13 novembro 2025

Sociedade Teosófica - Saiba Mais

Desvende a Sabedoria da Teosofia

Blavatsky e Olcott. Copilot.

Você já parou para refletir sobre as grandes questões da existência? Quem somos nós? De onde viemos? Qual é o sentido de tudo isso? Se você é um buscador — alguém que sente que a vida esconde mistérios mais profundos do que aqueles que vemos na superfície — este convite é para você.

A Teosofia, cujo nome significa "Sabedoria Divina", não é uma religião, mas sim uma busca pela verdade que está no coração de todas as grandes tradições filosóficas e espirituais. É um convite para olhar para dentro de nós mesmos e para o universo com uma nova perspectiva, unindo ciência, filosofia e espiritualidade.

Em 1875, na cidade de Nova Iorque (EUA), foi fundada a Sociedade Teosófica com o objetivo de apoiar essa jornada de descoberta. Os principais nomes por trás dessa iniciativa foram Helena Petrovna Blavatsky, uma escritora e pesquisadora russa, e Henry Steel Olcott, um coronel americano que ofereceu apoio e estrutura organizacional ao movimento. Além de seu papel como cofundador da Sociedade Teosófica, Olcott também era maçom, o que reforça sua afinidade com ideais de fraternidade e aperfeiçoamento humano.

Os três grandes objetivos da Sociedade Teosófica são: formar um núcleo de Fraternidade Universal da Humanidade, sem distinção de raça, credo, sexo, casta ou cor; incentivar o estudo comparado de Religiões, Filosofias e Ciências; e investigar as leis não explicadas da Natureza e os poderes latentes no Homem.

Além de Blavatsky, outras mulheres notáveis contribuíram significativamente para o movimento teosófico:

  • Annie Besant: oradora brilhante e ativista social que se tornou a segunda presidente mundial da Sociedade Teosófica. Sua atuação foi fundamental na divulgação dos ensinamentos e no trabalho pela educação e pelos direitos das mulheres na Índia.

  • Radha Burnier: foi a sétima presidente mundial da Sociedade Teosófica, em Adyar (Índia), liderando a organização por muitos anos.

Sociedade Teosófica no Brasil

A Sociedade Teosófica no Brasil (STB) é a Seção Nacional oficialmente ligada à Sociedade Teosófica mundial criada por Helena Blavatsky e Henry Steel Olcott, que mantém fidelidade à sede internacional localizada em Adyar, Chennai, Índia (SOCIEDADE TEOSÓFICA, [s.d.]). O movimento teosófico organizado no país estabeleceu a sua Seção Nacional em 17 de novembro de 1919, na cidade do Rio de Janeiro, com a liderança de figuras como Raimundo Pinto Seidl (REDALYC, 2016; FILOSOFIA ESOTÉRICA [s.d.]). Atualmente, a sede nacional da STB, que coordena as diversas Lojas e Grupos de Estudos espalhados pelo país, opera em Brasília (DF), no endereço SGAS Quadra 603, N. 20, CEP 70200-630.

A afinidade filosófica entre a Teosofia e a maçonaria é historicamente documentada, remontando ao próprio cofundador Henry Steel Olcott que era um maçom iniciado em 1861 (BIBLIOTECA FERNANDO PESSOA, 2018; SOCIEDADE TEOSÓFICA [s.d]). No Brasil, essa interação manifestou-se em um rico intercâmbio em redes intelectuais e esotéricas no início do século XX, com o teosofismo sendo debatido frequentemente em lojas e grupos maçônicos (REDALYC, 2016). A participação de mulheres teosofistas foi crucial, destacando-se figuras como Nâda Glover, que atuou ativamente em cargos de vice-presidência e tesouraria de Lojas no Rio de Janeiro. Embora a Maçonaria Feminina brasileira esteja se consolidando em organizações distintas, a presença e a liderança de teosofistas femininas contribuíram significativamente para disseminação de ideais de liberdade e fraternidade universal, comuns a ambas as sociedades.

Hoje, a Sociedade Teosófica está presente em mais de 60 países. Ela se mantém como um farol para aqueles que buscam um conhecimento profundo sobre os mistérios da vida e da morte; que querem entender a unidade que existe por trás de todas as aparências; e que desejam encontrar um caminho prático para o autoconhecimento e o serviço à humanidade.

Estudar as obras teosóficas — como A Doutrina Secreta Ísis Sem Véu, de Blavatsky — é mergulhar em temas como a Reencarnação, o Karma, a Constituição do Homem e do Cosmos, e o potencial ilimitado do espírito humano. É um convite para transformar-se e, ao transformar-se, ajudar a transformar o mundo.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

BIBLIOT3CA FERNANDO PESSOA. Maçonaria, Teosofia e Esperanto. 2018. Disponível em: https://bibliot3ca.com/maconaria-teosofia-e-esperanto/. Acesso em: 13 nov. 2025.

BLAVATSKY, Helena Petrovna. A Doutrina Secreta. Tradução de Fernando de Souza Barros. São Paulo: Pensamento, 2006.

BLAVATSKY, Helena Petrovna. Ísis sem Véu. Tradução de Fernando de Souza Barros. São Paulo: Pensamento, 2005.

BESANT, Annie. A Sabedoria Antiga. Tradução de Maria Lúcia de Oliveira. São Paulo: Editora Teosófica, 2007.

BURNIER, Radha. O Espírito da Teosofia. Adyar: Theosophical Publishing House, 1989.

