O Papel da Mulher e a Inclusão Iniciática na França - Século XVIII
A história da participação feminina
na Maçonaria é marcada por exclusões formais e resistências institucionais, mas
também por iniciativas discretas e inovadoras que buscaram incluir mulheres em
ambientes iniciáticos. Uma dessas iniciativas foi a criação da Ordem dos
Cavaleiros e das Ninfas da Rosa, na França, durante o século XVIII. Esta
organização paramaçônica permitia a participação feminina em rituais simbólicos
semelhantes aos da Maçonaria, embora de forma secreta e restrita
(DACAMINO, 2023).
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| Imperatriz Josefina. Copilot. |
A Ordem surgiu em um contexto de efervescência filosófica e espiritual, marcado pelo Iluminismo e pela expansão dos ritos esotéricos na Europa. A França, em especial, tornou-se um centro de experimentação iniciática, com o surgimento das Lojas de Adoção, que permitiam a iniciação de mulheres sob supervisão masculina. A Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa foi uma derivação mais simbólica e ritualística desse movimento, com estrutura própria e forte influência rosacruciana (DACAMINO, 2023).
Embora os registros sobre a fundação
da Ordem sejam escassos, acredita-se que ela tenha sido criada entre 1740 e
1760, desaparecendo gradualmente após a Revolução Francesa,
por volta do início do século XIX. A instabilidade política e a perseguição às
sociedades secretas contribuíram para sua extinção silenciosa (DACAMINO, 2023).
Entre os nomes femininos associados à Ordem, destacam-se figuras da aristocracia e da elite intelectual francesa. A Duquesa de Bourbon (Maria Teresa Luísa de Saboia-Carignano), por exemplo, foi iniciada entre 1773 e 1775 na Loja de Adoção Saint-Jean de La Candeur, em Paris, tornando-se a primeira mulher a receber o título de Grã-Mestra das Lojas de Adoção. Ela presidiu a Loja até 1780, promovendo a criação de novas Lojas, incentivando a participação feminina e exercendo forte influência sobre a estrutura da Ordem das Ninfas da Rosa.
Outro nome que podemos citar é a Imperatriz Josefina, esposa de Napoleão Bonaparte, que, embora não
tenha sido iniciada formalmente, foi uma simpatizante ativa e defensora das
práticas maçônicas femininas, contribuindo para sua preservação durante o
Império Napoleônico. Atuou como Grã-Mestra honorária de Lojas de Adoção, contribuindo para sua preservação e retomada após o colapso revolucionário (DACAMINO, 2023; WIKIPÉDIA, 2023).
A estrutura da Ordem dividia seus
membros entre Cavaleiros (homens) e Ninfas (mulheres), com
rituais que envolviam símbolos florais, mitológicos e alquímicos. O objetivo
era cultivar virtudes como a pureza, a sabedoria e a fraternidade, por meio de
cerimônias que evocavam o ideal rosacruciano de elevação espiritual.
Apesar de não ter sido reconhecida
pelas potências maçônicas regulares, a Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da
Rosa desempenhou um papel fundamental na história da inclusão feminina na
maçonaria. Ela antecipou movimentos posteriores, como a maçonaria mista
e a criação de ordens femininas autônomas, e deixou um legado simbólico que
ainda inspira estudiosos e iniciadas.
Estrutura Ritualística
A Ordem operava com graus simbólicos e cerimônias que remetiam à tradição rosacruciana e Maçônica, mas com adaptações que permitiam a presença feminina. Os membros eram divididos entre Cavaleiros (homens) e Ninfas (mulheres), e os rituais envolviam símbolos florais, mitológicos e alquímicos.
A participação das mulheres era vista como essencial para o equilíbrio espiritual da Ordem. Embora ainda supervisionadas por membros masculinos, as Ninfas da Rosa desempenhavam papéis ativos nos rituais e na administração interna da organização. Essa inclusão representava um avanço significativo em relação às restrições impostas pelas Constituições de Anderson (1723), que excluíam formalmente aas mulheres da Maçonaria regular.
Relação com as Lojas de Adoção
A Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa pode ser vista como precursora ou paralela às Lojas de Adoção. Ambas compartilhavam o ideal de educação moral e filosófica feminina, mas a Ordem tinha uma abordagem mais simbólica e menos institucionalizada.
Não há registros oficiais precisos sobre sua extinção, mas acredita-se que tenha desaparecido gradualmente após a Revolução Francesa, por volta do início do século XIX, quando muitas estruturas maçônicas foram dissolvidas ou reformuladas. Embora tenha desaparecido com o tempo, a Ordem deixou um legado importante:
- Inspirou outras estruturas femininas e mistas.
- Contribuiu para o debate sobre o papel da mulher na Maçonaria.
- Antecipou movimentos como o Le Droit Humain e a Maçonaria Mista Moderna.
Conclusão
A Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa representa um capítulo pouco conhecido, mas profundamente simbólico, da história da Maçonaria Feminina. Sua existência revela que, mesmo em tempos de exclusão formal, houve esforços concretos para incluir mulheres em espaços iniciáticos, reconhecendo seu valor espiritual e filosófico.
Sandra Cristina Pedri
Referências Bibliográficas
DACAMINO. O papel da mulher na
maçonaria: uma história de exclusão e inclusão. DaCamino Livros Maçônicos.
Disponível em: https://dacamino.com.br/o-papel-da-mulher-na-maconaria-uma-historia-de-exclusao-e-inclusao.
Acesso em: 29 set. 2025.
FOLHA2. GONÇALVES, Nelson. A Maçonaria Feminina e Mista no Brasil e no mundo. Folha do Povo. Disponível em: https://www.folha2.com.br/2023/09/maconaria-feminina-no-brasil-e-no-mundo.html. Acesso em: 30 set. 2025.
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MACONARIA.NET. FIGUEIREDO, Luis de. Maçonaria – Le Droit Humain. Disponível em: https://www.maconaria.net/maconaria-le-droit-humain/. Acesso em: 30 set. 2025.
SCIELO PORTUGAL. PIRES, Fátima; RUAH, Mery. Mulheres e Maçonaria. Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher, Lisboa, n. 34, 2015. Disponível em: https://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-68852015000200010. Acesso em: 30 set. 2025.
WIKIPÉDIA. Mulheres e maçonaria. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mulheres_e_ma%C3%A7onaria. Acesso em: 29 set. 2025.
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