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04 novembro 2025

O Diálogo Socrático na Maçonaria

Autoconhecimento e o Aperfeiçoamento Moral

Imagem Meta AI.
O pensamento Socrático é um conceito derivado do filósofo grego Sócrates. Fundamentalmente, é uma abordagem para o autodescobrimento e a busca pela verdade através do questionamento e do raciocínio. Seu funcionamento está alicerçado em dois pilares principais:

1. Conhece-te a ti mesmo - Esta é a máxima mais famosa de Sócrates. Ele acreditava que a primeira tarefa de toda pessoa é mergulhar em seu próprio interior para conhecer suas virtudes, vícios, limites e potenciais. Para Sócrates, o conhecimento de si mesmo é o ponto de partida para a sabedoria e para uma vida autêntica e ética.

2. Método da Maiêutica e Ironia:

  • Ironia: É o ponto de partida, onde Sócrates fingia ignorância e humildemente questionava os outros sobre seus conhecimentos ou crenças (o famoso paradoxo: "Só sei que nada sei"). Isso levava o interlocutor a reconhecer a própria ignorância e a fragilidade das suas "opiniões" (doxa).
  • Maiêutica (Parto de Ideias): Após a ironia, Sócrates, através de perguntas sucessivas e incisivas, ajudava o indivíduo a "dar à luz" ao seu próprio conhecimento e à verdade (epistéme) que já estavam latentes em sua mente. O conhecimento, portanto, não é transmitido, mas descoberto de dentro para fora.

A Aplicação na Maçonaria

Por ser a Maçonaria uma "escola de aperfeiçoamento moral e intelectual", o pensamento Socrático se encaixa perfeitamente nesse propósito, especialmente na jornada de desenvolvimento de seus membros, o que ocorre já no primeiro grau, ou seja, o grau de Aprendiz. 

Nessa fase, o Maçom é simbolicamente comparado a uma Pedra Bruta — um bloco sem forma, que representa o ser humano em seu estado natural, com suas imperfeições e vícios. Segundo a filosofia maçônica: "O grande filósofo Sócrates ensina ao Aprendiz em filosofia, que a primeira coisa a fazer é aprender a pensar" (FREEMASON.PT, 2021).

Para aplicar o pensamento Socrático em nossa vida incentivamos a prática de três tarefas, conforme a seguir:

A primeira e mais essencial tarefa é a do autoconhecimento. O preceito socrático "Conhece-te a ti mesmo" é o catalisador para que o(a) Aprendiz inicie o trabalho de "desbastar a Pedra Bruta"— ou seja, identificar e corrigir suas próprias falhas. Este é um trabalho que se estende por toda a vida, por isso o Maçom se autodenomina um "eterno aprendiz". Para isso, a Maçonaria faz uso de símbolos, rituais e instruções, incentivando seus membros a uma reflexão constante sobre sua conduta, suas intenções e seu papel no mundo, espelhando a introspecção socrática. 

A segunda tarefa é o estímulo ao Livre Pensar e ao Raciocínio (Maiêutica). A Liberdade de Pensamento é um dos princípios cardeais da Maçonaria. Assim como Sócrates desafiava as crenças dogmáticas, a Maçonaria incentiva seus membros a investigarem a verdade por si mesmos, sem se limitar a pensamentos primários ou opiniões superficiais (FREEMASON.PT, 2021).

O maçom deve defender a "plena liberdade de expressão do pensamento, como direito fundamental do ser humano" (UFAC, 2019). Nesse contexto, destaca-se também o princípio da "igualdade" (GOMB, [s.d.]). Infelizmente, ainda hoje, especialmente no Brasil, há quem negue a presença feminina na Maçonaria, alegando que "não existe maçonaria feminina". Essa visão ignora a própria história da humanidade, repleta de exemplos de participação ativa de mulheres na Ordem.

A proibição da iniciação de mulheres na Maçonaria, frequentemente atribuída a James Anderson, aparece nas Constituições dos Franco-Maçons (também conhecidas como a Constituição de Anderson), publicadas em 1723. No século XVIII, a maioria das mulheres sequer sabia ler e escrever, o que dificultava sua presença e participação em Lojas Maçônicas — espaços de compartilhamento de saberes filosóficos, científicos, espirituais, alquímicos etc. As poucas que tiveram acesso à educação, em geral pertencentes à nobreza, começaram a questionar essa exclusão. 