FILOSOFIA ESOTÉRICA. Origem do Movimento Teosófico no Brasil. [s.d.]. Disponível em: https://www.filosofiaesoterica.com/origem-do-movimento-teosofico-no-brasil/. Acesso em: 13 nov. 2025.

HELENA BLAVATSKY BRASIL. Como se deu a formação da Sociedade Teosófica. Disponível em: https://helenablavatsky.com.br/artigos/como-se-deu-a-formacao-da-sociedade-teosofica/. Acesso em: 01 nov. 2025.

IPPB – INSTITUTO DE PESQUISAS PROJECIONAIS. Blavatsky e a Sociedade Teosófica. Disponível em: https://www.ippb.org.br/textos/especiais/mythos-editora/blavatsky-e-a-sociedade-teosofica. Acesso em: 01 nov. 2025.

REDALYC. Maçonaria, religião e culto cívico na atuação de Euclides de Vasconcelos César no Ceará da década de 1920. REHMLAC+, Vol. 8, n. 1, 2016. Disponível em: https://www.redalyc.org/journal/3695/369545832003/html/. Acesso em: 13 nov. 2025.

SOCIEDADE TEOSÓFICA DO BRASIL. Fundadores e Ex-Presidentes. Disponível em: https://sociedadeteosofica.org.br/fundadores-e-ex-presidentes/. Acesso em: 01 nov. 2025.

07 novembro 2025

Maçonaria e Religião

Desmistificando a Maçonaria como Religião

Templo Maçônico. Meta AI.

Quando se ouve falar em "Maçonaria", é comum que muitas pessoas a associem imediatamente a uma instituição religiosa. Essa associação, embora compreensível diante dos rituais e símbolos presentes nas Lojas Maçônicas, não corresponde à realidade. A Maçonaria não é uma religião, tampouco pretende substituir qualquer crença estabelecida.

A Maçonaria é uma fraternidade iniciática, filosófica e filantrópica que busca o aprimoramento moral, intelectual e espiritual de seus membros. Como bem afirmou Albert Pike, um dos mais influentes maçons do século XIX: "A Maçonaria é a ciência que nos ensina a lidar com a vida em busca do bem e do verdadeiro" (PIKE, 1871). Essa perspectiva revela que o foco da Ordem está na construção do ser humano, e não na doutrinação religiosa.

Embora a Maçonaria valorize a espiritualidade, ela não se equipara a uma igreja ou templo religioso. Em instituições religiosas, os fiéis se reúnem para cultuar uma divindade específica, seguir dogmas e praticar rituais próprios de uma tradição. Na Maçonaria, por outro lado, o objetivo é promover o estudo das diversas tradições espirituais e religiosas, incentivando o respeito à pluralidade de crenças.

Tolerância e Liberdade de Consciência

A liberdade de consciência é um dos pilares da Maçonaria. Desde sua fundação moderna, em 1717, a Ordem tem se posicionado como defensora da liberdade religiosa. A Constituição de Anderson (1723), documento fundamental da Maçonaria moderna, afirma: "É mais conveniente abrigar os maçons àquela religião com a qual todos os homens concordam, deixando as opiniões particulares para si mesmos, isto é, ser homens bons e verdadeiros, ou homens de honra e honestidade" (ANDERSON, 1723).

Essa postura é reforçada por Voltaire, filósofo iluminista e maçom, que declarou: "A fé é um livro que se lê com o coração" (VOLTAIRE, 1764). A Maçonaria, portanto, não impõe uma fé, mas convida à reflexão, ao estudo e à compreensão das múltiplas formas de espiritualidade.

O Estudo das Religiões como Caminho de Iluminação

Na Maçonaria, especialmente em suas vertentes mistas e liberais, o estudo das religiões e crenças é uma prática valorizada e incentivada. Seus membros são convidados a conhecer e refletir sobre diversas tradições espirituais — como o Cristianismo, o Judaísmo, o Islamismo o Hinduísmo, o Espiritismo, a Umbanda, o Candomblé entre outras — em um ambiente de liberdade de consciência e respeito mútuo. Essa abordagem pluralista está fundamentada nos princípios iluministas que sustentam a Ordem, como a tolerância, a fraternidade e a busca pela verdade. A presença de maçons de diferentes credos nas Lojas é uma expressão concreta da diversidade espiritual que a Maçonaria acolhe e promove.

Ao estudar diferentes tradições religiosas e filosóficas, os maçons são estimulados a transcender a ideia de que apenas sua religião de origem detém a verdade absoluta. Essa abertura ao conhecimento promove uma profunda transformação interior, favorecendo o desenvolvimento de uma postura mais tolerante, compassiva e universalista. A jornada iniciática maçônica, permeada por símbolos e rituais, é concebida como um processo de autodesenvolvimento e iluminação, no qual o indivíduo é chamado a construir seu próprio templo interior, equilibrando razão e espiritualidade. A tolerância, nesse contexto, não é mera aceitação passiva, mas uma virtude ativa, cultivada com discernimento e responsabilidade moral, como ensinam os princípios da Arte Real.

Benjamim Franklin, também maçom, dizia: "Um homem que não tem ética é um arranha-céu vazio, sem uma base sólida" (FRANLIN, 1779). A ética, a busca pela verdade e o respeito ao próximo são valores centrais na jornada maçônica.

