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13 novembro 2025

Sociedade Teosófica - Saiba Mais

Desvende a Sabedoria da Teosofia

Blavatsky e Olcott. Copilot.

Você já parou para refletir sobre as grandes questões da existência? Quem somos nós? De onde viemos? Qual é o sentido de tudo isso? Se você é um buscador — alguém que sente que a vida esconde mistérios mais profundos do que aqueles que vemos na superfície — este convite é para você.

A Teosofia, cujo nome significa "Sabedoria Divina", não é uma religião, mas sim uma busca pela verdade que está no coração de todas as grandes tradições filosóficas e espirituais. É um convite para olhar para dentro de nós mesmos e para o universo com uma nova perspectiva, unindo ciência, filosofia e espiritualidade.

Em 1875, na cidade de Nova Iorque (EUA), foi fundada a Sociedade Teosófica com o objetivo de apoiar essa jornada de descoberta. Os principais nomes por trás dessa iniciativa foram Helena Petrovna Blavatsky, uma escritora e pesquisadora russa, e Henry Steel Olcott, um coronel americano que ofereceu apoio e estrutura organizacional ao movimento. Além de seu papel como cofundador da Sociedade Teosófica, Olcott também era maçom, o que reforça sua afinidade com ideais de fraternidade e aperfeiçoamento humano.

Os três grandes objetivos da Sociedade Teosófica são: formar um núcleo de Fraternidade Universal da Humanidade, sem distinção de raça, credo, sexo, casta ou cor; incentivar o estudo comparado de Religiões, Filosofias e Ciências; e investigar as leis não explicadas da Natureza e os poderes latentes no Homem.

Além de Blavatsky, outras mulheres notáveis contribuíram significativamente para o movimento teosófico:

  • Annie Besant: oradora brilhante e ativista social que se tornou a segunda presidente mundial da Sociedade Teosófica. Sua atuação foi fundamental na divulgação dos ensinamentos e no trabalho pela educação e pelos direitos das mulheres na Índia.

  • Radha Burnier: foi a sétima presidente mundial da Sociedade Teosófica, em Adyar (Índia), liderando a organização por muitos anos.

Sociedade Teosófica no Brasil

A Sociedade Teosófica no Brasil (STB) é a Seção Nacional oficialmente ligada à Sociedade Teosófica mundial criada por Helena Blavatsky e Henry Steel Olcott, que mantém fidelidade à sede internacional localizada em Adyar, Chennai, Índia (SOCIEDADE TEOSÓFICA, [s.d.]). O movimento teosófico organizado no país estabeleceu a sua Seção Nacional em 17 de novembro de 1919, na cidade do Rio de Janeiro, com a liderança de figuras como Raimundo Pinto Seidl (REDALYC, 2016; FILOSOFIA ESOTÉRICA [s.d.]). Atualmente, a sede nacional da STB, que coordena as diversas Lojas e Grupos de Estudos espalhados pelo país, opera em Brasília (DF), no endereço SGAS Quadra 603, N. 20, CEP 70200-630.

A afinidade filosófica entre a Teosofia e a maçonaria é historicamente documentada, remontando ao próprio cofundador Henry Steel Olcott que era um maçom iniciado em 1861 (BIBLIOTECA FERNANDO PESSOA, 2018; SOCIEDADE TEOSÓFICA [s.d]). No Brasil, essa interação manifestou-se em um rico intercâmbio em redes intelectuais e esotéricas no início do século XX, com o teosofismo sendo debatido frequentemente em lojas e grupos maçônicos (REDALYC, 2016). A participação de mulheres teosofistas foi crucial, destacando-se figuras como Nâda Glover, que atuou ativamente em cargos de vice-presidência e tesouraria de Lojas no Rio de Janeiro. Embora a Maçonaria Feminina brasileira esteja se consolidando em organizações distintas, a presença e a liderança de teosofistas femininas contribuíram significativamente para disseminação de ideais de liberdade e fraternidade universal, comuns a ambas as sociedades.

Hoje, a Sociedade Teosófica está presente em mais de 60 países. Ela se mantém como um farol para aqueles que buscam um conhecimento profundo sobre os mistérios da vida e da morte; que querem entender a unidade que existe por trás de todas as aparências; e que desejam encontrar um caminho prático para o autoconhecimento e o serviço à humanidade.

Estudar as obras teosóficas — como A Doutrina Secreta Ísis Sem Véu, de Blavatsky — é mergulhar em temas como a Reencarnação, o Karma, a Constituição do Homem e do Cosmos, e o potencial ilimitado do espírito humano. É um convite para transformar-se e, ao transformar-se, ajudar a transformar o mundo.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

BIBLIOT3CA FERNANDO PESSOA. Maçonaria, Teosofia e Esperanto. 2018. Disponível em: https://bibliot3ca.com/maconaria-teosofia-e-esperanto/. Acesso em: 13 nov. 2025.

BLAVATSKY, Helena Petrovna. A Doutrina Secreta. Tradução de Fernando de Souza Barros. São Paulo: Pensamento, 2006.

BLAVATSKY, Helena Petrovna. Ísis sem Véu. Tradução de Fernando de Souza Barros. São Paulo: Pensamento, 2005.

BESANT, Annie. A Sabedoria Antiga. Tradução de Maria Lúcia de Oliveira. São Paulo: Editora Teosófica, 2007.

BURNIER, Radha. O Espírito da Teosofia. Adyar: Theosophical Publishing House, 1989.

FILOSOFIA ESOTÉRICA. Origem do Movimento Teosófico no Brasil. [s.d.]. Disponível em: https://www.filosofiaesoterica.com/origem-do-movimento-teosofico-no-brasil/. Acesso em: 13 nov. 2025.

HELENA BLAVATSKY BRASIL. Como se deu a formação da Sociedade Teosófica. Disponível em: https://helenablavatsky.com.br/artigos/como-se-deu-a-formacao-da-sociedade-teosofica/. Acesso em: 01 nov. 2025.

IPPB – INSTITUTO DE PESQUISAS PROJECIONAIS. Blavatsky e a Sociedade Teosófica. Disponível em: https://www.ippb.org.br/textos/especiais/mythos-editora/blavatsky-e-a-sociedade-teosofica. Acesso em: 01 nov. 2025.