Hoje, o cenário é outro. Segundo o Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres brasileiras têm, em média, maior nível de instrução que os homens, especialmente no que diz respeito à conclusão do ensino superior (Mulheres - 20,7%; Homens - 16,8%). Torna-se imperativo, portanto, aplicar o pensamento Socrático para questionar regras antigas que precisam ser reformuladas à luz do mundo contemporâneo

As Lojas Maçônicas são o palco ideal para o debate filosófico, onde os membros são encorajados a questionar, aprofundar e fundamentar suas convicções — um processo que remete diretamente à Maiêutica.

Na terceira tarefa, portanto, combate-se a ignorância. O paradoxo Socrático — "Só sei que nada sei" — é adotado como postura de humildade intelectual. Reconhecer e admitir a própria ignorância não é um defeito, mas a base para o abandono da opinião (doxa) e a busca pelo conhecimento verdadeiro (epistéme), sendo este o objetivo da filosofia" (FOLHA DO LITORAL NEWS, 2022). 

Esse processo exige que as "opiniões não fundamentadas" sejam descartadas e que se busque o conhecimento verdadeiro. Só assim, conseguimos desenvolver diálogos socráticos que frequentemente trabalham questões éticas.

Em resumo, essas três tarefas transformam a Maçonaria em uma escola moral que usa a reflexão filosófica para moldar seus membros, transformando-os em seres humanos mais justos, íntegros e fraternos. Nesse momento a Pedra Bruta transforma-se em Pedra Polida — um maçom que deve se libertar "das vaidades humanas para se tornar um homem de bons costumes, humilde, justo, fraternal, livre, feliz e perfeito, para então ser a Pedra Polida na construção de uma perfeita sociedade humana" (O BUSCADOR, 2017). Portanto, o pensamento Socrático fornece a metodologia introspectiva e questionadora que a Maçonaria utiliza para auxiliar seus membros a se aproximarem cada vez mais da perfeição moral e ética, transformando-os de forma consciente e ativa, uma vez que são agentes e resultados desse processo.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

FOLHA DO LITORAL NEWS. Opinião (2): o paradoxo socrático na maçonaria. Paranaguá, 03 set. 2022. Disponível em: https://folhadolitoral.com.br/colunistas/maconaria/opiniao-2/. Acesso em: 04 nov. 2025.

FREEMASON.PT. A maçonaria simbólica e a filosofia (II): a jornada do aprendiz. 24 out. 2021. Disponível em: https://www.freemason.pt/a-maconaria-simbolica-e-a-filosofia-parte-ii/. Acesso em: 04 nov. 2025.

GOMB. Os Princípios da Maçonaria. [S.l.: s.n., s.d.]. Disponível em: https://www.gomb.org.br/Os-Princ%C3%ADpios-da-Ma%C3%A7onaria/. Acesso em: 04 nov. 2025.

O BUSCADOR. A Maçonaria Simbólica e a Filosofia. 07 set. 2017. Disponível em: https://www.gvaa.com.br/revista/index.php/OBuscador/article/viewFile/5085/4352. Acesso em: 04 nov. 2025.

REDE COLMEIA. Princípio filosófico na Maçonaria. 22 out. 2015. Disponível em: https://redecolmeia.com.br/2015/10/22/principio-filosofico-na-maconaria/. Acesso em: 04 nov. 2025.

UFAC. Desmistificando a Maçonaria: a partir da experiência na A∴R∴L∴S∴ Universitária Prof.ª Carmem Sylvia de Albuquerque Feitosa. Acre, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufac.br/index.php/SAJEBTT/article/download/2433/1573/6307. Acesso em: 04 nov. 2025.

03 novembro 2025

O que Sócrates Pode nos Ensinar?

Reflexão, Liberdade e Busca Pela Verdade

Sócrates. Meta AI.

"A vida que não é examinada não vale a pena ser vivida" — Sócrates, em A Apologia.