Conclusão

A Maçonaria não é uma religião, mas im uma escola de virtudes, uma via de autoconhecimento e de construção moral. Ao promover o estudo das religiões, da filosofia, da teosofia, das ciências, da alquimia, da astrologia, da astronomia e de tantos outros saberes, ela não busca impor doutrinas, mas libertar o pensamento. Seu propósito é fomentar o respeito mútuo, cultivar a fraternidade entre os seres humanos e estimular o desenvolvimento ético e espiritual de seus membros. Como bem sintetiza Wiston Churchill: "A Maçonaria é uma escola de virtudes, onde aprendemos a ser justos, honestos e tolerantes" (CHURCHILL, apud Cidesp, 2025).

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

ANDERSON, James. Constituições dos Maçons Livres. Londres, 1723.

ANTUNES, Renato. Espiritualidade na Maçonaria: um caminho de autoconhecimento e iluminação. Freemason.com.br, 18 set. 2024. Disponível em: https://freemason.com.br/espiritualidade-na-maconaria-um-caminho-de-autoconhecimento-e-iluminacao/. Acesso em: 07 nov. 2025.

BUCHAUL, Ricardo B. Moral, ética e virtude. Revista Ciência & Maçonaria, São José dos Campos, 2013. Disponível em: https://cienciaemaconaria.com.br/index.php/cem/article/download/14/12. Acesso em: 07 nov. 2025. [cienciaema...ria.com.br]

CIDESP. Frases de Maçonaria de Grandes Pensadores e Reflexões. 2025. Disponível em: Cidesp. Acesso em: 07 nov. 2025. [cidesp.com.br]

CIDESP. Frases inspiradoras de Winston Churchill para refletir. Cidesp.com.br, 31 mar. 2025. Disponível em: https://cidesp.com.br/artigo/frases-winston-churchill/. Acesso em: 07 nov. 2025.

FRANKLIN, Benjamin. The Papers of Benjamin Franklin. New Haven: Yale University Press, 1779.

MAÇONARIA E MAÇON (s). Maçonaria, uma escola de virtudes. Freemason.pt, 11 abr. 2025. Disponível em: https://www.freemason.pt/maconaria-uma-escola-de-virtudes/. Acesso em: 07 nov. 2025.

PIKE, Albert. Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry. Charleston: Supreme Council, 1871.

RODRIGUES, Iomar Araújo; SOUZA, Lourival da Cunha. Maçonaria, religião e os impactos na sociedade. São Paulo: Academia.edu, 2021. Disponível em: https://www.academia.edu/107355247/Ma%C3%A7onaria_Religi%C3%A3o_e_Os_Impactos_Na_Sociedade. Acesso em: 07 nov. 2025.

SOUZA, Fernando Rodrigues de. A questão do sagrado na maçonaria: intolerância, controvérsias e aproximações. Revista de Estudios Históricos de la Masonería Latinoamericana y Caribeña, v.15, n.2, 2023. Disponível em: SciELO. Acesso em: 07 nov. 2025.

VOLTAIRE. Dicionário Filosófico. Paris: Garnier, 1764.


06 novembro 2025

Maçonaria e a Causa Animal

Fraternidade Além das Fronteiras

A maçonaria e a causa animal. Meta AI.

A Maçonaria, como instituição filosófica e fraternal, tem como um de seus pilares o humanismo, que se estende não apenas aos seres humanos, mas também à vida em todas as suas formas. A contribuição com a causa animal — especialmente com animais de rua e abandonados — está alinhada SIM, com diversos princípios maçônicos.

Entre os princípios filosóficos maçônicos há a prática da caridade e da solidariedade, incluindo apoio a abrigos de animais, campanhas de arrecadação e ações de resgate. O respeito à criação e à natureza é um valor fundamental, e muitos maçons entendem que cuidar dos animais é uma forma de honrar esse princípio.

Segundo o Instituto PetBrasil, cerca de 30 milhões de cães e gatos vivem em situação de abandono no Brasil, representando aproximadamente 25% da população total de pets. Em países como Suécia e Alemanha, o abandono é raro devido a políticas públicas eficazes, leis rigorosas e educação sobre posse responsável.

Entre as principais ações realizadas no Brasil estão: campanhas de castração gratuita, feiras de adoção, denúncias de maus-tratos, educação comunitária e a campanha Dezembro Verde, que promove a conscientização sobre o abandono de animais.

As principais ONGs brasileiras de proteção animal são: Ampara Animal; Instituto Caramelo (ex-instituto Luisa Mel); SUIPA; Adote um Gatinho; Projeto Segunda Chance; Instituto Patas Dadas; Natureza em Forma; SOS Pet Alpha entre outras não tão conhecidas, com atuação em municípios ou bairros, e que também precisam do nosso auxílio.

"A verdadeira fraternidade é aquela que não conhece barreiras." — Cidesp
"Onde há amor, não pode haver divisão." — Cidesp
"Podemos julgar o coração de um homem pela forma como ele trata os animais." — Immanuel Kant
"A compaixão para com os animais é das mais nobres virtudes da natureza humana." — Charles Darwin
"Até que alguém ame um animal, uma parte de sua alma permanece adormecida." — Anatole France

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1998.

BRASIL. Lei nº 14.064, de 29 de setembro de 2020. Altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, para aumentar a pena por maus-tratos a animais. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2020.

INSTITUTO PET BRASIL. Quase 5 milhões de pets estão em situação de vulnerabilidade no Brasil. CNN Brasil, 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/quase-5-milhoes-de-pets-estao-em-situacao-de-vulnerabilidade-no-brasil/. Acesso em: 05 nov. 2025.

MARS PETCARE. Índice de Abandono Animal. Valor Econômico, 2024. Disponível em: https://valor.globo.com/conteudo-de-marca/mars-petcare/. Acesso em: 05 nov. 2025.