REDALYC. Maçonaria, religião e culto cívico na atuação de Euclides de Vasconcelos César no Ceará da década de 1920. REHMLAC+, Vol. 8, n. 1, 2016. Disponível em: https://www.redalyc.org/journal/3695/369545832003/html/. Acesso em: 13 nov. 2025.

SOCIEDADE TEOSÓFICA DO BRASIL. Fundadores e Ex-Presidentes. Disponível em: https://sociedadeteosofica.org.br/fundadores-e-ex-presidentes/. Acesso em: 01 nov. 2025.

04 novembro 2025

O Diálogo Socrático na Maçonaria

Autoconhecimento e o Aperfeiçoamento Moral

Imagem Meta AI.
O pensamento Socrático é um conceito derivado do filósofo grego Sócrates. Fundamentalmente, é uma abordagem para o autodescobrimento e a busca pela verdade através do questionamento e do raciocínio. Seu funcionamento está alicerçado em dois pilares principais:

1. Conhece-te a ti mesmo - Esta é a máxima mais famosa de Sócrates. Ele acreditava que a primeira tarefa de toda pessoa é mergulhar em seu próprio interior para conhecer suas virtudes, vícios, limites e potenciais. Para Sócrates, o conhecimento de si mesmo é o ponto de partida para a sabedoria e para uma vida autêntica e ética.

2. Método da Maiêutica e Ironia:

  • Ironia: É o ponto de partida, onde Sócrates fingia ignorância e humildemente questionava os outros sobre seus conhecimentos ou crenças (o famoso paradoxo: "Só sei que nada sei"). Isso levava o interlocutor a reconhecer a própria ignorância e a fragilidade das suas "opiniões" (doxa).
  • Maiêutica (Parto de Ideias): Após a ironia, Sócrates, através de perguntas sucessivas e incisivas, ajudava o indivíduo a "dar à luz" ao seu próprio conhecimento e à verdade (epistéme) que já estavam latentes em sua mente. O conhecimento, portanto, não é transmitido, mas descoberto de dentro para fora.

A Aplicação na Maçonaria

Por ser a Maçonaria uma "escola de aperfeiçoamento moral e intelectual", o pensamento Socrático se encaixa perfeitamente nesse propósito, especialmente na jornada de desenvolvimento de seus membros, o que ocorre já no primeiro grau, ou seja, o grau de Aprendiz. 

Nessa fase, o Maçom é simbolicamente comparado a uma Pedra Bruta — um bloco sem forma, que representa o ser humano em seu estado natural, com suas imperfeições e vícios. Segundo a filosofia maçônica: "O grande filósofo Sócrates ensina ao Aprendiz em filosofia, que a primeira coisa a fazer é aprender a pensar" (FREEMASON.PT, 2021).

Para aplicar o pensamento Socrático em nossa vida incentivamos a prática de três tarefas, conforme a seguir:

A primeira e mais essencial tarefa é a do autoconhecimento. O preceito socrático "Conhece-te a ti mesmo" é o catalisador para que o(a) Aprendiz inicie o trabalho de "desbastar a Pedra Bruta"— ou seja, identificar e corrigir suas próprias falhas. Este é um trabalho que se estende por toda a vida, por isso o Maçom se autodenomina um "eterno aprendiz". Para isso, a Maçonaria faz uso de símbolos, rituais e instruções, incentivando seus membros a uma reflexão constante sobre sua conduta, suas intenções e seu papel no mundo, espelhando a introspecção socrática. 

A segunda tarefa é o estímulo ao Livre Pensar e ao Raciocínio (Maiêutica). A Liberdade de Pensamento é um dos princípios cardeais da Maçonaria. Assim como Sócrates desafiava as crenças dogmáticas, a Maçonaria incentiva seus membros a investigarem a verdade por si mesmos, sem se limitar a pensamentos primários ou opiniões superficiais (FREEMASON.PT, 2021).

O maçom deve defender a "plena liberdade de expressão do pensamento, como direito fundamental do ser humano" (UFAC, 2019). Nesse contexto, destaca-se também o princípio da "igualdade" (GOMB, [s.d.]). Infelizmente, ainda hoje, especialmente no Brasil, há quem negue a presença feminina na Maçonaria, alegando que "não existe maçonaria feminina". Essa visão ignora a própria história da humanidade, repleta de exemplos de participação ativa de mulheres na Ordem.

A proibição da iniciação de mulheres na Maçonaria, frequentemente atribuída a James Anderson, aparece nas Constituições dos Franco-Maçons (também conhecidas como a Constituição de Anderson), publicadas em 1723. No século XVIII, a maioria das mulheres sequer sabia ler e escrever, o que dificultava sua presença e participação em Lojas Maçônicas — espaços de compartilhamento de saberes filosóficos, científicos, espirituais, alquímicos etc. As poucas que tiveram acesso à educação, em geral pertencentes à nobreza, começaram a questionar essa exclusão. 

Hoje, o cenário é outro. Segundo o Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres brasileiras têm, em média, maior nível de instrução que os homens, especialmente no que diz respeito à conclusão do ensino superior (Mulheres - 20,7%; Homens - 16,8%). Torna-se imperativo, portanto, aplicar o pensamento Socrático para questionar regras antigas que precisam ser reformuladas à luz do mundo contemporâneo

As Lojas Maçônicas são o palco ideal para o debate filosófico, onde os membros são encorajados a questionar, aprofundar e fundamentar suas convicções — um processo que remete diretamente à Maiêutica.

Na terceira tarefa, portanto, combate-se a ignorância. O paradoxo Socrático — "Só sei que nada sei" — é adotado como postura de humildade intelectual. Reconhecer e admitir a própria ignorância não é um defeito, mas a base para o abandono da opinião (doxa) e a busca pelo conhecimento verdadeiro (epistéme), sendo este o objetivo da filosofia" (FOLHA DO LITORAL NEWS, 2022). 

Esse processo exige que as "opiniões não fundamentadas" sejam descartadas e que se busque o conhecimento verdadeiro. Só assim, conseguimos desenvolver diálogos socráticos que frequentemente trabalham questões éticas.

