressão popular, ela foi libertada e eleita presidente do Congresso Nacional Indiano no mesmo ano (CHANDRA, 2001, p. 74).

Annie Besant faleceu em 20 de setembro de 1933, em Adyar, Índia. Sua vida foi marcada por profundas transformações espirituais e políticas. Como resume Taylor (1991, p. 301), “ela foi ao mesmo tempo livre-pensadora, socialista, teósofa, maçom e nacionalista indiana — um exemplo raro de coerência na diversidade”. Deixou as seguintes obras publicadas de sua autoria:

BESANT, Annie. The Education of the People. 1882.
BESANT, Annie. An Autobiography. London: T. Fisher Unwin, 1893.
BESANT, Annie. The Ancient Wisdom. 1897.
BESANT, Annie. Woman’s Work in the World. 1902.
BESANT, Annie. Education in the West Indies. 1907.
BESANT, Annie. An Introduction to Yoga. 1908.
BESANT, Annie; LEADBEATER, Charles W. Occult Chemistry. 1908.
BESANT, Annie. Theosophy and the Soul. 1911.
BESANT, Annie. The Case for India. 1917.
BESANT, Annie. India: Its Problems and Its Leaders. 1923.

Referências Bibliográficas

BESANT, Annie. An Autobiography. London: T. Fisher Unwin, 1893. Disponível em: https://www.gutenberg.org/ebooks/12085. Acesso em: 16 set. 2025.

CHANDRA, Jyoti. Annie Besant: From Theosophy to Nationalism. New Delhi: K.K. Publications, 2001.

NETHERCOT, Arthur H. The First Five Lives of Annie Besant. Chicago: University of Chicago Press, 1960.

NETHERCOT, Arthur H. The Last Four Lives of Annie Besant. Chicago: University of Chicago Press, 1963.

TAYLOR, Anne. Annie Besant: A Biography. Oxford: Oxford University Press, 1991.

Sandra Cristina Pedri

15 setembro 2025

Marie-Adelaide Deraismes, quem foi?

Fonte: Imagem criada pelo Meta AI.

Pioneira da Maçonaria Mista

Marie-Adélaïde Deraismes (1828-1894), mais conhecida como Maria Deraismes, nasceu em 17 de agosto de 1828, em Paris, França, em uma família burguesa liberal, com profundas tendências ao livre-pensamento (LE DROIT HUMAIN, [s.d.]). Seus pais foram François Deraismes (pai) e Anne Geneviève Deraismies (mãe). Eles eram pessoas abastadas da elite burguesa liberal, com interesses culturais, filosóficos e intelectuais elevados. Seu pai, François Deraismes, era descrito como alguém "muito dedicado à cultura" e conhecedor profundo de Voltaire, o que indica que tinha meios e educação para atividades intelectuais. Anne (sua mãe) foi dona de casa. Desde jovem, Maria Deraismes recebeu uma educação erudita no ambiente doméstico: aprendeu latim e grego, estudou filósofos iluministas, interessou-se pelas religiões orientais e pelos textos dos filósofos modernos (WIKIPÉDIA, 2023).

Transformando Tradição em Modernidade

Desde seus primeiros anos de atuação intelectual, Deraismes envolveu-se com a causa dos direitos das mulheres, com especial atenção para a igualdade legal, o acesso à educação e a liberdade política (OPENEDITION JOURNALS, 2011).

O evento mais simbólico em sua trajetória de vida ocorreu em 14 de janeiro de 1882 (com 53 anos), quando foi iniciada na Loja Les Libres Penseurs, em Le Pecq, uma pequena localidade próxima a Paris. Essa iniciação a marcou como a primeira mulher a participar oficialmente de uma loja maçônica masculina, rompendo com normas tradicionais da maçonaria daquele tempo (WIKIPÉDIA, 2023; LE DROIT HUMAIN, [s.d.]).

Após essa iniciação, a loja sofreu repercussões: foi suspensa pela Grande Loja Simbólica Escocesa da França, em virtude de regras que não admitiam mulheres. A suspensão, entretanto, durou apenas alguns meses, após os membros da loja omitirem o nome de Deraismes das listas de filiação para reintegração (WIKIPÉDIA, 2023).

Onze anos depois, em 4 de abril de 1893, Maria Deraismes e Georges Martin fundaram em Paris a primeira loja maçônica mista chamada Le Droit Humain (ou Ordem Maçônica Mista Internacional “Le Droit Humain”), na qual homens e mulheres teriam iguais direitos e deveres, algo inovador para seu tempo (WIKIPÉDIA, 2023).