A Maçonaria é, antes de tudo, uma jornada de transformação ética, intelectual e espiritual. E poucos personagens da história da filosofia encarnam tão bem esses ideais quanto Sócrates. Em A Apologia de Sócrates, escrita por Platão, encontramos não apenas a defesa de um homem injustamente acusado, mas um verdadeiro tratado sobre coragem moral, liberdade de pensamento e compromisso com a verdade — valores que ressoam profundamente com a essência da Maçonaria. Por isso, A Apologia de Sócrates é uma das primeiras leituras recomendadas às Aprendizes, que são convidadas a refletir sobre como aplicar os ensinamentos socráticos em suas próprias vidas.

Sócrates foi condenado à morte por "corromper a juventude" e "não acreditar nos deuses da cidade". Na verdade, seu "crime" foi pensar livremente e incentivar outros a fazerem o mesmo. Na Maçonaria, também estimulamos as mulheres a pensarem livremente, a se conhecerem por meio de estudos, leituras e questionamentos. Encorajamos a rejeição de verdades prontas, promovendo a investigação, reflexão e construção de um entendimento próprio. Assim como Sócrates não recuou diante da injustiça, nós também não devemos recuar em nossa busca pela verdade — mesmo que ela nos confronte ou nos cause dor. 

Temos o costume de acreditar nas pessoas mais próximas, mas é preciso duvidar para encontrar a verdade. É preciso coragem para duvidar dos outros e até de nós mesmas, das nossas crenças mais arraigadas, pois aquilo que entendemos como real pode ser apenas uma imagem distorcida da realidade — uma visão filtrada pelas lentes que estamos acostumadas a usar. Lentes invisíveis, mas poderosas, que moldam nossos comportamentos, emoções e reações.

Quando tiramos a lente, matamos o nosso conhecido "eu interior". Às vezes, é necessário deixar morrer quem fomos, para que possamos renascer como quem realmente somos. Esse processo exige entrega, humildade e força. Mas é nele que reside a verdadeira liberdade: a liberdade de ser, de pensar, de sentir — sem amarras, sem ilusões. Como disse Sócrates: "Não é por temor da morte que um homem deve agir, mas por temor de cometer injustiça." (PLATÃO, 2001, p. 45). E há uma forma de injustiça muito danosa: aquela que praticamos contra nós mesmas, quando negamos nossa essência ou silenciamos nossa voz interior.

A máxima socrática "Conhece-te a ti mesmo" é um dos pilares da iniciação maçônica. Sócrates não se dizia sábio — pelo contrário, afirmava que sua sabedoria consistia em reconhecer sua ignorância. Esse é o ponto de partida para a verdadeira sabedoria: "Sei que nada sei" (PLATÃO, 2001, p. 38). Incentivamos nossas irmãs a buscar o conhecimento continuamente, a questionar suas crenças, a explorar outras formas de pensar, a ver o outro lado da moeda, a conhecer outras culturas e períodos históricos. Esse mergulho no "todo" amplia a consciência e fortalece a identidade.

Toda iniciação é um convite à introspecção — não apenas da irmã que passa pelo ritual, mas de todas as que dele participam, com carinho e dedicação, trabalhando nos preparativos e nos bastidores. Ao participarmos de uma Cerimônia Magna ou de uma Oficina, temos a chance de olhar para dentro de nós mesmas. E em cada símbolo, encontramos uma chave capaz de abrir as portas do nosso próprio templo interior.

Sócrates acreditava que a liberdade de pensar era um dever moral. Ele não impunha verdades — fazia perguntas. E é justamente isso que propomos: nada de dogmas, mas reflexão; nada de respostas prontas, mas caminhos de busca. "Sou como um tábano (mutuca) que desperta o cavalo adormecido da cidade" (PLATÃO, 2001, p. 29).

Ele via sua vida como uma missão. Não buscava glória, riqueza ou poder. Seu propósito era servir à verdade e ao bem comum. De forma semelhante, a Maçonaria tem como missão promover o desenvolvimento de mulheres livres e de bons costumes, conscientes de que o verdadeiro valor não está no cargo que ocupam, mas na forma como exercem a liderança — com ética, humildade e compromisso com o bem comum. Mulheres que não buscam prestígio em cargos, nem se deixam inebriar pelo poder que lhes é temporariamente confiado. Queremos que estejam conscientes de que não são o cargo, mas estão no cargo — e, por isso, devem estar comprometidas com a construção de uma sociedade mais fraterna. Não é o título, a comenda ou a posição que importam, mas sim o exemplo que é dado, dentro e fora dos templos.