Em resumo, essas três tarefas transformam a Maçonaria em uma escola moral que usa a reflexão filosófica para moldar seus membros, transformando-os em seres humanos mais justos, íntegros e fraternos. Nesse momento a Pedra Bruta transforma-se em Pedra Polida — um maçom que deve se libertar "das vaidades humanas para se tornar um homem de bons costumes, humilde, justo, fraternal, livre, feliz e perfeito, para então ser a Pedra Polida na construção de uma perfeita sociedade humana" (O BUSCADOR, 2017). Portanto, o pensamento Socrático fornece a metodologia introspectiva e questionadora que a Maçonaria utiliza para auxiliar seus membros a se aproximarem cada vez mais da perfeição moral e ética, transformando-os de forma consciente e ativa, uma vez que são agentes e resultados desse processo.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

FOLHA DO LITORAL NEWS. Opinião (2): o paradoxo socrático na maçonaria. Paranaguá, 03 set. 2022. Disponível em: https://folhadolitoral.com.br/colunistas/maconaria/opiniao-2/. Acesso em: 04 nov. 2025.

FREEMASON.PT. A maçonaria simbólica e a filosofia (II): a jornada do aprendiz. 24 out. 2021. Disponível em: https://www.freemason.pt/a-maconaria-simbolica-e-a-filosofia-parte-ii/. Acesso em: 04 nov. 2025.

GOMB. Os Princípios da Maçonaria. [S.l.: s.n., s.d.]. Disponível em: https://www.gomb.org.br/Os-Princ%C3%ADpios-da-Ma%C3%A7onaria/. Acesso em: 04 nov. 2025.

O BUSCADOR. A Maçonaria Simbólica e a Filosofia. 07 set. 2017. Disponível em: https://www.gvaa.com.br/revista/index.php/OBuscador/article/viewFile/5085/4352. Acesso em: 04 nov. 2025.

REDE COLMEIA. Princípio filosófico na Maçonaria. 22 out. 2015. Disponível em: https://redecolmeia.com.br/2015/10/22/principio-filosofico-na-maconaria/. Acesso em: 04 nov. 2025.

UFAC. Desmistificando a Maçonaria: a partir da experiência na A∴R∴L∴S∴ Universitária Prof.ª Carmem Sylvia de Albuquerque Feitosa. Acre, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufac.br/index.php/SAJEBTT/article/download/2433/1573/6307. Acesso em: 04 nov. 2025.

03 novembro 2025

O que Sócrates Pode nos Ensinar?

Reflexão, Liberdade e Busca Pela Verdade

Sócrates. Meta AI.

"A vida que não é examinada não vale a pena ser vivida" — Sócrates, em A Apologia.

A Maçonaria é, antes de tudo, uma jornada de transformação ética, intelectual e espiritual. E poucos personagens da história da filosofia encarnam tão bem esses ideais quanto Sócrates. Em A Apologia de Sócrates, escrita por Platão, encontramos não apenas a defesa de um homem injustamente acusado, mas um verdadeiro tratado sobre coragem moral, liberdade de pensamento e compromisso com a verdade — valores que ressoam profundamente com a essência da Maçonaria. Por isso, A Apologia de Sócrates é uma das primeiras leituras recomendadas às Aprendizes, que são convidadas a refletir sobre como aplicar os ensinamentos socráticos em suas próprias vidas.

Sócrates foi condenado à morte por "corromper a juventude" e "não acreditar nos deuses da cidade". Na verdade, seu "crime" foi pensar livremente e incentivar outros a fazerem o mesmo. Na Maçonaria, também estimulamos as mulheres a pensarem livremente, a se conhecerem por meio de estudos, leituras e questionamentos. Encorajamos a rejeição de verdades prontas, promovendo a investigação, reflexão e construção de um entendimento próprio. Assim como Sócrates não recuou diante da injustiça, nós também não devemos recuar em nossa busca pela verdade — mesmo que ela nos confronte ou nos cause dor. 

Temos o costume de acreditar nas pessoas mais próximas, mas é preciso duvidar para encontrar a verdade. É preciso coragem para duvidar dos outros e até de nós mesmas, das nossas crenças mais arraigadas, pois aquilo que entendemos como real pode ser apenas uma imagem distorcida da realidade — uma visão filtrada pelas lentes que estamos acostumadas a usar. Lentes invisíveis, mas poderosas, que moldam nossos comportamentos, emoções e reações.

Quando tiramos a lente, matamos o nosso conhecido "eu interior". Às vezes, é necessário deixar morrer quem fomos, para que possamos renascer como quem realmente somos. Esse processo exige entrega, humildade e força. Mas é nele que reside a verdadeira liberdade: a liberdade de ser, de pensar, de sentir — sem amarras, sem ilusões. Como disse Sócrates: "Não é por temor da morte que um homem deve agir, mas por temor de cometer injustiça." (PLATÃO, 2001, p. 45). E há uma forma de injustiça muito danosa: aquela que praticamos contra nós mesmas, quando negamos nossa essência ou silenciamos nossa voz interior.

A máxima socrática "Conhece-te a ti mesmo" é um dos pilares da iniciação maçônica. Sócrates não se dizia sábio — pelo contrário, afirmava que sua sabedoria consistia em reconhecer sua ignorância. Esse é o ponto de partida para a verdadeira sabedoria: "Sei que nada sei" (PLATÃO, 2001, p. 38). Incentivamos nossas irmãs a buscar o conhecimento continuamente, a questionar suas crenças, a explorar outras formas de pensar, a ver o outro lado da moeda, a conhecer outras culturas e períodos históricos. Esse mergulho no "todo" amplia a consciência e fortalece a identidade.

Toda iniciação é um convite à introspecção — não apenas da irmã que passa pelo ritual, mas de todas as que dele participam, com carinho e dedicação, trabalhando nos preparativos e nos bastidores. Ao participarmos de uma Cerimônia Magna ou de uma Oficina, temos a chance de olhar para dentro de nós mesmas. E em cada símbolo, encontramos uma chave capaz de abrir as portas do nosso próprio templo interior.

Sócrates acreditava que a liberdade de pensar era um dever moral. Ele não impunha verdades — fazia perguntas. E é justamente isso que propomos: nada de dogmas, mas reflexão; nada de respostas prontas, mas caminhos de busca. "Sou como um tábano (mutuca) que desperta o cavalo adormecido da cidade" (PLATÃO, 2001, p. 29).

