30 setembro 2025

Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa

O Papel da Mulher e a Inclusão Iniciática na França - Século XVIII

A história da participação feminina na Maçonaria é marcada por exclusões formais e resistências institucionais, mas também por iniciativas discretas e inovadoras que buscaram incluir mulheres em ambientes iniciáticos. Uma dessas iniciativas foi a criação da Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa, na França, durante o século XVIII. Esta organização paramaçônica permitia a participação feminina em rituais simbólicos semelhantes aos da Maçonaria, embora de forma secreta e restrita (DACAMINO, 2023).

Imperatriz Josefina. Copilot.

A Ordem surgiu em um contexto de efervescência filosófica e espiritual, marcado pelo Iluminismo e pela expansão dos ritos esotéricos na Europa. A França, em especial, tornou-se um centro de experimentação iniciática, com o surgimento das Lojas de Adoção, que permitiam a iniciação de mulheres sob supervisão masculina. A Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa foi uma derivação mais simbólica e ritualística desse movimento, com estrutura própria e forte influência rosacruciana (DACAMINO, 2023).

Embora os registros sobre a fundação da Ordem sejam escassos, acredita-se que ela tenha sido criada entre 1740 e 1760, desaparecendo gradualmente após a Revolução Francesa, por volta do início do século XIX. A instabilidade política e a perseguição às sociedades secretas contribuíram para sua extinção silenciosa (DACAMINO, 2023).

Entre os nomes femininos associados à Ordem, destacam-se figuras da aristocracia e da elite intelectual francesa. A Duquesa de Bourbon (Maria Teresa Luísa de Saboia-Carignano), por exemplo, foi iniciada entre 1773 e 1775 na Loja de Adoção Saint-Jean de La Candeur, em Paris, tornando-se a  primeira mulher a receber o título de Grã-Mestra das Lojas de Adoção. Ela presidiu a Loja até 1780, promovendo a criação de novas Lojas, incentivando a participação feminina e exercendo forte influência sobre a estrutura da Ordem das Ninfas da Rosa.

Outro nome que podemos citar é a Imperatriz Josefina, esposa de Napoleão Bonaparte, que, embora não tenha sido iniciada formalmente, foi uma simpatizante ativa e defensora das práticas maçônicas femininas, contribuindo para sua preservação durante o Império Napoleônico. Atuou como Grã-Mestra honorária de Lojas de Adoção, contribuindo para sua preservação e retomada após o colapso revolucionário (DACAMINO, 2023; WIKIPÉDIA, 2023).

A estrutura da Ordem dividia seus membros entre Cavaleiros (homens) e Ninfas (mulheres), com rituais que envolviam símbolos florais, mitológicos e alquímicos. O objetivo era cultivar virtudes como a pureza, a sabedoria e a fraternidade, por meio de cerimônias que evocavam o ideal rosacruciano de elevação espiritual. 

Apesar de não ter sido reconhecida pelas potências maçônicas regulares, a Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa desempenhou um papel fundamental na história da inclusão feminina na maçonaria. Ela antecipou movimentos posteriores, como a maçonaria mista e a criação de ordens femininas autônomas, e deixou um legado simbólico que ainda inspira estudiosos e iniciadas.

Estrutura Ritualística

A Ordem operava com graus simbólicos e cerimônias que remetiam à tradição rosacruciana e Maçônica, mas com adaptações que permitiam a presença feminina. Os membros eram divididos entre Cavaleiros (homens) e Ninfas (mulheres), e os rituais envolviam símbolos florais, mitológicos e alquímicos.

A participação das mulheres era vista como essencial para o equilíbrio espiritual da Ordem. Embora ainda supervisionadas por membros masculinos, as Ninfas da Rosa desempenhavam papéis ativos nos rituais e na administração interna da organização. Essa inclusão representava um avanço significativo em relação às restrições impostas pelas Constituições de Anderson (1723), que excluíam formalmente aas mulheres da Maçonaria regular.

Relação com as Lojas de Adoção

A Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa pode ser vista como precursora ou paralela às Lojas de Adoção. Ambas compartilhavam o ideal de educação moral e filosófica feminina, mas a Ordem tinha uma abordagem mais simbólica e menos institucionalizada.

Não há registros oficiais precisos sobre sua extinção, mas acredita-se que tenha desaparecido gradualmente após a Revolução Francesa, por volta do início do século XIX, quando muitas estruturas maçônicas foram dissolvidas ou reformuladas. Embora tenha desaparecido com o tempo, a Ordem deixou um legado importante:

  • Inspirou outras estruturas femininas e mistas.
  • Contribuiu para o debate sobre o papel da mulher na Maçonaria.
  • Antecipou movimentos como o Le Droit Humain e a Maçonaria Mista Moderna.

