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| Marie-Louise de Monspey. Meta AI. |
Mística, Visionária e Pioneira na Maçonaria Esotérica Francesa
A história da presença feminina na maçonaria começa com episódios marcantes de coragem e ruptura. Elizabeth Aldworth, iniciada por volta de 1712 na Irlanda, é considerada a primeira mulher aceita em uma loja maçônica, apesar de sua entrada ser considerada acidental. Poucas décadas depois, na França, surge Marie-Louise de Monspey, uma mulher que, embora não tenha sido iniciada formalmente em uma loja maçônica como Aldworth, exerceu uma influência profunda e estruturante na maçonaria esotérica como veremos a seguir.
Marie-Louise de Monspey, também conhecida como Églée de Vallière ou Madame de Vallière, foi uma figura marcante da nobreza francesa e uma das mulheres mais enigmáticas e influentes do misticismo europeu no século XVIII. Nascida em 1 de outubro de 1731, na cidade de Saint-Georges-de-Reneins, ela viveu até os 82 anos, falecendo em sua cidade natal em 16 de maio de 1814.
Filha de Joseph-Henri de Monspey, marquês de Monspey e conde de Vallière, e de Marie-Anne-Livie de Pontevès d'Agoult, descendente da tradicional nobreza provençal, Marie-Louise herdou não apenas títulos, mas também uma profunda ligação com o universo espiritual e esotérico. Recebeu o títlo de Condessa de Vallière e tornou-se chanoinesse (canonesa) da abadia de Remiremont, uma prestigiada instituição religiosa que reunia mulheres nobres dedicadas à vida espiritual, mas sem o rigor monástico das ordens tradicionais — o que favorecia o desenvolvimento de estudos místicos e esotéricos.
Ficou conhecida como o "Agente Desconhecido", pseudônimo sob o qual produziu uma vasta obra mística inspirada por visões da Virgem Maria. Ao longo da vida, escreveu mais de cem cadernos com reflexões espirituais, interpretações esotéricas e ensinamentos sobre temas como magnetismo animal, anatomia simbólica e purificação da alma. Segundo Bergé (2009) ela relata em seus manuscritos: "Onde aprendi a escrever? No silêncio de uma reclusão, abatida por uma longa enfermidade, considerando apenas uma decadência iminente. Invoquei meu anjo guardião, e a bateria respondeu. Eis o começo."
Seu trabalho teve papel fundamental na maçonaria esotérica francesa, especialmente no desenvolvimento dos altos graus do Rito Escocês Retificado, ao lado de Jean-Baptiste Willermoz. Esse rito, criado em 1778, combina simbolismo maçônico, ideais templários e espiritualidade cristã, com o objetivo de promover a reintegração moral e espiritual do homem por meio da introspecção, da caridade e da prática das virtudes. Os textos de Marie-Louise foram estudados por maçons de graus superiores, que viam em suas palavras uma ponte entre o simbolismo maçônico e a espiritualidade cristã esotérica.
Em 1785, segundo Bergé (2009), seus cadernos foram entregues a Willermoz por seu irmão Alexandre de Monspey, contendo escritos que ele descreveu como: "milagrosas missivas vindas do Céu, ditadas por espíritos puros."
Em uma época em que o misticismo feminino era frequentemente marginalizado, Marie-Louise de Monspey conseguiu deixar uma marca profunda e duradoura. Sua obra continua a ser estudada por iniciados e pesquisadores da espiritualidade oculta, revelando uma mulher que soube unir nobreza, fé, sabedoria e coragem em uma trajetória singular. Ela conseguiu deixar uma marca profunda na espiritualidade e na maçonaria esotérica francesa.
Referências Bibliográficas
BERGÉ, Christine. Le corps et la plume. Écritures mystiques de l’Agent inconnu. Revue d’histoire du XIXe siècle, n. 38, 2009. Disponível em: https://journals.openedition.org/rh19/3867. Acesso em: 22 out. 2025.
BERGÉ, Christine. Identification d'une femme. Les écritures de l'Agent inconnu et la franc-maçonnerie ésotérique au XVIIIe siècle. In: L’Homme, 1997.
JOLY, Alice. Willermoz et l’Agent Inconnu. Paris: La Tour Saint Jacques, 1962.
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