CIDESP. Frases Maçônicas Inspiradoras. Disponível em: https://cidesp.com.br/artigo/frases-ma-onicas/. Acesso em: 05 nov. 2025.

SPARTACUS BRASIL. Frases de Proteção aos Animais. Disponível em: https://www.spartacusbrasil.com/l/frases-de-protecao-aos-animais/. Acesso em: 05 nov. 2025.



04 novembro 2025

O Diálogo Socrático na Maçonaria

Autoconhecimento e o Aperfeiçoamento Moral

Imagem Meta AI.
O pensamento Socrático é um conceito derivado do filósofo grego Sócrates. Fundamentalmente, é uma abordagem para o autodescobrimento e a busca pela verdade através do questionamento e do raciocínio. Seu funcionamento está alicerçado em dois pilares principais:

1. Conhece-te a ti mesmo - Esta é a máxima mais famosa de Sócrates. Ele acreditava que a primeira tarefa de toda pessoa é mergulhar em seu próprio interior para conhecer suas virtudes, vícios, limites e potenciais. Para Sócrates, o conhecimento de si mesmo é o ponto de partida para a sabedoria e para uma vida autêntica e ética.

2. Método da Maiêutica e Ironia:

  • Ironia: É o ponto de partida, onde Sócrates fingia ignorância e humildemente questionava os outros sobre seus conhecimentos ou crenças (o famoso paradoxo: "Só sei que nada sei"). Isso levava o interlocutor a reconhecer a própria ignorância e a fragilidade das suas "opiniões" (doxa).
  • Maiêutica (Parto de Ideias): Após a ironia, Sócrates, através de perguntas sucessivas e incisivas, ajudava o indivíduo a "dar à luz" ao seu próprio conhecimento e à verdade (epistéme) que já estavam latentes em sua mente. O conhecimento, portanto, não é transmitido, mas descoberto de dentro para fora.

A Aplicação na Maçonaria

Por ser a Maçonaria uma "escola de aperfeiçoamento moral e intelectual", o pensamento Socrático se encaixa perfeitamente nesse propósito, especialmente na jornada de desenvolvimento de seus membros, o que ocorre já no primeiro grau, ou seja, o grau de Aprendiz. 

Nessa fase, o Maçom é simbolicamente comparado a uma Pedra Bruta — um bloco sem forma, que representa o ser humano em seu estado natural, com suas imperfeições e vícios. Segundo a filosofia maçônica: "O grande filósofo Sócrates ensina ao Aprendiz em filosofia, que a primeira coisa a fazer é aprender a pensar" (FREEMASON.PT, 2021).

Para aplicar o pensamento Socrático em nossa vida incentivamos a prática de três tarefas, conforme a seguir:

A primeira e mais essencial tarefa é a do autoconhecimento. O preceito socrático "Conhece-te a ti mesmo" é o catalisador para que o(a) Aprendiz inicie o trabalho de "desbastar a Pedra Bruta"— ou seja, identificar e corrigir suas próprias falhas. Este é um trabalho que se estende por toda a vida, por isso o Maçom se autodenomina um "eterno aprendiz". Para isso, a Maçonaria faz uso de símbolos, rituais e instruções, incentivando seus membros a uma reflexão constante sobre sua conduta, suas intenções e seu papel no mundo, espelhando a introspecção socrática. 

A segunda tarefa é o estímulo ao Livre Pensar e ao Raciocínio (Maiêutica). A Liberdade de Pensamento é um dos princípios cardeais da Maçonaria. Assim como Sócrates desafiava as crenças dogmáticas, a Maçonaria incentiva seus membros a investigarem a verdade por si mesmos, sem se limitar a pensamentos primários ou opiniões superficiais (FREEMASON.PT, 2021).

O maçom deve defender a "plena liberdade de expressão do pensamento, como direito fundamental do ser humano" (UFAC, 2019). Nesse contexto, destaca-se também o princípio da "igualdade" (GOMB, [s.d.]). Infelizmente, ainda hoje, especialmente no Brasil, há quem negue a presença feminina na Maçonaria, alegando que "não existe maçonaria feminina". Essa visão ignora a própria história da humanidade, repleta de exemplos de participação ativa de mulheres na Ordem.

A proibição da iniciação de mulheres na Maçonaria, frequentemente atribuída a James Anderson, aparece nas Constituições dos Franco-Maçons (também conhecidas como a Constituição de Anderson), publicadas em 1723. No século XVIII, a maioria das mulheres sequer sabia ler e escrever, o que dificultava sua presença e participação em Lojas Maçônicas — espaços de compartilhamento de saberes filosóficos, científicos, espirituais, alquímicos etc. As poucas que tiveram acesso à educação, em geral pertencentes à nobreza, começaram a questionar essa exclusão. 

Hoje, o cenário é outro. Segundo o Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres brasileiras têm, em média, maior nível de instrução que os homens, especialmente no que diz respeito à conclusão do ensino superior (Mulheres - 20,7%; Homens - 16,8%). Torna-se imperativo, portanto, aplicar o pensamento Socrático para questionar regras antigas que precisam ser reformuladas à luz do mundo contemporâneo

As Lojas Maçônicas são o palco ideal para o debate filosófico, onde os membros são encorajados a questionar, aprofundar e fundamentar suas convicções — um processo que remete diretamente à Maiêutica.

Na terceira tarefa, portanto, combate-se a ignorância. O paradoxo Socrático — "Só sei que nada sei" — é adotado como postura de humildade intelectual. Reconhecer e admitir a própria ignorância não é um defeito, mas a base para o abandono da opinião (doxa) e a busca pelo conhecimento verdadeiro (epistéme), sendo este o objetivo da filosofia" (FOLHA DO LITORAL NEWS, 2022). 