Ele via sua vida como uma missão. Não buscava glória, riqueza ou poder. Seu propósito era servir à verdade e ao bem comum. De forma semelhante, a Maçonaria tem como missão promover o desenvolvimento de mulheres livres e de bons costumes, conscientes de que o verdadeiro valor não está no cargo que ocupam, mas na forma como exercem a liderança — com ética, humildade e compromisso com o bem comum. Mulheres que não buscam prestígio em cargos, nem se deixam inebriar pelo poder que lhes é temporariamente confiado. Queremos que estejam conscientes de que não são o cargo, mas estão no cargo — e, por isso, devem estar comprometidas com a construção de uma sociedade mais fraterna. Não é o título, a comenda ou a posição que importam, mas sim o exemplo que é dado, dentro e fora dos templos.

Por ser a Maçonaria um espaço de crescimento, estudo, liberdade e ação, ela agrega mulheres livres e de bons costumes que, como Sócrates, não têm medo de pensar, de questionar e de transformar, pois ela é feita de irmandade, luz e coragem

Se desejamos descobrir algo em nós mesmas e no mundo, a Maçonaria é um caminho e, como Sócrates, podemos começar com uma simples pergunta: Quem somos?

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

PLATÃO. Apologia de Sócrates. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2001.

REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga: vol. I – Dos Pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Loyola, 2003.

28 outubro 2025

Helena Petrovna Blavatsky

Legado para a Maçonaria

Helena Blavatsky. Copilot.

Helena Petrovna Blavatsky nasceu em 12 de agosto de 1831, em Ekaterinoslav, no Império Russo (atualmente Dnipro, Ucrânia). Era filha do coronel Pytor Alekseyevich Gan, nobre russo de origem alemã, e de Elene Andreyevna Fadeyeva, escritora conhecida pelo pseudônimo Zeneida R-va. Após a morte da mãe, em 6 de julho de 1842, na cidade de Odessa, então parte do Império Russo, Helena foi criada pelos avós maternos em Saratov, cidade localizada na Rússia Europeia, às margens do rio Volta. Ali teve acesso à rica biblioteca aristocrática de seu bisavô, o príncipe Pavel Dolgorukov, iniciado na Maçonaria no século XVIII, o que influenciou profundamente sua formação esotérica.

Recebeu edcuação informal por meio de governantas, aprendendo piano, dança e línguas. Autodidata, desde jovem dedicou-se ao estudo do ocultismo, alquimia e magia, lendo autores como Parecelso, Agrippa e Khunrath. A influência intelectual de sua avó, Helena Pavlovna Dolgorukova, botânica e poliglota, também foi determinante para sua formação.

Casou-se aos 17 anos com Nikifor Vassilievich Blavatsky, vice-governador da província de Erevan. O casamento não foi consumado, e ela fugiu durante a lua de mel. Posteriormente, teve uma união com Michael Betanelly, mas não há registros de filhos.

A partir de 1849, iniciou uma série de viagens que a levaram ao Egito, Índia, Tibete, Europa e Estados Unidos. Em 1875, fundou com Henry Steel Olcott a Sociedade Teosófica, em Nova York. Publicou obras influentes como Isis Sem Véu (1877) e A Doutrina Secreta (1888) que se tornaram pilares do esoterismo moderno.

Annie Besant, iniciada na Maçonaria Mista Le Droit Humain foi sua discípula e sucessora na Sociedade Teosófica. Embora Helena não tenha sido iniciada em nenhuma Loja Maçônica regular — seja masculina, feminina ou mista — foi reconhecida por John Yarker, maçom britânico envolvido com ritos esotéricos, como detentora honorífica de graus simbólicos do Rito de Adoção, sistema ritualístico utilizado por Lojas Femininas na França desde o século XVIII. Entre os títulos que lhe foram atribuídos estão: Mestra Perfeita; Cavaleira da Rosa-Cruz; e Princesa Coroada do Rito de Adoção. Esse reconhecimento era mais simbólico do que funcional, representando respeito por sua contribuição ao pensamento esotérico e à integração de tradições iniciáticas.

Esse reconhecimento não decorreu de iniciação formal em Loja, mas sim de sua atuação nos círculos ocultistas e do profundo conhecimento que demonstrava sobre os rituais e simbolismos maçônicos. Blavatsky estudou obras de maçons como Jean-Marie Ragon, teve contato direto com maçons europeus e orientais, e influenciou discípulos como Charles Leadbeater e Annie Besant — esta última iniciada na Maçonaria Mista Le Droit Humain e sua sucessora na Sociedade Teosófica.

O legado de Blavatsky para as mulheres está na forma como articulou a ideia de uma fraternidade universal, a valorização dos mistérios antigos e a busca pela sabedoria divina — pilares que dialogam diretamente com os ideais Maçônicos. Defendeu o pensamento independente, a libertação das mulheres do dogmatismo religioso e abriu espaço para a atuação feminina em ambientes intelectuais e espirituais. Embora não tenha sido maçom no sentido institucional, foi uma ponte entre o esoterismo oriental e o simbolismo ocidental, inspirando muitos maçons a aprofundarem o aspecto espiritual da Ordem.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

CRANSTON, Sylvia. Helena Blavatsky: a vida e a influência extraordinária da fundadora do movimento teosófico moderno. Brasília: Editora Teosófica, 1992.

EMILIÃO, Sergio. Madame Blavatsky e a Maçonaria. Disponível em: https://masonic.com.br/videos/blavatsky.pdf. Acesso em: 28 out. 2025.

INSTITUTO DE PESQUISAS PROJECIOLÓGICAS E BIOENERGÉTICAS – IPPB. Blavatsky e a Sociedade Teosófica. Disponível em: https://www.ippb.org.br/textos/especiais/mythos-editora/blavatsky-e-a-sociedade-teosofica. Acesso em: 28 out. 2025.

CÍRCULO DE ESTUDOS MAÇÔNICOS DO BRASIL. Helena Blavatsky e a Maçonaria. Disponível em: https://estudosmaconicos.com.br/helena-blavatsky-maconaria/. Acesso em: 28 out. 2025.

WIKIPÉDIA. Helena Blavatsky. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Helena_Blavatsky. Acesso em: 28 out. 2025.