Por ser a Maçonaria um espaço de crescimento, estudo, liberdade e ação, ela agrega mulheres livres e de bons costumes que, como Sócrates, não têm medo de pensar, de questionar e de transformar, pois ela é feita de irmandade, luz e coragem

Se desejamos descobrir algo em nós mesmas e no mundo, a Maçonaria é um caminho e, como Sócrates, podemos começar com uma simples pergunta: Quem somos?

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

PLATÃO. Apologia de Sócrates. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2001.

REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga: vol. I – Dos Pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Loyola, 2003.

28 outubro 2025

Helena Petrovna Blavatsky

Legado para a Maçonaria

Helena Blavatsky. Copilot.

Helena Petrovna Blavatsky nasceu em 12 de agosto de 1831, em Ekaterinoslav, no Império Russo (atualmente Dnipro, Ucrânia). Era filha do coronel Pytor Alekseyevich Gan, nobre russo de origem alemã, e de Elene Andreyevna Fadeyeva, escritora conhecida pelo pseudônimo Zeneida R-va. Após a morte da mãe, em 6 de julho de 1842, na cidade de Odessa, então parte do Império Russo, Helena foi criada pelos avós maternos em Saratov, cidade localizada na Rússia Europeia, às margens do rio Volta. Ali teve acesso à rica biblioteca aristocrática de seu bisavô, o príncipe Pavel Dolgorukov, iniciado na Maçonaria no século XVIII, o que influenciou profundamente sua formação esotérica.

Recebeu edcuação informal por meio de governantas, aprendendo piano, dança e línguas. Autodidata, desde jovem dedicou-se ao estudo do ocultismo, alquimia e magia, lendo autores como Parecelso, Agrippa e Khunrath. A influência intelectual de sua avó, Helena Pavlovna Dolgorukova, botânica e poliglota, também foi determinante para sua formação.

Casou-se aos 17 anos com Nikifor Vassilievich Blavatsky, vice-governador da província de Erevan. O casamento não foi consumado, e ela fugiu durante a lua de mel. Posteriormente, teve uma união com Michael Betanelly, mas não há registros de filhos.

A partir de 1849, iniciou uma série de viagens que a levaram ao Egito, Índia, Tibete, Europa e Estados Unidos. Em 1875, fundou com Henry Steel Olcott a Sociedade Teosófica, em Nova York. Publicou obras influentes como Isis Sem Véu (1877) e A Doutrina Secreta (1888) que se tornaram pilares do esoterismo moderno.

Annie Besant, iniciada na Maçonaria Mista Le Droit Humain foi sua discípula e sucessora na Sociedade Teosófica. Embora Helena não tenha sido iniciada em nenhuma Loja Maçônica regular — seja masculina, feminina ou mista — foi reconhecida por John Yarker, maçom britânico envolvido com ritos esotéricos, como detentora honorífica de graus simbólicos do Rito de Adoção, sistema ritualístico utilizado por Lojas Femininas na França desde o século XVIII. Entre os títulos que lhe foram atribuídos estão: Mestra Perfeita; Cavaleira da Rosa-Cruz; e Princesa Coroada do Rito de Adoção. Esse reconhecimento era mais simbólico do que funcional, representando respeito por sua contribuição ao pensamento esotérico e à integração de tradições iniciáticas.

Esse reconhecimento não decorreu de iniciação formal em Loja, mas sim de sua atuação nos círculos ocultistas e do profundo conhecimento que demonstrava sobre os rituais e simbolismos maçônicos. Blavatsky estudou obras de maçons como Jean-Marie Ragon, teve contato direto com maçons europeus e orientais, e influenciou discípulos como Charles Leadbeater e Annie Besant — esta última iniciada na Maçonaria Mista Le Droit Humain e sua sucessora na Sociedade Teosófica.