Esse processo exige que as "opiniões não fundamentadas" sejam descartadas e que se busque o conhecimento verdadeiro. Só assim, conseguimos desenvolver diálogos socráticos que frequentemente trabalham questões éticas.

Em resumo, essas três tarefas transformam a Maçonaria em uma escola moral que usa a reflexão filosófica para moldar seus membros, transformando-os em seres humanos mais justos, íntegros e fraternos. Nesse momento a Pedra Bruta transforma-se em Pedra Polida — um maçom que deve se libertar "das vaidades humanas para se tornar um homem de bons costumes, humilde, justo, fraternal, livre, feliz e perfeito, para então ser a Pedra Polida na construção de uma perfeita sociedade humana" (O BUSCADOR, 2017). Portanto, o pensamento Socrático fornece a metodologia introspectiva e questionadora que a Maçonaria utiliza para auxiliar seus membros a se aproximarem cada vez mais da perfeição moral e ética, transformando-os de forma consciente e ativa, uma vez que são agentes e resultados desse processo.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

FOLHA DO LITORAL NEWS. Opinião (2): o paradoxo socrático na maçonaria. Paranaguá, 03 set. 2022. Disponível em: https://folhadolitoral.com.br/colunistas/maconaria/opiniao-2/. Acesso em: 04 nov. 2025.

FREEMASON.PT. A maçonaria simbólica e a filosofia (II): a jornada do aprendiz. 24 out. 2021. Disponível em: https://www.freemason.pt/a-maconaria-simbolica-e-a-filosofia-parte-ii/. Acesso em: 04 nov. 2025.

GOMB. Os Princípios da Maçonaria. [S.l.: s.n., s.d.]. Disponível em: https://www.gomb.org.br/Os-Princ%C3%ADpios-da-Ma%C3%A7onaria/. Acesso em: 04 nov. 2025.

O BUSCADOR. A Maçonaria Simbólica e a Filosofia. 07 set. 2017. Disponível em: https://www.gvaa.com.br/revista/index.php/OBuscador/article/viewFile/5085/4352. Acesso em: 04 nov. 2025.

REDE COLMEIA. Princípio filosófico na Maçonaria. 22 out. 2015. Disponível em: https://redecolmeia.com.br/2015/10/22/principio-filosofico-na-maconaria/. Acesso em: 04 nov. 2025.

UFAC. Desmistificando a Maçonaria: a partir da experiência na A∴R∴L∴S∴ Universitária Prof.ª Carmem Sylvia de Albuquerque Feitosa. Acre, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufac.br/index.php/SAJEBTT/article/download/2433/1573/6307. Acesso em: 04 nov. 2025.

03 novembro 2025

O que Sócrates Pode nos Ensinar?

Reflexão, Liberdade e Busca Pela Verdade

Sócrates. Meta AI.

"A vida que não é examinada não vale a pena ser vivida" — Sócrates, em A Apologia.

A Maçonaria é, antes de tudo, uma jornada de transformação ética, intelectual e espiritual. E poucos personagens da história da filosofia encarnam tão bem esses ideais quanto Sócrates. Em A Apologia de Sócrates, escrita por Platão, encontramos não apenas a defesa de um homem injustamente acusado, mas um verdadeiro tratado sobre coragem moral, liberdade de pensamento e compromisso com a verdade — valores que ressoam profundamente com a essência da Maçonaria. Por isso, A Apologia de Sócrates é uma das primeiras leituras recomendadas às Aprendizes, que são convidadas a refletir sobre como aplicar os ensinamentos socráticos em suas próprias vidas.

Sócrates foi condenado à morte por "corromper a juventude" e "não acreditar nos deuses da cidade". Na verdade, seu "crime" foi pensar livremente e incentivar outros a fazerem o mesmo. Na Maçonaria, também estimulamos as mulheres a pensarem livremente, a se conhecerem por meio de estudos, leituras e questionamentos. Encorajamos a rejeição de verdades prontas, promovendo a investigação, reflexão e construção de um entendimento próprio. Assim como Sócrates não recuou diante da injustiça, nós também não devemos recuar em nossa busca pela verdade — mesmo que ela nos confronte ou nos cause dor. 

Temos o costume de acreditar nas pessoas mais próximas, mas é preciso duvidar para encontrar a verdade. É preciso coragem para duvidar dos outros e até de nós mesmas, das nossas crenças mais arraigadas, pois aquilo que entendemos como real pode ser apenas uma imagem distorcida da realidade — uma visão filtrada pelas lentes que estamos acostumadas a usar. Lentes invisíveis, mas poderosas, que moldam nossos comportamentos, emoções e reações.

Quando tiramos a lente, matamos o nosso conhecido "eu interior". Às vezes, é necessário deixar morrer quem fomos, para que possamos renascer como quem realmente somos. Esse processo exige entrega, humildade e força. Mas é nele que reside a verdadeira liberdade: a liberdade de ser, de pensar, de sentir — sem amarras, sem ilusões. Como disse Sócrates: "Não é por temor da morte que um homem deve agir, mas por temor de cometer injustiça." (PLATÃO, 2001, p. 45). E há uma forma de injustiça muito danosa: aquela que praticamos contra nós mesmas, quando negamos nossa essência ou silenciamos nossa voz interior.