27 outubro 2025

Josefina de Beauharnais e Marie-Henriette Heiniken no Século da Revolução

Duas Mulheres, Dois Caminhos

Josefina e Henriette. Meta AI.

Entre a corte imperial e os campos de batalha, Josefina de Beauharnais e Marie-Henriette desafiaram os limites impostos às mulheres de seu tempo, atuando na maçonaria e inspirando gerações com coragem, inteligência e protagonismo.

No final do século XVIII e início do século XIX, duas mulheres viveram intensamente os acontecimentos que marcaram a Revolução Francesa e o Império Napoleônico: Josefina de Beauharnais, Imperatriz da França, e Marie-Henriette Heiniken, militar e figura ligada à Maçonaria. Embora tenham seguido caminhos distintos, ambas se tornaram símbolos de força e inspiração para mulheres até os dias de hoje.

Josefina, nascida na Martinica em 1763, enfrentou a turbulência da Revolução Francesa, incluindo a perda de seu primeiro marido na guilhotina. Casou-se com Napoleão Bonaparte em 1796 e, em 1804, foi coroada Imperatriz da França. Com elegância e inteligência, Josefina exerceu grande influência na corte, sendo referência em moda, cltura e diplomacia informal. Além disso, ela teve papel ativo na Maçonaria Feminina da época, sendo Grã-Mestre de duas Lojas de Adoção, estrutura maçônica voltada às mulheres, que funcionava sob tutela das lojas masculinas (ISMAIL, 2024). Mesmo após o fim de seu casamento com Napoleão, por não ter gerado herdeiros, Josefina manteve prestígio e respeito, sendo lembrada como uma mulher refinada e estrategista.

Por outro lado, Marie-Henriette Heiniken, também conhecida como Madame de Xaintrailles, viveu uma realidade marcada pela ação direta. Disfarçada de homem, serviu como ajudante de campo do homem que amava, o general Charles Antoine Xaintrailles, durante as Guerras Revolucionárias e Napoleônicas. Participou de combates, incluindo a batalha de Aboukir, em 1799, onde sofreu uma queda de cavalo que a feriu gravemente. Heiniken também esteve ligada à maçonaria: inicialmente seria iniciada em uma Loja de Adoção, mas acabou sendo iniciada na maçonaria regular masculina, recebendo o grau de Aprendiz — um feito extraordinário para uma mulher naquela época. Segundo o Bullock Texas State History Museum, sua iniciação foi motivada pela bravura demonstrada em combate, o que levou os irmãos maçons a reconhecerem seu valor e a admitirem na loja masculina.

Ambas viveram em um mundo em transformação, marcado por revoluções, guerras e mudanças sociais profundas. Josefina, com sua presença na corte e liderança nas Lojas de Adoção, e Heiniken, com sua bravura no campo de batalha e sua iniciação na maçonaria regular, mostraram que as mulheres podiam ocupar espaços de destaque, mesmo em tempos de grande adversidade. Hoje, suas histórias continuam a inspirar mulheres que lutam por reconhecimento, igualdade e protagonismo em diferentes áreas da sociedade.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

ISMAIL, Kennyo. A Maçonaria Feminina. No Esquadro, 20 maio 2024. Disponível em: https://noesquadro.com.br/a-maconaria-feminina/. Acesso em: 20 out. 2025.

BULLOCK TEXAS STATE HISTORY MUSEUM. Portrait of Marie-Henriette Heiniken. American Folk Art Museum, ca. 1800. Disponível em: https://www.thestoryoftexas.com/discover/artifacts/portrait-marie-henriette-heiniken. Acesso em: 20 out. 2025.

26 outubro 2025

Josefina de Beauharnais - Imperatriz

Elegância e Poder no Império Napoleônico

Josefina de Beauharnais. Meta AI
A Imperatriz Josefina de Beauharnais (Marie Josèphe Rose Tascher de La Pagerie), esposa de Napoleão Bonaparte, é uma figura central na história da maçonaria feminina. Sua atuação como Grã-Mestra das Lojas de Adoção no início do século XIX representa um marco na luta pela inclusão das mulheres em espaços iniciáticos e filosóficos.

Josefina nasceu em 23 de junho de 1763, em Les Trois-Îlets, na Martinica, então colônia francesa. Filha de Joseph Gaspard Tascher de La Pagerie e Rose Claire des Verges de Sannois, foi educada de forma doméstica, como era comum entre as elites coloniais (WIKIPEDIA, 2025).

Em 1779, com 16 anos de idade, casou-se com Alexandre de Beauharnais (1760-1794), com quem teve dois filhos: Eugênio (1781-1824) e Hortênsia (1783-1837). Alexandre foi guilhotinado em 1794 durante o Terror da Revolução Francesa, e Josefina (com 31 anos de idade) foi presa, sendo libertada após a queda de Robespierre (WIKIPEDIA, 2025).

Segundo a Grande Loja Simbólica da Lusitânia (2018), Josefina foi iniciada na Maçonaria em 1790, na cidade de Estrasburgo, tornando-se membro ativo das Lojas de Adoção Fidélité e Sainte Sophie, consideradas paramaçônicas. Essa iniciação ocorreu enquanto seu marido, Alexandre de Beauharnais, servia no exército do Reno, do qual se tornaria comandante-chefe em 1793. Curiosamente, a combatente Marie-Henriette Heiniken também atuou nesse exército como ajudante de campo do general Charles Antonie Dominique Lauthier-Xaintrailles, seu companheiro, entre 1792 e 1793.

Em 1796, casou-se com Napoleão Bonaparte, tornando-se Imperatriz dos Franceses em 1804. O casamento foi anulado em 1810 por não gerar herdeiros, mas Josefina manteve boa relação com Napoleão até sua morte em 1814 com 51 anos de idade.

Posteriormente, entre 1804 e 1805, Josefina atuou como Grã-Mestra das Lojas de Adoção Regular da França, promovendo a criação de lojas femininas paralelas às masculinas, com o objetivo de incluir mais mulheres na maçonaria. Embora o papel dela seja central para as tradições maçônicas femininas, alguns historiadores acadêmicos debatem se sua liderança foi de fato ativa ou predominantemente honorária e de prestígio social.