O legado de Blavatsky para as mulheres está na forma como articulou a ideia de uma fraternidade universal, a valorização dos mistérios antigos e a busca pela sabedoria divina — pilares que dialogam diretamente com os ideais Maçônicos. Defendeu o pensamento independente, a libertação das mulheres do dogmatismo religioso e abriu espaço para a atuação feminina em ambientes intelectuais e espirituais. Embora não tenha sido maçom no sentido institucional, foi uma ponte entre o esoterismo oriental e o simbolismo ocidental, inspirando muitos maçons a aprofundarem o aspecto espiritual da Ordem.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

CRANSTON, Sylvia. Helena Blavatsky: a vida e a influência extraordinária da fundadora do movimento teosófico moderno. Brasília: Editora Teosófica, 1992.

EMILIÃO, Sergio. Madame Blavatsky e a Maçonaria. Disponível em: https://masonic.com.br/videos/blavatsky.pdf. Acesso em: 28 out. 2025.

INSTITUTO DE PESQUISAS PROJECIOLÓGICAS E BIOENERGÉTICAS – IPPB. Blavatsky e a Sociedade Teosófica. Disponível em: https://www.ippb.org.br/textos/especiais/mythos-editora/blavatsky-e-a-sociedade-teosofica. Acesso em: 28 out. 2025.

CÍRCULO DE ESTUDOS MAÇÔNICOS DO BRASIL. Helena Blavatsky e a Maçonaria. Disponível em: https://estudosmaconicos.com.br/helena-blavatsky-maconaria/. Acesso em: 28 out. 2025.

WIKIPÉDIA. Helena Blavatsky. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Helena_Blavatsky. Acesso em: 28 out. 2025.

27 outubro 2025

Josefina de Beauharnais e Marie-Henriette Heiniken no Século da Revolução

Duas Mulheres, Dois Caminhos

Josefina e Henriette. Meta AI.

Entre a corte imperial e os campos de batalha, Josefina de Beauharnais e Marie-Henriette desafiaram os limites impostos às mulheres de seu tempo, atuando na maçonaria e inspirando gerações com coragem, inteligência e protagonismo.

No final do século XVIII e início do século XIX, duas mulheres viveram intensamente os acontecimentos que marcaram a Revolução Francesa e o Império Napoleônico: Josefina de Beauharnais, Imperatriz da França, e Marie-Henriette Heiniken, militar e figura ligada à Maçonaria. Embora tenham seguido caminhos distintos, ambas se tornaram símbolos de força e inspiração para mulheres até os dias de hoje.

Josefina, nascida na Martinica em 1763, enfrentou a turbulência da Revolução Francesa, incluindo a perda de seu primeiro marido na guilhotina. Casou-se com Napoleão Bonaparte em 1796 e, em 1804, foi coroada Imperatriz da França. Com elegância e inteligência, Josefina exerceu grande influência na corte, sendo referência em moda, cltura e diplomacia informal. Além disso, ela teve papel ativo na Maçonaria Feminina da época, sendo Grã-Mestre de duas Lojas de Adoção, estrutura maçônica voltada às mulheres, que funcionava sob tutela das lojas masculinas (ISMAIL, 2024). Mesmo após o fim de seu casamento com Napoleão, por não ter gerado herdeiros, Josefina manteve prestígio e respeito, sendo lembrada como uma mulher refinada e estrategista.

Por outro lado, Marie-Henriette Heiniken, também conhecida como Madame de Xaintrailles, viveu uma realidade marcada pela ação direta. Disfarçada de homem, serviu como ajudante de campo do homem que amava, o general Charles Antoine Xaintrailles, durante as Guerras Revolucionárias e Napoleônicas. Participou de combates, incluindo a batalha de Aboukir, em 1799, onde sofreu uma queda de cavalo que a feriu gravemente. Heiniken também esteve ligada à maçonaria: inicialmente seria iniciada em uma Loja de Adoção, mas acabou sendo iniciada na maçonaria regular masculina, recebendo o grau de Aprendiz — um feito extraordinário para uma mulher naquela época. Segundo o Bullock Texas State History Museum, sua iniciação foi motivada pela bravura demonstrada em combate, o que levou os irmãos maçons a reconhecerem seu valor e a admitirem na loja masculina.

