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Vida, contexto e tradição da sua iniciação maçônica
Sua família de origem pertencia à pequena nobreza anglo-irlandesa local. Seu pai era maçom e Doneraile Court (mansão aristocrática que era a residência da família St. Leger) foi um centro de vida social e política, acolhendo a aristocracia e servindo, também, como local para reuniões privadas, incluindo sessões de maçons (UCC, 2021; IRISH HERITAGE TRUST, 2023). Esse quadro social é central para entender como uma jovem poderia vir a observar (e, segundo a tradição, ser iniciada em) ritos que, em regra, eram masculinos e reservados (CONDER, 1895; UCC, 2021).
A narrativa, amplamente divulgada a partir do século XIX e posteriormente consolidada por publicações maçônicas e locais, descreve que, numa noite de inverno, quando ainda estavam em andamento as obras em Doneraile Court, ela notou que alguns tijolos da parede da biblioteca haviam sido mal assentados. Movida pela curiosidade, ouviu vozes e percebeu luzes através das frestas que davam para uma sala contígua. Aproximou-se, retirou alguns tijolos e passou a observar o que ocorria no espaço adjacente. Ao ser descoberta pelo vigia/porteiro da Loja - que, segundo algumas versões, seria também um servo da casa - foi confrontada pelos maçons ali reunidos. Estes, ao reconhecerem tratar-se da filha do Visconde, decidiram iniciá-la ali mesmo nos graus que haviam sido vistos por ela. Há divergências nos relatos a respeito dos graus a ela conferidos. No entanto, a narrativa descreve que, em vez de ser punida por sua indiscreta curiosidade, os maçons a admitiram para preservar os segredos da Ordem, iniciando-a na maçonaria. (CONDER, 1895; DAY, 1914; WIKIPEDIA, 2025).
Incertezas documentais
Não se sabe ao certo a data/ano da iniciação de Elizabeth Aldworth na maçonaria, mas investigações históricas (incluindo o estudo de Edward Conder publicado na revista Ars Quator Coronatorum) apontam que muito provavelmente foi entre os anos 1710 e 1712. O ano mais citado na tradição é 1712 apesar de diversos pesquisadores admitirem que a confirmação documental está ausente.
Do ponto de vista material e comemorativo, a memória de Elizabeth Aldworth foi preservada por lápides, por um retrato que a representa usando o avental e as joias maçônicas e por menções em períodos e compilações maçônicas dos séculos XIX e XX. Em Cork existe uma placa memorial, junto ao local do seu sepultamento em St. Fin Barre's Cathedral, colocada pelos maçons de Cork, que menciona seu nome, sua filiação e a data de nascimento (1695) e morte (1775). A placa também menciona o nome da loja em que ela foi iniciada em Doneraile Court (Masonry in Lodge n. 44).
Estudos críticos sobre o caso distinguem três níveis de afirmação: (1) a existência de Elizabeth St. Leger como pessoa histórica (documentada); (2) a circulação de uma tradição - já no século XIX amplamente relatada em periódicos maçônicos - de que ela foi iniciada; e (3) a ausência de registros maçônicos formais no início do século XVIII que confirmem, sem margem de dúvida, o fato tal como contado pelas tradições locais.
Autores do século XIX (como Conder, por exemplo) buscaram reunir provas e confrontar versões, assim como historiadores locais e curadores de arquivos. Na melhor das hipóteses, o episódio é exceção e foi tratado posteriormente como curiosidade e símbolo mais do que como precedente institucional. Mesmo com as incertezas, Elizabeth Aldworth é citada como a primeira mulher "iniciada" na maçonaria regular e a sua história tem sido evocada por estudiosos de gênero, criações literárias e por organizações maçônicas. Resumindo, ela é, sem dúvida, uma personagem histórica real cuja vida e contexto familiar tornam plausível a ocorrência de uma experiência extraordinária ligada à maçonaria. A posição histográfica mais responsável é, portanto, reconhecer o valor memorial e simbólico do episódio, e manter cautela quanto à sua confirmação documental absoluta.
Referências Bibliográficas
CONDER, Edward. The Hon. Miss St. Leger and Freemasonry. Ars Quatuor Coronatorum, vol. VIII, 1895. Reimpressão e transcrição disponível em: Freemasonry.bcy.ca (reprint). Disponível em: https://freemasonry.bcy.ca/aqc/aldworth.html. Acesso em: 12 set. 2025.
DAY, John (ed.). Memoir of the Honble. Elizabeth Aldworth of Newmarket Court, Co. Cork: who was initiated into the Ancient Order of Freemasonry at Doneraile House, Co. Cork. Cork: Guy & Co., 1914. (Obra consultada em digitalização). Disponível em: https://books.google.com/books?id=CBL3q-ypjToC Acesso em: 12 set. 2025.
FREEMASONRY B.C. & YUKON. The Hon. Miss St. Leger and Freemasonry (Edward Conder, 1895). Freemasonry.bcy.ca, [s. l.], [s.d.]. Disponível em: https://www.freemasonry.bcy.ca/aqc/aldworth.html. Acesso em: 12 set. 2025.
IRISH EXAMINER. Finn, Clodagh. Inside the secret world of the first lady Freemason. Cork — Irish Examiner, 22 abr. 2023. Disponível em: https://www.irishexaminer.com/opinion/columnists/arid-41121871.html Acesso em: 12 set. 2025.
MUNSTER PROVINCIAL GRAND LODGE. The Lady Freemason. Munster Freemason, [s. l.], [2023?]. Disponível em: https://www.munsterfreemason.com/history/the-lady-freemason/.https://catalogue.nli.ie/Record/vtls000313394. Acesso em: 12 set. 2025.
NATIONAL LIBRARY OF IRELAND — Catalogue. Memoir of the Honourable Elizabeth Aldworth of Newmarket Court, Co. Cork ... (registro de holdings). Disponível em: https://catalogue.nli.ie/Record/vtls000313394. Acesso em: 12 set. 2025.
PURCELL AUCTIONEERS. Memoir of a Lady Freemason. Purcell Auctioneers, Portlaoise, 2023. Catálogo de leilão. Disponível em: https://www.purcellauctioneers.ie/catalogue/lot/4c3217da4c636fb013c6197b1f403137/81b29ab6fa187a02a829c1899b734425/auction-of-the-library-of-the-late-frank-meehan-portla-lot-269/. Acesso em: 12 set. 2025.
UNIVERSITY COLLEGE CORK — Special Collections. HI6091: Elizabeth Aldworth, The Lady Freemason (online work placement). Cork, 29 jan. 2021. Disponível em: https://theriverside.ucc.ie/2021/01/29/hi6091-elizabeth-aldworth-the-lady-freemason-online-work-placement-2020/. Acesso em: 12 set. 2025.
“The Hon. Miss St. Leger and Freemasonry” (reimpressão). Freemasonry.bcy.ca (reprint of AQC article). Disponível em: https://freemasonry.bcy.ca/aqc/aldworth.html. Acesso em: 12 set. 2025. (Nota: essa fonte reproduz o artigo clássico de Conder e é amplamente citada em estudos maçônicos.)
WIKIPEDIA. Elizabeth Aldworth. Última edição consultada em 2025. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Elizabeth_Aldworth. Acesso em: 12 set. 2025.
Sandra Cristina Pedri


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