Conclusão

A Ordem dos Cavaleiros e das Ninfas da Rosa representa um capítulo pouco conhecido, mas profundamente simbólico, da história da Maçonaria Feminina. Sua existência revela que, mesmo em tempos de exclusão formal, houve esforços concretos para incluir mulheres em espaços iniciáticos, reconhecendo seu valor espiritual e filosófico.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

DACAMINO. O papel da mulher na maçonaria: uma história de exclusão e inclusão. DaCamino Livros Maçônicos. Disponível em: https://dacamino.com.br/o-papel-da-mulher-na-maconaria-uma-historia-de-exclusao-e-inclusao. Acesso em: 29 set. 2025.

FOLHA2. GONÇALVES, Nelson. A Maçonaria Feminina e Mista no Brasil e no mundo. Folha do Povo. Disponível em: https://www.folha2.com.br/2023/09/maconaria-feminina-no-brasil-e-no-mundo.html. Acesso em: 30 set. 2025.

LE DROIT HUMAIN BRASIL. Sobre a Ordem Maçônica Mista Internacional Le Droit Humain. Disponível em: https://www.ledroithumainbrasil.com.br/about-1. Acesso em: 30 set. 2025.

MACONARIA.NET. FIGUEIREDO, Luis de. Maçonaria – Le Droit Humain. Disponível em: https://www.maconaria.net/maconaria-le-droit-humain/. Acesso em: 30 set. 2025.

SCIELO PORTUGAL. PIRES, Fátima; RUAH, Mery. Mulheres e Maçonaria. Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher, Lisboa, n. 34, 2015. Disponível em: https://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-68852015000200010. Acesso em: 30 set. 2025.

WIKIPÉDIA. Mulheres e maçonaria. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mulheres_e_ma%C3%A7onaria. Acesso em: 29 set. 2025.

27 setembro 2025

As Lojas de Adoção, o que são?

Duquesa de Bourbon e o Auge das Lojas de Adoção

A primeira mulher a ser iniciada em uma loja maçônica masculina foi Elizabeth Aldworth (cerca de 1695 e 1773, Irlanda). Ela não fez parte de uma "loja feminina" formal, pois tais estruturas ainda não existiam, e sua história carece de documentação detalhada.

Duquesa de Bourbon - ChatGPT.

Entre Elizabeth Aldworth e a criação das primeiras Lojas Mistas, surgiu, no final do século XVIII, na França, segundo alguns registros, a experiência das Lojas de Adoção (Lodges d'Adoption). Estas são consideradas as primeiras formas organizadas de participação feminina na Maçonaria. Foram criadas para permitir que mulheres ligadas a maçons - esposas, irmãs ou filhas - participassem dos rituais e da vida maçônica, ainda que sob supervisão masculina. O termo "adoção" refletia a ideia de que a mulher era simbolicamente incorporada à Loja Masculina.

As Lojas de Adoção possuíam ritos próprios, adaptados da tradição maçônica, com graus, símbolos e alegorias morais, muitas vezes inspiradas na mitologia clássica. As mulheres podiam exercer funções de liderança, sendo a figura máxima conhecida como Grande Maîtresse (Grã-Mestra), que presidia a loja e simbolizava a autoridade feminina dentro do rito de adoção.

Há indícios de que a primeira Loja de Adoção tenha sido fundada em Bordéus (Bordeaux, em francês), que fica no sudoeste da França, na região da Nova Aquitânia (Nouvelle-Aquitaine) - por volta de 1730, sob os auspícios da Loja L'Anglaise. Esse fato foi identificado em documentos históricos recuperados chamados "arquivos de Moscou", apreendidos pelos nazistas na Segunda Guerra e posteriormente restituídos às Grandes Lojas francesas. Outros autores, contudo, atribuem a primeira fundação à Loja De Juste, em Haia (c. 1751).

A Duquesa de Bourbon, Maria Teresa Luísa de Saboia-Carignano, foi instalada com grande pompa e esplendor entre 1773-1775, na Loja de Adoção Saint-Jean de La Candeur, localizada na sala de Folie-Titon, em Paris. Este evento marcou sua ascensão como a primeira mulher a receber o título de Grã-Mestra em uma estrutura maçônica reconhecida na França. Durante o período em que presidiu a Loja de Adoção La Candeur, até cerca de 1780, desempenhou um papel fundamental na consolidação da Maçonaria Feminina, incentivando a criação de novas Lojas e promovendo maior participação das mulheres. Sua atuação foi decisiva para o fortalecimento e a legitimação das práticas femininas dentro do universo maçônico.