Ambas viveram em um mundo em transformação, marcado por revoluções, guerras e mudanças sociais profundas. Josefina, com sua presença na corte e liderança nas Lojas de Adoção, e Heiniken, com sua bravura no campo de batalha e sua iniciação na maçonaria regular, mostraram que as mulheres podiam ocupar espaços de destaque, mesmo em tempos de grande adversidade. Hoje, suas histórias continuam a inspirar mulheres que lutam por reconhecimento, igualdade e protagonismo em diferentes áreas da sociedade.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

ISMAIL, Kennyo. A Maçonaria Feminina. No Esquadro, 20 maio 2024. Disponível em: https://noesquadro.com.br/a-maconaria-feminina/. Acesso em: 20 out. 2025.

BULLOCK TEXAS STATE HISTORY MUSEUM. Portrait of Marie-Henriette Heiniken. American Folk Art Museum, ca. 1800. Disponível em: https://www.thestoryoftexas.com/discover/artifacts/portrait-marie-henriette-heiniken. Acesso em: 20 out. 2025.

21 outubro 2025

O que É, de Fato, Participar de uma Loja Maçônica?

Comprometimento, Contribuição e Presença Significativa 

Irmã maçom. Meta AI.
A Maçonaria, em sua essência, é uma escola de valores. Justiça, fraternidade, liberdade e igualdade não são apenas palavras inscritas em nossos rituais — são princípios que devem guiar cada decisão, cada gesto, cada votação. Esses valores formam o cerne da filosofia maçônica e moldam sua abordagem em relação à vida e à sociedade (MAÇONARIA DO PARANÁ, 2024).

E é justamente nesse ponto que precisamos refletir: o que significa, de fato, participar de uma Loja Maçônica?

Uma irmã atuante não é somente aquela que atingiu o percentual mínimo de presença física em Loja. A norma dos 50% mínimos de presença existe, é verdade. Mas a justiça maçônica vai além da letra da lei — ela exige discernimento, sensibilidade e equidade.

A irmã que cumpre suas obrigações administrativas em qualquer um dos cargos, embora nem sempre fisicamente presente, é constante, efetiva e essencial para o funcionamento da Loja.

A Maçonaria nos ensina que a verdadeira presença não se mede apenas pela cadeira ocupada em sessão, mas pela dedicação, pelo comprometimento e pelo cuidado com a egrégora. Ignorar isso é reduzir a participação a um número, a uma estatística — e isso não condiz com os valores que juramos defender. Por isso, alguns cargos administrativos (Grandes Secretariados entre outros) ficam fora dessa regra. 

Levanta-se aqui uma questão ética: é justo aplicar uma regra sem considerar o contexto e o impacto emocional sobre as irmãs? A resposta, para quem compreende a Maçonaria como espaço de construção coletiva, é clara: NÃO.

Victor Hugo, em Os Miseráveis, nos lembra que "a lei pode ser justa, mas a justiça vai além da lei" — uma reflexão que transcende o legalismo e nos convida à empatia e à equidade (HUGO, 182 apud CHAVES, 2017).

E é esse "além" que precisa ser cultivado dentro das Lojas. A pressão sobre quem se ausenta por motivos legítimos (doença — própria ou de um familiar próximo — um curso, problemas familiares complicados e até financeiros etc.) não fortalece a egrégora — sufoca. E quando atitudes excludentes se acumulam, o afastamento emocional é inevitável, mesmo que a presença física continue.

Irmãs em Loja. Copilot.

Participar de uma Loja Maçônica é contribuir com o coração, com o tempo (dentro ou fora da Loja), com os talentos e com a alma. É estar presente nos bastidores, nos cuidados invisíveis, nas palavras de apoio e nas ações concretas. É ser vista, reconhecida e valorizada por tudo o que se faz — e não por quantas sessões se frequentou.

Contudo, é preciso também refletir sobre outro ponto sensível: há irmãs que estão sempre presentes em Loja, mas não contribuem com nada além da presença física. Não ajudam na montagem do templo, na organização ao final dos trabalhos, tampouco entregam os estudos ou tarefas solicitadas. Isso não é participação plena — é presença vazia.

A Maçonaria exige envolvimento. Mesmo as Mestres, que já entregaram trabalhos em etapas anteriores, devem continuar contribuindo, revisando, ampliando ou até refazendo seus estudos. Isso não apenas fortalece o crescimento coletivo, como também permite que cada irmã perceba sua própria evolução na compreensão dos temas abordados.

