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04 novembro 2025

O Diálogo Socrático na Maçonaria

Autoconhecimento e o Aperfeiçoamento Moral

Imagem Meta AI.
O pensamento Socrático é um conceito derivado do filósofo grego Sócrates. Fundamentalmente, é uma abordagem para o autodescobrimento e a busca pela verdade através do questionamento e do raciocínio. Seu funcionamento está alicerçado em dois pilares principais:

1. Conhece-te a ti mesmo - Esta é a máxima mais famosa de Sócrates. Ele acreditava que a primeira tarefa de toda pessoa é mergulhar em seu próprio interior para conhecer suas virtudes, vícios, limites e potenciais. Para Sócrates, o conhecimento de si mesmo é o ponto de partida para a sabedoria e para uma vida autêntica e ética.

2. Método da Maiêutica e Ironia:

  • Ironia: É o ponto de partida, onde Sócrates fingia ignorância e humildemente questionava os outros sobre seus conhecimentos ou crenças (o famoso paradoxo: "Só sei que nada sei"). Isso levava o interlocutor a reconhecer a própria ignorância e a fragilidade das suas "opiniões" (doxa).
  • Maiêutica (Parto de Ideias): Após a ironia, Sócrates, através de perguntas sucessivas e incisivas, ajudava o indivíduo a "dar à luz" ao seu próprio conhecimento e à verdade (epistéme) que já estavam latentes em sua mente. O conhecimento, portanto, não é transmitido, mas descoberto de dentro para fora.

A Aplicação na Maçonaria

Por ser a Maçonaria uma "escola de aperfeiçoamento moral e intelectual", o pensamento Socrático se encaixa perfeitamente nesse propósito, especialmente na jornada de desenvolvimento de seus membros, o que ocorre já no primeiro grau, ou seja, o grau de Aprendiz. 

Nessa fase, o Maçom é simbolicamente comparado a uma Pedra Bruta — um bloco sem forma, que representa o ser humano em seu estado natural, com suas imperfeições e vícios. Segundo a filosofia maçônica: "O grande filósofo Sócrates ensina ao Aprendiz em filosofia, que a primeira coisa a fazer é aprender a pensar" (FREEMASON.PT, 2021).

Para aplicar o pensamento Socrático em nossa vida incentivamos a prática de três tarefas, conforme a seguir:

A primeira e mais essencial tarefa é a do autoconhecimento. O preceito socrático "Conhece-te a ti mesmo" é o catalisador para que o(a) Aprendiz inicie o trabalho de "desbastar a Pedra Bruta"— ou seja, identificar e corrigir suas próprias falhas. Este é um trabalho que se estende por toda a vida, por isso o Maçom se autodenomina um "eterno aprendiz". Para isso, a Maçonaria faz uso de símbolos, rituais e instruções, incentivando seus membros a uma reflexão constante sobre sua conduta, suas intenções e seu papel no mundo, espelhando a introspecção socrática. 

A segunda tarefa é o estímulo ao Livre Pensar e ao Raciocínio (Maiêutica). A Liberdade de Pensamento é um dos princípios cardeais da Maçonaria. Assim como Sócrates desafiava as crenças dogmáticas, a Maçonaria incentiva seus membros a investigarem a verdade por si mesmos, sem se limitar a pensamentos primários ou opiniões superficiais (FREEMASON.PT, 2021).

O maçom deve defender a "plena liberdade de expressão do pensamento, como direito fundamental do ser humano" (UFAC, 2019). Nesse contexto, destaca-se também o princípio da "igualdade" (GOMB, [s.d.]). Infelizmente, ainda hoje, especialmente no Brasil, há quem negue a presença feminina na Maçonaria, alegando que "não existe maçonaria feminina". Essa visão ignora a própria história da humanidade, repleta de exemplos de participação ativa de mulheres na Ordem.

A proibição da iniciação de mulheres na Maçonaria, frequentemente atribuída a James Anderson, aparece nas Constituições dos Franco-Maçons (também conhecidas como a Constituição de Anderson), publicadas em 1723. No século XVIII, a maioria das mulheres sequer sabia ler e escrever, o que dificultava sua presença e participação em Lojas Maçônicas — espaços de compartilhamento de saberes filosóficos, científicos, espirituais, alquímicos etc. As poucas que tiveram acesso à educação, em geral pertencentes à nobreza, começaram a questionar essa exclusão. 