Além de maçônica e feminista, Deraismes consolidou-se como oradora e escritora. Participou da fundação de associações feministas, como L’Association pour le droit des femmes em 1869, além de manter estreito diálogo com o movimento republicano, anticlerical e de livre-pensamento (OPENEDITION JOURNALS, 2011).

Maria Deraismes faleceu em 6 de fevereiro de 1894 (com 66 anos), em Paris, deixando como legado não apenas textos e discursos, mas também instituições e práticas que afirmavam a igualdade de gênero, especialmente no âmbito maçônico e dos direitos civis das mulheres (LE DROIT HUMAIN, [s.d.]).

Sua foto mais divulgada é a que está em preto e branco. No entanto, pedimos ao ChatGPT para criar uma foto da Maria Deraismes mais jovem usando como base essa foto.

Referências Bibliográficas

DERAISMES, Maria. Ève dans l’humanité. Angoulême: Éditions Abeille et Castor, 1868/2008.

LE DROIT HUMAIN Brasil. Biografia: Maria Deraismes. Disponível em: https://www.ledroithumainbrasil.com.br. Acesso em 14 set. 2025.

OPENEDITION JOURNALS. Maria Deraismes (1828-1894). Revue d’histoire du XIXe siècle, 2011. Disponível em: https://journals.openedition.org/rh19/3536. Acesso em 14 set. 2025..

WIKIPÉDIA. Maria Deraismes. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: https://fr.wikipedia.org/wiki/Maria_Deraismes. Acesso em 14 set. 2025.

Sandra Cristina Pedri

13 setembro 2025

Quem foi Elizabeth Aldworth?

Imagem criada pelo Meta AI.

Vida, contexto e tradição da sua iniciação maçônica

Elizabeth St. Leger (mais conhecida como Elizabeth Aldworth ou "Dama Maçônica da Irlanda") nasceu em 1695 em Doneraile, Condado de Cork (Irlanda), e era filha de Arthur St. Leger, Primeiro Visconde Doneraile, e de Elizabeth Hayes. Em 1713 casou-se com Richard Aldworth e viveu a maior parte da sua vida em Doneraile / Newmarket, no Condado de Cork. (WIKIPEDIA, 2025; UNIVERSAL FREEMASONRY, s.d.).

Sua família de origem pertencia à pequena nobreza anglo-irlandesa local. Seu pai era maçom e Doneraile Court (mansão aristocrática que era a residência da família St. Leger) foi um centro de vida social e política, acolhendo a aristocracia e servindo, também, como local para reuniões privadas, incluindo sessões de maçons (UCC, 2021; IRISH HERITAGE TRUST, 2023). Esse quadro social é central para entender como uma jovem poderia vir a observar (e, segundo a tradição, ser iniciada em) ritos que, em regra, eram masculinos e reservados (CONDER, 1895; UCC, 2021).

A narrativa, amplamente divulgada a partir do século XIX e posteriormente consolidada por publicações maçônicas e locais, descreve que, numa noite de inverno, quando ainda estavam em andamento as obras em Doneraile Court, ela notou que alguns tijolos da parede da biblioteca haviam sido mal assentados. Movida pela curiosidade, ouviu vozes e percebeu luzes através das frestas que davam para uma sala contígua. Aproximou-se, retirou alguns tijolos e passou a observar o que ocorria no espaço adjacente. Ao ser descoberta pelo vigia/porteiro da Loja - que, segundo algumas versões, seria também um servo da casa - foi confrontada pelos maçons ali reunidos. Estes, ao reconhecerem tratar-se da filha do Visconde, decidiram iniciá-la ali mesmo nos graus que haviam sido vistos por ela. Há divergências nos relatos a respeito dos graus a ela conferidos. No entanto, a narrativa descreve que, em vez de ser punida por sua indiscreta curiosidade, os maçons a admitiram para preservar os segredos da Ordem, iniciando-a na maçonaria. (CONDER, 1895; DAY, 1914; WIKIPEDIA, 2025).

Incertezas documentais

Não se sabe ao certo a data/ano da iniciação de Elizabeth Aldworth na maçonaria, mas investigações históricas (incluindo o estudo de Edward Conder publicado na revista Ars Quator Coronatorum) apontam que muito provavelmente foi entre os anos 1710 e 1712. O ano mais citado na tradição é 1712 apesar de diversos pesquisadores admitirem que a confirmação documental está ausente. 

Do ponto de vista material e comemorativo, a memória de Elizabeth Aldworth foi preservada por lápides, por um retrato que a representa usando o avental e as joias maçônicas e por menções em períodos e compilações maçônicas dos séculos XIX e XX. Em Cork existe uma placa memorial, junto ao local do seu sepultamento em St. Fin Barre's Cathedral, colocada pelos maçons de Cork, que menciona seu nome, sua filiação e a data de nascimento (1695) e morte (1775). A placa também menciona o nome da loja em que ela foi iniciada em Doneraile Court (Masonry in Lodge n. 44). 