A máxima socrática "Conhece-te a ti mesmo" é um dos pilares da iniciação maçônica. Sócrates não se dizia sábio — pelo contrário, afirmava que sua sabedoria consistia em reconhecer sua ignorância. Esse é o ponto de partida para a verdadeira sabedoria: "Sei que nada sei" (PLATÃO, 2001, p. 38). Incentivamos nossas irmãs a buscar o conhecimento continuamente, a questionar suas crenças, a explorar outras formas de pensar, a ver o outro lado da moeda, a conhecer outras culturas e períodos históricos. Esse mergulho no "todo" amplia a consciência e fortalece a identidade.

Toda iniciação é um convite à introspecção — não apenas da irmã que passa pelo ritual, mas de todas as que dele participam, com carinho e dedicação, trabalhando nos preparativos e nos bastidores. Ao participarmos de uma Cerimônia Magna ou de uma Oficina, temos a chance de olhar para dentro de nós mesmas. E em cada símbolo, encontramos uma chave capaz de abrir as portas do nosso próprio templo interior.

Sócrates acreditava que a liberdade de pensar era um dever moral. Ele não impunha verdades — fazia perguntas. E é justamente isso que propomos: nada de dogmas, mas reflexão; nada de respostas prontas, mas caminhos de busca. "Sou como um tábano (mutuca) que desperta o cavalo adormecido da cidade" (PLATÃO, 2001, p. 29).

Ele via sua vida como uma missão. Não buscava glória, riqueza ou poder. Seu propósito era servir à verdade e ao bem comum. De forma semelhante, a Maçonaria tem como missão promover o desenvolvimento de mulheres livres e de bons costumes, conscientes de que o verdadeiro valor não está no cargo que ocupam, mas na forma como exercem a liderança — com ética, humildade e compromisso com o bem comum. Mulheres que não buscam prestígio em cargos, nem se deixam inebriar pelo poder que lhes é temporariamente confiado. Queremos que estejam conscientes de que não são o cargo, mas estão no cargo — e, por isso, devem estar comprometidas com a construção de uma sociedade mais fraterna. Não é o título, a comenda ou a posição que importam, mas sim o exemplo que é dado, dentro e fora dos templos.

Por ser a Maçonaria um espaço de crescimento, estudo, liberdade e ação, ela agrega mulheres livres e de bons costumes que, como Sócrates, não têm medo de pensar, de questionar e de transformar, pois ela é feita de irmandade, luz e coragem

Se desejamos descobrir algo em nós mesmas e no mundo, a Maçonaria é um caminho e, como Sócrates, podemos começar com uma simples pergunta: Quem somos?

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

PLATÃO. Apologia de Sócrates. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2001.

REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga: vol. I – Dos Pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Loyola, 2003.

28 outubro 2025

Helena Petrovna Blavatsky

Legado para a Maçonaria

Helena Blavatsky. Copilot.

Helena Petrovna Blavatsky nasceu em 12 de agosto de 1831, em Ekaterinoslav, no Império Russo (atualmente Dnipro, Ucrânia). Era filha do coronel Pytor Alekseyevich Gan, nobre russo de origem alemã, e de Elene Andreyevna Fadeyeva, escritora conhecida pelo pseudônimo Zeneida R-va. Após a morte da mãe, em 6 de julho de 1842, na cidade de Odessa, então parte do Império Russo, Helena foi criada pelos avós maternos em Saratov, cidade localizada na Rússia Europeia, às margens do rio Volta. Ali teve acesso à rica biblioteca aristocrática de seu bisavô, o príncipe Pavel Dolgorukov, iniciado na Maçonaria no século XVIII, o que influenciou profundamente sua formação esotérica.

Recebeu edcuação informal por meio de governantas, aprendendo piano, dança e línguas. Autodidata, desde jovem dedicou-se ao estudo do ocultismo, alquimia e magia, lendo autores como Parecelso, Agrippa e Khunrath. A influência intelectual de sua avó, Helena Pavlovna Dolgorukova, botânica e poliglota, também foi determinante para sua formação.

Casou-se aos 17 anos com Nikifor Vassilievich Blavatsky, vice-governador da província de Erevan. O casamento não foi consumado, e ela fugiu durante a lua de mel. Posteriormente, teve uma união com Michael Betanelly, mas não há registros de filhos.

A partir de 1849, iniciou uma série de viagens que a levaram ao Egito, Índia, Tibete, Europa e Estados Unidos. Em 1875, fundou com Henry Steel Olcott a Sociedade Teosófica, em Nova York. Publicou obras influentes como Isis Sem Véu (1877) e A Doutrina Secreta (1888) que se tornaram pilares do esoterismo moderno.

Annie Besant, iniciada na Maçonaria Mista Le Droit Humain foi sua discípula e sucessora na Sociedade Teosófica. Embora Helena não tenha sido iniciada em nenhuma Loja Maçônica regular — seja masculina, feminina ou mista — foi reconhecida por John Yarker, maçom britânico envolvido com ritos esotéricos, como detentora honorífica de graus simbólicos do Rito de Adoção, sistema ritualístico utilizado por Lojas Femininas na França desde o século XVIII. Entre os títulos que lhe foram atribuídos estão: Mestra Perfeita; Cavaleira da Rosa-Cruz; e Princesa Coroada do Rito de Adoção. Esse reconhecimento era mais simbólico do que funcional, representando respeito por sua contribuição ao pensamento esotérico e à integração de tradições iniciáticas.