Além de sua atuação na Maçonaria, a Duquesa de Bourbon manteve contato com a rainha Maria Antonieta nos círculos da corte francesa. Era conhecida por seu interesse pelo Iluminismo e pelo apoio à instrução feminina. Sua liderança na maçonaria inspirou gerações de mulheres a se envolverem na Ordem e a contribuírem para a promoção dos valores maçônicos.

Também se destacaram a Loja de Adoção La Parfaite Égalité e, por associação simbólica, a famosa Loja Mista Les Neuf Soeurs (Paris, 1776). Embora esta última fosse predominantemente masculina, seu nome e prestígio foram ligados simbolicamente à presença feminina.

Entre as mulheres que participaram dessas experiências pioneiras, várias pertenciam à elite parisiense do final do século XVIII. Elas exerciam funções de liderança simbólica nas lojas de adoção, embora seus nomes raramente apareçam em registros históricos detalhados.

Reconhecimento e Expansão

Em 1774, o Grande Oriente da França regulamentou oficialmente as Lojas de Adoção, reconhecendo uma prática que já existia havia cerca de 30 anos. Um levantamento feito pelas historiadoras Margaret Jacob e Janet Burke identificou a existência de cerca de 25 Lojas de Adoção na França, um número expressivo. As mais prestigiadas chamavam-se La Sincérité e La Candeur, ambas em Paris.

Essas Lojas eram frequentadas por mulheres da alta nobreza da corte, como a Princesa de Lamballe, documentada como Venerável Mestra da Loja de Adoção vinculada à Loja Mãe Escocesa Le Contrat Social. Segundo a Grande Loja Simbólica da Lusitânia (2018), a Imperatriz Josefina atuou como Grã-Mestra das Lojas de Adoção Regular da França entre 1804 e 1815, promovendo a criação de lojas femininas paralelas às masculinas, com o objetivo de incluir mais mulheres na maçonaria. No entanto, alguns historiadores contemporâneos consideram essa informação pouco confiável. 

O Declínio e a Retomada

Em 1808, durante o Império Napoleônico, o Grande Oriente da França suprimiu oficialmente as Lojas de Adoção, que já vinham perdendo vigor. Elas retomariam apenas em 1893, com a fundação da Ordem Mista Le Droit Humain, criada por Georges Martin e Maria Deraismes, feminista comprometida com a emancipação feminina. Deraismes havia sido iniciada em 1882 na Loja Les Libres Penseurs, em Le Pecq. Suas ações na Maçonaria influenciaram Annie Besant, teósofa e feminista responsável por fundar a primeira Loja Le Droit Humain em Londres, em 1902.

As Lojas de Adoção na Atualidade

Atualmente, algumas Lojas de Adoção ainda existem em jurisdições históricas, sobretudo na França, mas em muitos casos funcionam como organizações mistas ou femininas independentes, dedicadas à preservação de tradições, educação moral, estudo simbólico e ações filantrópicas. Diferentemente do modelo original, que colocava as mulheres sob supervisão masculina, essas Lojas modernas oferecem autonomia plena às participantes, refletindo a evolução da Maçonaria Feminina e Mista ao longo dos séculos.

Assim, as Lojas de Adoção - juntamente com ordens correlatas, como a Ordem da Estrela do Oriente - representam um elo entre a tradição histórica da participação feminina e as formas contemporâneas de maçonaria, consolidando um espaço ritualizado, educativo e socialmente relevante para mulheres dentro da tradição maçônica.

Conclusão

Em termos cronológicos, percebe-se uma linha de desenvolvimento clara: de Elizabeth Aldworth, que representou a admissão individual e excepcional de uma mulher, às Lojas de Adoção francesas, que criaram um modelo coletivo e ritualizado de participação feminina; até figuras do século XIX como Maria Deraismes, Marie Béquet de Vienne e Annie Besant, que estabeleceram organizações mais estruturadas, com ritos próprios e reconhecimento internacional.