Estudos críticos sobre o caso distinguem três níveis de afirmação: (1) a existência de Elizabeth St. Leger como pessoa histórica (documentada); (2) a circulação de uma tradição - já no século XIX amplamente relatada em periódicos maçônicos - de que ela foi iniciada; e (3) a ausência de registros maçônicos formais no início do século XVIII que confirmem, sem margem de dúvida, o fato tal como contado pelas tradições locais.

Autores do século XIX (como Conder, por exemplo) buscaram reunir provas e confrontar versões, assim como historiadores locais e curadores de arquivos. Na melhor das hipóteses, o episódio é exceção e foi tratado posteriormente como curiosidade e símbolo mais do que como precedente institucional. Mesmo com as incertezas, Elizabeth Aldworth é citada como a primeira mulher "iniciada" na maçonaria regular e a sua história tem sido evocada por estudiosos de gênero, criações literárias e por organizações maçônicas. Resumindo, ela é, sem dúvida, uma personagem histórica real cuja vida e contexto familiar tornam plausível a ocorrência de uma experiência extraordinária ligada à maçonaria. A posição histográfica mais responsável é, portanto, reconhecer o valor memorial e simbólico do episódio, e manter cautela quanto à sua confirmação documental absoluta.

Referências Bibliográficas

CONDER, Edward. The Hon. Miss St. Leger and Freemasonry. Ars Quatuor Coronatorum, vol. VIII, 1895. Reimpressão e transcrição disponível em: Freemasonry.bcy.ca (reprint). Disponível em: https://freemasonry.bcy.ca/aqc/aldworth.html. Acesso em: 12 set. 2025.

DAY, John (ed.). Memoir of the Honble. Elizabeth Aldworth of Newmarket Court, Co. Cork: who was initiated into the Ancient Order of Freemasonry at Doneraile House, Co. Cork. Cork: Guy & Co., 1914. (Obra consultada em digitalização). Disponível em: https://books.google.com/books?id=CBL3q-ypjToC Acesso em: 12 set. 2025.

FREEMASONRY B.C. & YUKON. The Hon. Miss St. Leger and Freemasonry (Edward Conder, 1895). Freemasonry.bcy.ca, [s. l.], [s.d.]. Disponível em: https://www.freemasonry.bcy.ca/aqc/aldworth.html. Acesso em: 12 set. 2025.

IRISH EXAMINER. Finn, Clodagh. Inside the secret world of the first lady Freemason. Cork — Irish Examiner, 22 abr. 2023. Disponível em: https://www.irishexaminer.com/opinion/columnists/arid-41121871.html Acesso em: 12 set. 2025.

MUNSTER PROVINCIAL GRAND LODGE. The Lady Freemason. Munster Freemason, [s. l.], [2023?]. Disponível em: https://www.munsterfreemason.com/history/the-lady-freemason/.https://catalogue.nli.ie/Record/vtls000313394. Acesso em: 12 set. 2025.

NATIONAL LIBRARY OF IRELAND — Catalogue. Memoir of the Honourable Elizabeth Aldworth of Newmarket Court, Co. Cork ... (registro de holdings). Disponível em: https://catalogue.nli.ie/Record/vtls000313394. Acesso em: 12 set. 2025.

PURCELL AUCTIONEERS. Memoir of a Lady Freemason. Purcell Auctioneers, Portlaoise, 2023. Catálogo de leilão. Disponível em: https://www.purcellauctioneers.ie/catalogue/lot/4c3217da4c636fb013c6197b1f403137/81b29ab6fa187a02a829c1899b734425/auction-of-the-library-of-the-late-frank-meehan-portla-lot-269/. Acesso em: 12 set. 2025.

UNIVERSITY COLLEGE CORK — Special Collections. HI6091: Elizabeth Aldworth, The Lady Freemason (online work placement). Cork, 29 jan. 2021. Disponível em: https://theriverside.ucc.ie/2021/01/29/hi6091-elizabeth-aldworth-the-lady-freemason-online-work-placement-2020/. Acesso em: 12 set. 2025.

“The Hon. Miss St. Leger and Freemasonry” (reimpressão). Freemasonry.bcy.ca (reprint of AQC article). Disponível em: https://freemasonry.bcy.ca/aqc/aldworth.html. Acesso em: 12 set. 2025. (Nota: essa fonte reproduz o artigo clássico de Conder e é amplamente citada em estudos maçônicos.)

WIKIPEDIA. Elizabeth Aldworth. Última edição consultada em 2025. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Elizabeth_Aldworth. Acesso em: 12 set. 2025.