Hoje, o cenário é outro. Segundo o Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres brasileiras têm, em média, maior nível de instrução que os homens, especialmente no que diz respeito à conclusão do ensino superior (Mulheres - 20,7%; Homens - 16,8%). Torna-se imperativo, portanto, aplicar o pensamento Socrático para questionar regras antigas que precisam ser reformuladas à luz do mundo contemporâneo

As Lojas Maçônicas são o palco ideal para o debate filosófico, onde os membros são encorajados a questionar, aprofundar e fundamentar suas convicções — um processo que remete diretamente à Maiêutica.

Na terceira tarefa, portanto, combate-se a ignorância. O paradoxo Socrático — "Só sei que nada sei" — é adotado como postura de humildade intelectual. Reconhecer e admitir a própria ignorância não é um defeito, mas a base para o abandono da opinião (doxa) e a busca pelo conhecimento verdadeiro (epistéme), sendo este o objetivo da filosofia" (FOLHA DO LITORAL NEWS, 2022). 

Esse processo exige que as "opiniões não fundamentadas" sejam descartadas e que se busque o conhecimento verdadeiro. Só assim, conseguimos desenvolver diálogos socráticos que frequentemente trabalham questões éticas.

Em resumo, essas três tarefas transformam a Maçonaria em uma escola moral que usa a reflexão filosófica para moldar seus membros, transformando-os em seres humanos mais justos, íntegros e fraternos. Nesse momento a Pedra Bruta transforma-se em Pedra Polida — um maçom que deve se libertar "das vaidades humanas para se tornar um homem de bons costumes, humilde, justo, fraternal, livre, feliz e perfeito, para então ser a Pedra Polida na construção de uma perfeita sociedade humana" (O BUSCADOR, 2017). Portanto, o pensamento Socrático fornece a metodologia introspectiva e questionadora que a Maçonaria utiliza para auxiliar seus membros a se aproximarem cada vez mais da perfeição moral e ética, transformando-os de forma consciente e ativa, uma vez que são agentes e resultados desse processo.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

FOLHA DO LITORAL NEWS. Opinião (2): o paradoxo socrático na maçonaria. Paranaguá, 03 set. 2022. Disponível em: https://folhadolitoral.com.br/colunistas/maconaria/opiniao-2/. Acesso em: 04 nov. 2025.

FREEMASON.PT. A maçonaria simbólica e a filosofia (II): a jornada do aprendiz. 24 out. 2021. Disponível em: https://www.freemason.pt/a-maconaria-simbolica-e-a-filosofia-parte-ii/. Acesso em: 04 nov. 2025.

GOMB. Os Princípios da Maçonaria. [S.l.: s.n., s.d.]. Disponível em: https://www.gomb.org.br/Os-Princ%C3%ADpios-da-Ma%C3%A7onaria/. Acesso em: 04 nov. 2025.

O BUSCADOR. A Maçonaria Simbólica e a Filosofia. 07 set. 2017. Disponível em: https://www.gvaa.com.br/revista/index.php/OBuscador/article/viewFile/5085/4352. Acesso em: 04 nov. 2025.

REDE COLMEIA. Princípio filosófico na Maçonaria. 22 out. 2015. Disponível em: https://redecolmeia.com.br/2015/10/22/principio-filosofico-na-maconaria/. Acesso em: 04 nov. 2025.

UFAC. Desmistificando a Maçonaria: a partir da experiência na A∴R∴L∴S∴ Universitária Prof.ª Carmem Sylvia de Albuquerque Feitosa. Acre, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufac.br/index.php/SAJEBTT/article/download/2433/1573/6307. Acesso em: 04 nov. 2025.

03 novembro 2025

O que Sócrates Pode nos Ensinar?

Reflexão, Liberdade e Busca Pela Verdade

Sócrates. Meta AI.

"A vida que não é examinada não vale a pena ser vivida" — Sócrates, em A Apologia.

A Maçonaria é, antes de tudo, uma jornada de transformação ética, intelectual e espiritual. E poucos personagens da história da filosofia encarnam tão bem esses ideais quanto Sócrates. Em A Apologia de Sócrates, escrita por Platão, encontramos não apenas a defesa de um homem injustamente acusado, mas um verdadeiro tratado sobre coragem moral, liberdade de pensamento e compromisso com a verdade — valores que ressoam profundamente com a essência da Maçonaria. Por isso, A Apologia de Sócrates é uma das primeiras leituras recomendadas às Aprendizes, que são convidadas a refletir sobre como aplicar os ensinamentos socráticos em suas próprias vidas.