Segundo Santos (2011), as Lojas de Adoção eram tuteladas por lojas masculinas e tinham funções limitadas, muitas vezes restritas a bailes e festividades. Tinham, também, ritos próprios, adaptados da tradição maçônica, com graus, símbolos e alegorias morais. Sob a liderança de Josefina, essas lojas ganharam legitimidade e visibilidade, representando um avanço na emancipação feminina dentro da maçonaria.

Josefina é considerada uma precursora da maçonaria feminina moderna, tendo inspirado movimentos posteriores como o Le Droit Humain, fundado por Marie Deraismes em 1893. Sua atuação como Grã-Mestra simboliza a possibilidade de liderança feminina em espaços tradicionalmente masculinos (HIVERT-MESSECA, 2015).

Josefina também teve papel na definição do gosto artístico e decorativo da França pós-revolucionária. Como Imperatriz, ela contribuiu para estabelecer o chamado estilo Consulado e Império, caracterizado pela inspiração na arte e arquitetura da Antiguidade clássica, com elementos como colunas, esfinges, águas e liras. Esse estilo se manifestava tanto na decoração de interiores quanto na moda, com móveis de linhas retas e tecidos nobres, além de vestidos de corte império que se tornaram símbolo de elegância feminina. O Castelo de Malmaison, residência pessoal de Josefina, tornou-se referência estética e cultural, influenciando palácios e residências aristocráticas em toda a Europa. Sua sensibilidade artística e refinamento ajudaram a consolidar uma estética que refletia o poder, a ordem e a sofisticação do novo regime napoleônico.

Além disso, sua trajetória de vida — de viúva empobrecida à Imperatriz — reflete resiliência, inteligência social e influência política, tornando-a modelo de elegância, diplomacia e poder feminino em tempos de revolução e império. 

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

GRANDE LOJA SIMBÓLICA DA LUSITÂNIA. Josefina de Beauharnais e a Maçonaria de Adoção. Facebook, 29 ago. 2018. Disponível em: https://www.facebook.com/grandelojasimbolicalusitania/posts/httpsgrandelojasimbolicalusitaniapt/1829749607079202. Acesso em: 19 out. 2025. [facebook.com]

HIVERT-MESSECA, Gisèle; HIVERT-MESSECA, Yves. Femmes et Franc-maçonnerie: Trois siècles de franc-maçonnerie féminine et mixte en France (de 1740 à nos jours). 2. ed. Paris: Éditions Dervy, 2015.

SANTOS, Fernanda Cristina. A mulher na história da maçonaria portuguesa: opressão e liberdade no contexto maçónico. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2011. Disponível em: https://archive.org/download/a-mulher-na-historia-da-maconaria-portuguesa. Acesso em: 19 out. 2025.

WIKIPÉDIA. Josefina de Beauharnais. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Josefina_de_Beauharnais. Acesso em: 19 out. 2025.

23 outubro 2025

Marie-Louise de Monspey

Marie-Louise de Monspey. Meta AI.

Mística, Visionária e Pioneira na Maçonaria Esotérica Francesa

A história da presença feminina na maçonaria começa com episódios marcantes de coragem e ruptura. Elizabeth Aldworth, iniciada por volta de 1712 na Irlanda, é considerada a primeira mulher aceita em uma loja maçônica, apesar de sua entrada ser considerada acidental. Poucas décadas depois, na França, surge Marie-Louise de Monspey, uma mulher que, embora não tenha sido iniciada formalmente em uma loja maçônica como Aldworth, exerceu uma influência profunda e estruturante na maçonaria esotérica como veremos a seguir.

Marie-Louise de Monspey, também conhecida como Églée de Vallière ou Madame de Vallière, foi uma figura marcante da nobreza francesa e uma das mulheres mais enigmáticas e influentes do misticismo europeu no século XVIII. Nascida em 1 de outubro de 1731, na cidade de Saint-Georges-de-Reneins, ela viveu até os 82 anos, falecendo em sua cidade natal em 16 de maio de 1814.

Filha de Joseph-Henri de Monspey, marquês de Monspey e conde de Vallière, e de Marie-Anne-Livie de Pontevès d'Agoult, descendente da tradicional nobreza provençal, Marie-Louise herdou não apenas títulos, mas também uma profunda ligação com o universo espiritual e esotérico. Recebeu o títlo de Condessa de Vallière e tornou-se chanoinesse (canonesa) da abadia de Remiremont, uma prestigiada instituição religiosa que reunia mulheres nobres dedicadas à vida espiritual, mas sem o rigor monástico das ordens tradicionais — o que favorecia o desenvolvimento de estudos místicos e esotéricos.

Ficou conhecida como o "Agente Desconhecido", pseudônimo sob o qual produziu uma vasta obra mística inspirada por visões da Virgem Maria. Ao longo da vida, escreveu mais de cem cadernos com reflexões espirituais, interpretações esotéricas e ensinamentos sobre temas como magnetismo animal, anatomia simbólica e purificação da alma. Segundo Bergé (2009) ela relata em seus manuscritos: "Onde aprendi a escrever? No silêncio de uma reclusão, abatida por uma longa enfermidade, considerando apenas uma decadência iminente. Invoquei meu anjo guardião, e a bateria respondeu. Eis o começo."

Seu trabalho teve papel fundamental na maçonaria esotérica francesa, especialmente no desenvolvimento dos altos graus do Rito Escocês Retificado, ao lado de Jean-Baptiste Willermoz. Esse rito, criado em 1778, combina simbolismo maçônico, ideais templários e espiritualidade cristã, com o objetivo de promover a reintegração moral e espiritual do homem por meio da introspecção, da caridade e da prática das virtudes. Os textos de Marie-Louise foram estudados por maçons de graus superiores, que viam em suas palavras uma ponte entre o simbolismo maçônico e a espiritualidade cristã esotérica.

Em 1785, segundo Bergé (2009), seus cadernos foram entregues a Willermoz por seu irmão Alexandre de Monspey, contendo escritos que ele descreveu como: "milagrosas missivas vindas do Céu, ditadas por espíritos puros." 