Esse reconhecimento não decorreu de iniciação formal em Loja, mas sim de sua atuação nos círculos ocultistas e do profundo conhecimento que demonstrava sobre os rituais e simbolismos maçônicos. Blavatsky estudou obras de maçons como Jean-Marie Ragon, teve contato direto com maçons europeus e orientais, e influenciou discípulos como Charles Leadbeater e Annie Besant — esta última iniciada na Maçonaria Mista Le Droit Humain e sua sucessora na Sociedade Teosófica.

O legado de Blavatsky para as mulheres está na forma como articulou a ideia de uma fraternidade universal, a valorização dos mistérios antigos e a busca pela sabedoria divina — pilares que dialogam diretamente com os ideais Maçônicos. Defendeu o pensamento independente, a libertação das mulheres do dogmatismo religioso e abriu espaço para a atuação feminina em ambientes intelectuais e espirituais. Embora não tenha sido maçom no sentido institucional, foi uma ponte entre o esoterismo oriental e o simbolismo ocidental, inspirando muitos maçons a aprofundarem o aspecto espiritual da Ordem.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

CRANSTON, Sylvia. Helena Blavatsky: a vida e a influência extraordinária da fundadora do movimento teosófico moderno. Brasília: Editora Teosófica, 1992.

EMILIÃO, Sergio. Madame Blavatsky e a Maçonaria. Disponível em: https://masonic.com.br/videos/blavatsky.pdf. Acesso em: 28 out. 2025.

INSTITUTO DE PESQUISAS PROJECIOLÓGICAS E BIOENERGÉTICAS – IPPB. Blavatsky e a Sociedade Teosófica. Disponível em: https://www.ippb.org.br/textos/especiais/mythos-editora/blavatsky-e-a-sociedade-teosofica. Acesso em: 28 out. 2025.

CÍRCULO DE ESTUDOS MAÇÔNICOS DO BRASIL. Helena Blavatsky e a Maçonaria. Disponível em: https://estudosmaconicos.com.br/helena-blavatsky-maconaria/. Acesso em: 28 out. 2025.

WIKIPÉDIA. Helena Blavatsky. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Helena_Blavatsky. Acesso em: 28 out. 2025.

27 outubro 2025

Josefina de Beauharnais e Marie-Henriette Heiniken no Século da Revolução

Duas Mulheres, Dois Caminhos

Josefina e Henriette. Meta AI.

Entre a corte imperial e os campos de batalha, Josefina de Beauharnais e Marie-Henriette desafiaram os limites impostos às mulheres de seu tempo, atuando na maçonaria e inspirando gerações com coragem, inteligência e protagonismo.

No final do século XVIII e início do século XIX, duas mulheres viveram intensamente os acontecimentos que marcaram a Revolução Francesa e o Império Napoleônico: Josefina de Beauharnais, Imperatriz da França, e Marie-Henriette Heiniken, militar e figura ligada à Maçonaria. Embora tenham seguido caminhos distintos, ambas se tornaram símbolos de força e inspiração para mulheres até os dias de hoje.

Josefina, nascida na Martinica em 1763, enfrentou a turbulência da Revolução Francesa, incluindo a perda de seu primeiro marido na guilhotina. Casou-se com Napoleão Bonaparte em 1796 e, em 1804, foi coroada Imperatriz da França. Com elegância e inteligência, Josefina exerceu grande influência na corte, sendo referência em moda, cltura e diplomacia informal. Além disso, ela teve papel ativo na Maçonaria Feminina da época, sendo Grã-Mestre de duas Lojas de Adoção, estrutura maçônica voltada às mulheres, que funcionava sob tutela das lojas masculinas (ISMAIL, 2024). Mesmo após o fim de seu casamento com Napoleão, por não ter gerado herdeiros, Josefina manteve prestígio e respeito, sendo lembrada como uma mulher refinada e estrategista.

Por outro lado, Marie-Henriette Heiniken, também conhecida como Madame de Xaintrailles, viveu uma realidade marcada pela ação direta. Disfarçada de homem, serviu como ajudante de campo do homem que amava, o general Charles Antoine Xaintrailles, durante as Guerras Revolucionárias e Napoleônicas. Participou de combates, incluindo a batalha de Aboukir, em 1799, onde sofreu uma queda de cavalo que a feriu gravemente. Heiniken também esteve ligada à maçonaria: inicialmente seria iniciada em uma Loja de Adoção, mas acabou sendo iniciada na maçonaria regular masculina, recebendo o grau de Aprendiz — um feito extraordinário para uma mulher naquela época. Segundo o Bullock Texas State History Museum, sua iniciação foi motivada pela bravura demonstrada em combate, o que levou os irmãos maçons a reconhecerem seu valor e a admitirem na loja masculina.

Ambas viveram em um mundo em transformação, marcado por revoluções, guerras e mudanças sociais profundas. Josefina, com sua presença na corte e liderança nas Lojas de Adoção, e Heiniken, com sua bravura no campo de batalha e sua iniciação na maçonaria regular, mostraram que as mulheres podiam ocupar espaços de destaque, mesmo em tempos de grande adversidade. Hoje, suas histórias continuam a inspirar mulheres que lutam por reconhecimento, igualdade e protagonismo em diferentes áreas da sociedade.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

ISMAIL, Kennyo. A Maçonaria Feminina. No Esquadro, 20 maio 2024. Disponível em: https://noesquadro.com.br/a-maconaria-feminina/. Acesso em: 20 out. 2025.

BULLOCK TEXAS STATE HISTORY MUSEUM. Portrait of Marie-Henriette Heiniken. American Folk Art Museum, ca. 1800. Disponível em: https://www.thestoryoftexas.com/discover/artifacts/portrait-marie-henriette-heiniken. Acesso em: 20 out. 2025.