Sócrates foi condenado à morte por "corromper a juventude" e "não acreditar nos deuses da cidade". Na verdade, seu "crime" foi pensar livremente e incentivar outros a fazerem o mesmo. Na Maçonaria, também estimulamos as mulheres a pensarem livremente, a se conhecerem por meio de estudos, leituras e questionamentos. Encorajamos a rejeição de verdades prontas, promovendo a investigação, reflexão e construção de um entendimento próprio. Assim como Sócrates não recuou diante da injustiça, nós também não devemos recuar em nossa busca pela verdade — mesmo que ela nos confronte ou nos cause dor. 

Temos o costume de acreditar nas pessoas mais próximas, mas é preciso duvidar para encontrar a verdade. É preciso coragem para duvidar dos outros e até de nós mesmas, das nossas crenças mais arraigadas, pois aquilo que entendemos como real pode ser apenas uma imagem distorcida da realidade — uma visão filtrada pelas lentes que estamos acostumadas a usar. Lentes invisíveis, mas poderosas, que moldam nossos comportamentos, emoções e reações.

Quando tiramos a lente, matamos o nosso conhecido "eu interior". Às vezes, é necessário deixar morrer quem fomos, para que possamos renascer como quem realmente somos. Esse processo exige entrega, humildade e força. Mas é nele que reside a verdadeira liberdade: a liberdade de ser, de pensar, de sentir — sem amarras, sem ilusões. Como disse Sócrates: "Não é por temor da morte que um homem deve agir, mas por temor de cometer injustiça." (PLATÃO, 2001, p. 45). E há uma forma de injustiça muito danosa: aquela que praticamos contra nós mesmas, quando negamos nossa essência ou silenciamos nossa voz interior.

A máxima socrática "Conhece-te a ti mesmo" é um dos pilares da iniciação maçônica. Sócrates não se dizia sábio — pelo contrário, afirmava que sua sabedoria consistia em reconhecer sua ignorância. Esse é o ponto de partida para a verdadeira sabedoria: "Sei que nada sei" (PLATÃO, 2001, p. 38). Incentivamos nossas irmãs a buscar o conhecimento continuamente, a questionar suas crenças, a explorar outras formas de pensar, a ver o outro lado da moeda, a conhecer outras culturas e períodos históricos. Esse mergulho no "todo" amplia a consciência e fortalece a identidade.

Toda iniciação é um convite à introspecção — não apenas da irmã que passa pelo ritual, mas de todas as que dele participam, com carinho e dedicação, trabalhando nos preparativos e nos bastidores. Ao participarmos de uma Cerimônia Magna ou de uma Oficina, temos a chance de olhar para dentro de nós mesmas. E em cada símbolo, encontramos uma chave capaz de abrir as portas do nosso próprio templo interior.

Sócrates acreditava que a liberdade de pensar era um dever moral. Ele não impunha verdades — fazia perguntas. E é justamente isso que propomos: nada de dogmas, mas reflexão; nada de respostas prontas, mas caminhos de busca. "Sou como um tábano (mutuca) que desperta o cavalo adormecido da cidade" (PLATÃO, 2001, p. 29).

Ele via sua vida como uma missão. Não buscava glória, riqueza ou poder. Seu propósito era servir à verdade e ao bem comum. De forma semelhante, a Maçonaria tem como missão promover o desenvolvimento de mulheres livres e de bons costumes, conscientes de que o verdadeiro valor não está no cargo que ocupam, mas na forma como exercem a liderança — com ética, humildade e compromisso com o bem comum. Mulheres que não buscam prestígio em cargos, nem se deixam inebriar pelo poder que lhes é temporariamente confiado. Queremos que estejam conscientes de que não são o cargo, mas estão no cargo — e, por isso, devem estar comprometidas com a construção de uma sociedade mais fraterna. Não é o título, a comenda ou a posição que importam, mas sim o exemplo que é dado, dentro e fora dos templos.

Por ser a Maçonaria um espaço de crescimento, estudo, liberdade e ação, ela agrega mulheres livres e de bons costumes que, como Sócrates, não têm medo de pensar, de questionar e de transformar, pois ela é feita de irmandade, luz e coragem

Se desejamos descobrir algo em nós mesmas e no mundo, a Maçonaria é um caminho e, como Sócrates, podemos começar com uma simples pergunta: Quem somos?

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

PLATÃO. Apologia de Sócrates. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2001.

REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga: vol. I – Dos Pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Loyola, 2003.

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