Em uma época em que o misticismo feminino era frequentemente marginalizado, Marie-Louise de Monspey conseguiu deixar uma marca profunda e duradoura. Sua obra continua a ser estudada por iniciados e pesquisadores da espiritualidade oculta, revelando uma mulher que soube unir nobreza, fé, sabedoria e coragem em uma trajetória singular. Ela conseguiu deixar uma marca profunda na espiritualidade e na maçonaria esotérica francesa.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

BERGÉ, Christine. Le corps et la plume. Écritures mystiques de l’Agent inconnu. Revue d’histoire du XIXe siècle, n. 38, 2009. Disponível em: https://journals.openedition.org/rh19/3867. Acesso em: 22 out. 2025.

BERGÉ, Christine. Identification d'une femme. Les écritures de l'Agent inconnu et la franc-maçonnerie ésotérique au XVIIIe siècle. In: L’Homme, 1997.

JOLY, Alice. Willermoz et l’Agent Inconnu. Paris: La Tour Saint Jacques, 1962.

21 outubro 2025

O que É, de Fato, Participar de uma Loja Maçônica?

Comprometimento, Contribuição e Presença Significativa 

Irmã maçom. Meta AI.
A Maçonaria, em sua essência, é uma escola de valores. Justiça, fraternidade, liberdade e igualdade não são apenas palavras inscritas em nossos rituais — são princípios que devem guiar cada decisão, cada gesto, cada votação. Esses valores formam o cerne da filosofia maçônica e moldam sua abordagem em relação à vida e à sociedade (MAÇONARIA DO PARANÁ, 2024).

E é justamente nesse ponto que precisamos refletir: o que significa, de fato, participar de uma Loja Maçônica?

Uma irmã atuante não é somente aquela que atingiu o percentual mínimo de presença física em Loja. A norma dos 50% mínimos de presença existe, é verdade. Mas a justiça maçônica vai além da letra da lei — ela exige discernimento, sensibilidade e equidade.

A irmã que cumpre suas obrigações administrativas em qualquer um dos cargos, embora nem sempre fisicamente presente, é constante, efetiva e essencial para o funcionamento da Loja.

A Maçonaria nos ensina que a verdadeira presença não se mede apenas pela cadeira ocupada em sessão, mas pela dedicação, pelo comprometimento e pelo cuidado com a egrégora. Ignorar isso é reduzir a participação a um número, a uma estatística — e isso não condiz com os valores que juramos defender. Por isso, alguns cargos administrativos (Grandes Secretariados entre outros) ficam fora dessa regra. 

Levanta-se aqui uma questão ética: é justo aplicar uma regra sem considerar o contexto e o impacto emocional sobre as irmãs? A resposta, para quem compreende a Maçonaria como espaço de construção coletiva, é clara: NÃO.

Victor Hugo, em Os Miseráveis, nos lembra que "a lei pode ser justa, mas a justiça vai além da lei" — uma reflexão que transcende o legalismo e nos convida à empatia e à equidade (HUGO, 182 apud CHAVES, 2017).

E é esse "além" que precisa ser cultivado dentro das Lojas. A pressão sobre quem se ausenta por motivos legítimos (doença — própria ou de um familiar próximo — um curso, problemas familiares complicados e até financeiros etc.) não fortalece a egrégora — sufoca. E quando atitudes excludentes se acumulam, o afastamento emocional é inevitável, mesmo que a presença física continue.

Irmãs em Loja. Copilot.

Participar de uma Loja Maçônica é contribuir com o coração, com o tempo (dentro ou fora da Loja), com os talentos e com a alma. É estar presente nos bastidores, nos cuidados invisíveis, nas palavras de apoio e nas ações concretas. É ser vista, reconhecida e valorizada por tudo o que se faz — e não por quantas sessões se frequentou.

Contudo, é preciso também refletir sobre outro ponto sensível: há irmãs que estão sempre presentes em Loja, mas não contribuem com nada além da presença física. Não ajudam na montagem do templo, na organização ao final dos trabalhos, tampouco entregam os estudos ou tarefas solicitadas. Isso não é participação plena — é presença vazia.

A Maçonaria exige envolvimento. Mesmo as Mestres, que já entregaram trabalhos em etapas anteriores, devem continuar contribuindo, revisando, ampliando ou até refazendo seus estudos. Isso não apenas fortalece o crescimento coletivo, como também permite que cada irmã perceba sua própria evolução na compreensão dos temas abordados.

Participar é estar em movimento. É contribuir com o crescimento de todas ali presentes, mesmo que não se ocupe um cargo que exija tarefas extra Loja. A verdadeira participação é ativa, generosa e comprometida com o propósito maior da Ordem.

É preciso incluir, acolher e ampliar. Que a Maçonaria Feminina continue sendo um espaço de justiça viva, onde cada irmã é vista em sua totalidade — por sua entrega, por sua presença significativa, por sua contribuição real — e não apenas por sua frequência.

Conheça os valores da Fênix Nut acessando o nosso site (www.fenixnut.com.br) na página SOBRE NÓS.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

CHAVES, Rosângela. “Os Miseráveis”, a lei e a justiça. Ermira Cultura, 2017. Disponível em: https://ermiracultura.com.br/2017/12/20/os-miseraveis-a-lei-e-a-justica. Acesso em: 21 out. 2025.

HUGO, Victor. Os Miseráveis. Tradução de Isabel Vieira. São Paulo: Martin Claret, 2021.

MAÇONARIA DO PARANÁ. Princípios Fundamentais da Maçonaria: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. 2024. Disponível em: https://maconariadoparana.org.br/noticia/principios-fundamentais-da-maconaria-liberdade-igualdade-e-fraternidade. Acesso em: 21 out. 2025.

18 outubro 2025

Marie-Henriette Heiniken

A Combatente Esquecida da Revolução Francesa

Marie-Henriette. Meta AI.

Marie-Henriette Heiniken nasceu em BerlimPrússia, no século XVIII em data desconhecida. Não há registros disponíveis sobre os nomes de seus pais. Apaixonou-se pelo general Charles Antoine Dominique Lauthier-Xaintrailles com quem manteve uma relação amorosa. Segundo o artigo de Guida (2018), apesar de ter adotado o nome “Madame de Xaintrailles” como sinal de esperança de casamento, a união nunca se concretizou. O casal não teve filhos.