26 outubro 2025

Josefina de Beauharnais - Imperatriz

Elegância e Poder no Império Napoleônico

Josefina de Beauharnais. Meta AI
A Imperatriz Josefina de Beauharnais (Marie Josèphe Rose Tascher de La Pagerie), esposa de Napoleão Bonaparte, é uma figura central na história da maçonaria feminina. Sua atuação como Grã-Mestra das Lojas de Adoção no início do século XIX representa um marco na luta pela inclusão das mulheres em espaços iniciáticos e filosóficos.

Josefina nasceu em 23 de junho de 1763, em Les Trois-Îlets, na Martinica, então colônia francesa. Filha de Joseph Gaspard Tascher de La Pagerie e Rose Claire des Verges de Sannois, foi educada de forma doméstica, como era comum entre as elites coloniais (WIKIPEDIA, 2025).

Em 1779, com 16 anos de idade, casou-se com Alexandre de Beauharnais (1760-1794), com quem teve dois filhos: Eugênio (1781-1824) e Hortênsia (1783-1837). Alexandre foi guilhotinado em 1794 durante o Terror da Revolução Francesa, e Josefina (com 31 anos de idade) foi presa, sendo libertada após a queda de Robespierre (WIKIPEDIA, 2025).

Segundo a Grande Loja Simbólica da Lusitânia (2018), Josefina foi iniciada na Maçonaria em 1790, na cidade de Estrasburgo, tornando-se membro ativo das Lojas de Adoção Fidélité e Sainte Sophie, consideradas paramaçônicas. Essa iniciação ocorreu enquanto seu marido, Alexandre de Beauharnais, servia no exército do Reno, do qual se tornaria comandante-chefe em 1793. Curiosamente, a combatente Marie-Henriette Heiniken também atuou nesse exército como ajudante de campo do general Charles Antonie Dominique Lauthier-Xaintrailles, seu companheiro, entre 1792 e 1793.

Em 1796, casou-se com Napoleão Bonaparte, tornando-se Imperatriz dos Franceses em 1804. O casamento foi anulado em 1810 por não gerar herdeiros, mas Josefina manteve boa relação com Napoleão até sua morte em 1814 com 51 anos de idade.

Posteriormente, entre 1804 e 1805, Josefina atuou como Grã-Mestra das Lojas de Adoção Regular da França, promovendo a criação de lojas femininas paralelas às masculinas, com o objetivo de incluir mais mulheres na maçonaria. Embora o papel dela seja central para as tradições maçônicas femininas, alguns historiadores acadêmicos debatem se sua liderança foi de fato ativa ou predominantemente honorária e de prestígio social.

Segundo Santos (2011), as Lojas de Adoção eram tuteladas por lojas masculinas e tinham funções limitadas, muitas vezes restritas a bailes e festividades. Tinham, também, ritos próprios, adaptados da tradição maçônica, com graus, símbolos e alegorias morais. Sob a liderança de Josefina, essas lojas ganharam legitimidade e visibilidade, representando um avanço na emancipação feminina dentro da maçonaria.

Josefina é considerada uma precursora da maçonaria feminina moderna, tendo inspirado movimentos posteriores como o Le Droit Humain, fundado por Marie Deraismes em 1893. Sua atuação como Grã-Mestra simboliza a possibilidade de liderança feminina em espaços tradicionalmente masculinos (HIVERT-MESSECA, 2015).

Josefina também teve papel na definição do gosto artístico e decorativo da França pós-revolucionária. Como Imperatriz, ela contribuiu para estabelecer o chamado estilo Consulado e Império, caracterizado pela inspiração na arte e arquitetura da Antiguidade clássica, com elementos como colunas, esfinges, águas e liras. Esse estilo se manifestava tanto na decoração de interiores quanto na moda, com móveis de linhas retas e tecidos nobres, além de vestidos de corte império que se tornaram símbolo de elegância feminina. O Castelo de Malmaison, residência pessoal de Josefina, tornou-se referência estética e cultural, influenciando palácios e residências aristocráticas em toda a Europa. Sua sensibilidade artística e refinamento ajudaram a consolidar uma estética que refletia o poder, a ordem e a sofisticação do novo regime napoleônico.

Além disso, sua trajetória de vida — de viúva empobrecida à Imperatriz — reflete resiliência, inteligência social e influência política, tornando-a modelo de elegância, diplomacia e poder feminino em tempos de revolução e império. 

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

GRANDE LOJA SIMBÓLICA DA LUSITÂNIA. Josefina de Beauharnais e a Maçonaria de Adoção. Facebook, 29 ago. 2018. Disponível em: https://www.facebook.com/grandelojasimbolicalusitania/posts/httpsgrandelojasimbolicalusitaniapt/1829749607079202. Acesso em: 19 out. 2025. [facebook.com]

HIVERT-MESSECA, Gisèle; HIVERT-MESSECA, Yves. Femmes et Franc-maçonnerie: Trois siècles de franc-maçonnerie féminine et mixte en France (de 1740 à nos jours). 2. ed. Paris: Éditions Dervy, 2015.

SANTOS, Fernanda Cristina. A mulher na história da maçonaria portuguesa: opressão e liberdade no contexto maçónico. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2011. Disponível em: https://archive.org/download/a-mulher-na-historia-da-maconaria-portuguesa. Acesso em: 19 out. 2025.

WIKIPÉDIA. Josefina de Beauharnais. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Josefina_de_Beauharnais. Acesso em: 19 out. 2025.

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