Sandra Cristina Pedri

11 setembro 2025

História das Mulheres na Maçonaria

Transformando Tradição em Modernidade

Fonte: Meta AI
Fonte: Imagem criada por Meta AI.

A Maçonaria é uma das instituições mais antigas e respeitadas da história. Não se tem uma data específica que determine seu surgimento e os dados colhidos são contraditórios, pouco claros e não conclusivos. Não há, portanto, uma fonte segura de quando teve início, por exemplo, o Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA). Alguns pesquisadores afirmam que sua origem foi na Inglaterra ou na Escócia e outros apresentam fatos e documentos que atestam sua existência bem anterior na França.

Sabe-se, porém, que no período medieval, com a ascensão das Guildas de Pedreiros e Construtores na Alemanha, Escócia e Inglaterra, os maçons começaram a se estruturar em irmandades e, em 1717, foi criada a Grande Loja de Londres, que admitia apenas homens. É preciso lembrar que, naquela época, as mulheres eram consideradas dependentes dos homens e, em sua maioria, analfabetas, o que dificultava sua participação e admissão, e a Ordem Maçônica passou a ser tradicionalmente associada ao universo masculino.

A Maçonaria tem vivenciado, ao longo do tempo, a inserção feminina em sua história. Esse movimento reflete não apenas uma mudança interna, mas também a evolução da sociedade em direção à igualdade e ao reconhecimento do papel da mulher. Sendo assim, compreender a presença feminina na Maçonaria é reconhecer a importância de vozes que, pela coragem e sabedoria, ajudaram a transformar tradição em modernidade.

A participação feminina na história da Maçonaria

A trajetória das mulheres na Maçonaria não foi linear, mas marcada por marcos simbólicos que abriram portas para novas gerações. Entre as pioneiras, duas figuras se destacam: Elizabeth Aldworth e Maria Deraismes.

Elizabeth Aldworth (1693-1775) era conhecida como "Dama Maçônica da Irlanda" e considerada a primeira mulher a ser iniciada na Maçonaria no século XVIII. Filha de um nobre irlandês e maçom ativo, ela acabou tendo contato direto com rituais maçônicos, circunstância que levou à sua aceitação na Ordem.

Como afirma Stevenson (2008, p. 87), "a presença de Elizabeth Aldworth na Maçonaria demonstra que, ainda em um contexto patriarcal, havia espaço para reconhecer a relevância das mulheres na preservação e transmissão de valores iniciáticos". Sua trajetória, ainda que uma exceção em seu tempo, mostra que a tradição maçônica não esteve completamente fechada à participação feminina.

Maria Deraismes (1828-1894) era francesa e, mais de um século depois de Elizabeth, tornou-se um dos nomes mais importantes da luta pela inclusão feminina na Maçonaria. Jornalista, intelectual e defensora dos direitos das mulheres, ela foi iniciada em 1882, em Paris, tornando-se a primeira mulher a ingressar 'formalmente' em uma Loja simbólica.

Segundo Pike (2019, p. 44), "a iniciação de Maria Deraismes representou não apenas um feito individual, como também uma ruptura nas estruturas maçônicas tradicionais". Foi aí que surgiu o Rito da Maçonaria Mista, também conhecido como Le Droit Humain, que institucionalizou a presença de homens e mulheres em Lojas conjuntas.

Atualmente, a Maçonaria possui lojas exclusivamente masculinas (a grande maioria), mistas e exclusivamente femininas. As duas últimas (mistas e femininas) têm se fortalecido em diversos países, inclusive no Brasil, com fraternidades, associações e Lojas compostas por mulheres que participam ativamente de ações sociais, culturais e educativas. Dessa forma, elas reforçam o compromisso da Ordem com o desenvolvimento humano e a fraternidade universal. A representatividade feminina contribui para que os ideais maçônicos de liberdade, igualdade e fraternidade se concretizem de forma mais inclusiva.

Como vimos, Elizabeth Aldworth e Maria Deraismes viveram em épocas distintas mas sua atuação foi decisiva para a participação da mulher na Maçonaria que, como toda instituição viva, continua a evoluir de modo a permitir que tradição e modernidade caminhem lado a lado em benefício da humanidade.

Referências Bibliográficas

PIKE, William. Women and Freemasonry in Europe: Historical Perspectives. London: Routledge, 2019.

STEVENSON, David. The Origins of Freemasonry: Scotland's Century, 1590–1710. Cambridge: Cambridge University Press, 2005.

VÁZQUEZ, María Eugenia. Maria Deraismes y la Masonería Mixta: Historia de una Iniciación. Madrid: Editorial Complutense, 2016.

Sandra Cristina Pedri



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