Participar é estar em movimento. É contribuir com o crescimento de todas ali presentes, mesmo que não se ocupe um cargo que exija tarefas extra Loja. A verdadeira participação é ativa, generosa e comprometida com o propósito maior da Ordem.

É preciso incluir, acolher e ampliar. Que a Maçonaria Feminina continue sendo um espaço de justiça viva, onde cada irmã é vista em sua totalidade — por sua entrega, por sua presença significativa, por sua contribuição real — e não apenas por sua frequência.

Conheça os valores da Fênix Nut acessando o nosso site (www.fenixnut.com.br) na página SOBRE NÓS.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

CHAVES, Rosângela. “Os Miseráveis”, a lei e a justiça. Ermira Cultura, 2017. Disponível em: https://ermiracultura.com.br/2017/12/20/os-miseraveis-a-lei-e-a-justica. Acesso em: 21 out. 2025.

HUGO, Victor. Os Miseráveis. Tradução de Isabel Vieira. São Paulo: Martin Claret, 2021.

MAÇONARIA DO PARANÁ. Princípios Fundamentais da Maçonaria: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. 2024. Disponível em: https://maconariadoparana.org.br/noticia/principios-fundamentais-da-maconaria-liberdade-igualdade-e-fraternidade. Acesso em: 21 out. 2025.

19 outubro 2025

Estudar é um Ato Maçônico

A Fênix Nut Incentiva a Formação Acadêmica das Irmãs

Na Maçonaria — especialmente na feminina — o combate à ignorância é uma das premissas fundamentais. A busca pelo conhecimento não é apenas uma recomendação: é um dever maçônico.

O estudo e a maçonaria. Meta AI.

Estudar, refletir, questionar e evoluir são atitudes que fortalecem o espírito, ampliam a consciência e preparam cada irmã para exercer sua liderança com sabedoria, empatia e justiça.

Por isso, a Fênix Nut incentiva fortemente que suas integrantes busquem formação contínua — seja por meio de cursos de pós-graduação, mestrado, doutorado ou outras especializações, dentro ou fora de suas áreas de atuação. A educação formal é uma ferramenta poderosa para transformar realidades, desconstruir preconceitos, superar intolerâncias e combater os fanatismos que ainda persistem em nossa sociedade.

Cada diploma conquistado por uma irmã representa não apenas um avanço pessoal, mas também um fortalecimento coletivo. Mulheres instruídas ocupam espaços de decisão, constroem pontes entre saberes, e tornam-se referências dentro e fora da Ordem. Elas inspiram outras mulheres, elevam o nível dos debates, dos temas estudados e contribuem para que a Maçonaria Feminina seja reconhecida como um espaço de excelência intelectual e ética.

Além disso, o estudo é um caminho para o autoconhecimento — outro pilar essencial da jornada maçônica. Ao mergulhar em novas áreas, ao enfrentar desafios acadêmicos, ao dialogar com diferentes correntes de pensamento, a irmã se transforma. E essa transformação reverbera na Loja, na comunidade e no mundo. Por isso, não faz sentido ouvir comentários como:

— Por que estudar tanto?
— Para que tantos cursos?
— Você está faltando na Loja por causa de um curso? — como se isso fosse algo imperdoável.

Essas falas revelam uma incompreensão dos princípios que sustentam a Maçonaria. Estudar é um ato de construção interna e externa. É uma forma de lapidar a pedra bruta e contribuir com mais luz para a Oficina. A ausência ocasional ou temporária de uma irmã por causa de um curso é, na verdade, uma presença futura mais forte, mais preparada e mais consciente. 

Devemos acreditar que o verdadeiro poder está no saber. E que o saber, quando compartilhado com generosidade e propósito, é capaz de iluminar caminhos, romper barreiras e construir um futuro mais justo e fraterno.

Finalizamos este texto com a afirmação de Albert Pike: "o verdadeiro maçom constrói pontes, não muros. A ignorância é a prisão, o conhecimento é a chave".

Sandra Cristina Pedri

Sociedade Teosófica - Saiba Mais

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