Para acompanhar o general Xaintrailles, Marie-Henriette disfarçou-se de homem e serviu nas Guerras Revolucionárias Francesas como sua ajudante de campo. Demonstrou coragem e habilidade militar em diversas batalhas, destacando-se na recuperação de um parque de artilharia dos prussianos, no salvamento de batalhões franceses em situações críticas e na travessia a nado de um rio para levar informações ao quartel-general, salvando Armée du Rhin (CRUYPLANTS; AERTS, 1912)

Foi afastada do exército por volta de 1793, durante uma purga (exclusão) de elementos femininos das forças armadas francesas. Essa exclusão das mulheres refletia a tentativa de reafirmar normas patriarcais em meio à instabilidade política e social da época.

Em 1795, Marie-Henriette Heiniken retornou ao serviço militar, possivelmente com o apoio de Lazare Carnot, figura influente no governo revolucionário. Sua reintegração pode ter sido motivada por sua comprovada competência militar e pela necessidade de quadros experientes em meio às guerras revolucionárias.

Lazare Nicolas Marguerite Carnot (1753-1823), conhecido como o "Organizador da Vitória", foi engenheiro militar, matemático e político, membro do Comitê de Salvação Pública, criador da levée en masse, diretor do Diretório (1795-1797) e ministro da Guerra em 1800.

Com o término de seu relacionamento com Xaintrailles — que a abandonou em 1798, após anos de convivência e batalhas compartilhadas — Henriette foi enviada ao Egito em missão confidencial por Napoleão Bonaparte. Atuando como ajudante de campo do general Jacques-François Menou, participou da Batalha de Aboukir (1799), um confronto terrestre contra tropas otomanas que haviam desembarcado na costa egípcia. Durante os combates, sofreu uma grave queda de cavalo, o que a levou a se afastar do serviço ativo em 1801 (WHEELWRIGHT, 2020).

Jacques-François Menou, conhecido como Abdallah de Menou após sua conversão ao Islã, foi um importante militar e político francês, deputado da nobreza nos Estados Gerais, presidente da Assembleia Nacional Constituinte em 1790 e comandante na campanha do Egito.

Por volta de 1800, Marie-Henriette Heiniken foi iniciada na Maçonaria na Loja Les Frères Artistes, em Paris, presidida por Jean-Guillaume-Augustin Cuvelier. A loja planejava uma cerimônia de Adoção, voltada às mulheres, mas ao descobrirem sua verdadeira identidade como guerreira combatente, os irmãos decidiram iniciá-la na Maçonaria regular masculina, conferindo-lhe o grau de Aprendiz (GUIDA, 2018).

Sua resposta à proposta de se tornar maçom foi memorável:

“Fui um homem para minha pátria, serei um homem para meus Irmãos.” (GUIDA, 2018)

Apesar de sua bravura, após a queda de Napoleão, perdeu a pensão que recebia do Império Napoleônico — por ter sido antiga companheira do general Xaintrailles —, vindo a morrer em condições precárias (GUIDA, 2018; WIKIPEDIA, 2025). 

Sobre a Pensão Recebida

Segundo a Wikipedia francesa (2025), Marie-Henriette Heiniken desejava receber uma pensão como ex-combatente, mas o reconhecimento oficial veio apenas por sua ligação com o general Xaintrailles, e não por mérito próprio. Morin (2010) relata que Marie-Henriette Heiniken escreveu ao próprio Napoleão Bonaparte, indignada por lhe recusarem a pensão como ex-combatente, alegando que o motivo da recusa era o fato de ela ser mulher e declarou:

"Não fiz a guerra como mulher, fiz a guerra como um bravo." (MORIN, 2010, p. 36). 

Ela também citou na carta que participou de sete campanhas do Reno como ajudante de campo, e que o que importava era o cumprimento do dever, não o sexo de quem o desempenhava.

A pensão foi suspensa em 1814, após a queda de Napoleão Bonaparte e a restauração da monarquia dos Bourbons, com Luís XVIII no trono. Com a mudança de regime, muitos benefícios concedidos pelo Império foram revogados, especialmente os que não estavam formalmente registrados ou que envolviam figuras consideradas controversas, como as mulheres combatentes (WIKIPEDIA, 2025). Assim, após o fim de seu relacionamento com Xaintrailles, que a abandonou, e com o encerramento de sua carreira militar, Henriette enfrentou severas dificuldades sociais e financeiras, vivendo seus últimos anos na pobreza.

Marie-Henriette Heiniken representa um símbolo de coragem, transgressão de normas de gênero e pioneirismo feminino tanto no campo militar quanto na maçonaria. Sua história é frequentemente citada em enciclopédias maçônicas e estudos sobre mulheres guerreiras e maçons.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

CRUYPLANTS, Eugène; AERTS, Winand. Dumouriez dans les ci-devant Pays-Bas autrichiens. Bruxelles: A. de Boeck, 1912.

CRUYPLANTS, Eugène; AERTS, Winand. La Belgique sous la domination française (1792–1815): Dumouriez dans les ci-devant Pays-Bas autrichiens. Paris: Librairie générale des sciences, arts et lettres, 1912. Disponível em: https://archive.org/details/AertsCruyplants1912Bnf34083962b. Acesso em: 17 out. 2025.

GUIDA, Francesco. Una storia di Amore e Massoneria Francesco Guida - Blog, 21 nov, 2018. Disponível em: https://www.francescoguida.org/2018/11/21/una-storia-di-amore-e-massoneria. Acesso em: 17 out. 2025.

MORIN, Tania Machado. As marselhesas no front. Revista de História da Biblioteca Nacional, Ano 6, Nº 63, dezembro 2010, p. 36.

MORIN, Jean-Frédéric. The Two-Level Game of Transnational Network: The Case of the Access to Medicines CampaignInternational Interactions, v. 36, n. 4, p. 309–334, 2010. Disponível em:
https://www.academia.edu/1973122/Morin_J_F_2010_The_Two_Level_Game_of_Transnational_Network_The_Case_of_the_Access_to_Medicines_Campaign_International_Interactions_vol_36_4_p_309_334. Acesso em: 17 out. 2025.

WHEELWRIGHT, Julie. Sisters in Arms: Female warriors from antiquity to the new millennium. Londres: Bloomsbury Publishing, 2020. p. 192-194.

WIKIPÉDIA. Marie-Henriette Heiniken. Disponível em: https://fr.wikipedia.org/wiki/Marie-Henriette_Heiniken. Acesso em: 17 out. 2025.

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