Assim, as Lojas de Adoção ocupam uma posição intermediária e essencial na história da mulher na maçonaria: não eram independentes como as Lojas Femininas Modernas, mas foram o primeiro espaço sistemático e ritualizado onde mulheres puderam participar, liderar e influenciar a tradição maçônica.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

ASLAN, Nicola. História Geral da Maçonaria. São Paulo: Editora Pensamento. 2002.

FREEMASON. Cronologia Maçônica - 2a Parte - 1717 a 1812. Disponível em: https://www.freemason.pt/cron-mac2. Acesso em 27 set. 2025.

GRANDE LOJA SIMBÓLICA DA LUSITÂNIA. Josefina de Beauharnais e a Maçonaria de Adoção. Facebook, 29 ago. 2018. Disponível em: https://www.facebook.com/grandelojasimbolicalusitania/posts/httpsgrandelojasimbolicalusitaniapt/1829749607079202. Acesso em: 19 out. 2025.

JACOB, Margareth; BURKE, Janet. Mulheres e Maçonaria: a história das Lojas de Adoção. Trad. Ana Maria de Oliveira. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2013.

OCULTURA. Maçonaria de Adoção. Disponível em: https://www.ocultura.org.br/index.php/MA%C3%87ONARIA_ADOTIVA. Acesso em 27 set. 2025.

RESEARCHGATE. A (im)possibilidade de mulheres nos alojamentos: disputas de gênero na maçonaria. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/381562511_A_impossibilidade_de_mulheres_nos_alojamentos_disputas_de_genero_na_Maconaria. Acesso em 27 set. 2025.

RÉVAUGER, Cécile. A Maçonaria Feminina na França: origens e desenvolvimento. Trad. Carlos Eduardo de Oliveira. São Paulo: Editora Unesp, 2013.

SNOEK, Jan. A Maçonaria na França no século XVIII. Trad. Renato Burity. São Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 2013.

WIKIPEDIA. Maria Teresa Luísa de Saboia-Carignano. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Teresa_Lu%C3%ADsa_de_Saboia-Carignano. Acesso em 27 set. 2025.

21 setembro 2025

As três qualidades indispensáveis a um(a) maçom

Vontade, Amor e Inteligência

As três qualidades indispensáveis a um(a) maçom são vontade, amor e inteligência que são absolutamente inseparáveis e devem estar em equilíbrio perfeito, pois a separação delas causa desequilíbrio, como veremos a seguir:

Uma pessoa com vontade, mas sem amor e inteligência, é igual a uma ser bruto. Alguém com inteligência, mas sem vontade e amor, é um egoísta. Uma pessoa com amor, mas sem vontade e inteligência, apesar de ser boa, provavelmente não terá ação para nada. Uma criatura com vontade e inteligência, mas sem amor, poderá ser um gênio e... um monstro. Se tiver apenas amor e inteligência, será uma pessoa inofensiva, dotada de um caráter passivo, porém improdutiva, por lhe faltar a energia indispensável da vontade. Por fim, se uma pessoa tiver vontade e amor, mas sem inteligência, poderá ser boa e ativa, mas lhe faltará o discernimento próprio da inteligência.

Portanto, são qualidades que devem estar em equilíbrio em todas as que se candidatam ao conhecimento dos Mistérios na maçonaria.

Por muito tempo estive em busca do "corpo perfeito", julgando-me e reprovando o que eu via no espelho. Fiz inúmeras dietas, pratiquei exercícios e até cheguei a iniciar o processo de cirurgia bariátrica, mas, no fim, desisti.

Hoje percebo que estava fazendo tudo errado: eu tinha a Vontade, mas, sem o Amor e sem a Inteligência, acabei me maltratando em vez de me tratar com carinho, ficando sem um plano consciente e sem o olhar do amor que deveria ter por mim mesma.

O tempo foi passando e fui caminhando dentro desses três aspectos. Vontade, eu tinha de sobra: emagrecer para alcançar o corpo que minha mente idealizava. Inteligência, também busquei: tracei planos, pratiquei atividade física e me dediquei a ter uma alimentação que respeitava o funcionamento do meu corpo. Mas me faltava o Amor. E foi justamente nesse momento que compreendi a lição da instrução do Grau de Aprendiz Maçom, que ensina que Amor, Vontade e Inteligência são inseparáveis, e que, quando uma delas falta, o ser humano se desequilibra.

Essa falta de Amor refletia-se, especialmente, na minha relação com a minha barriga. Um dia, ela foi meu maior motivo de orgulho; depois, tornou-se minha maior defesa. Me defendeu da vida e até de assédios. Foi motivo de tristezas, raiva e conflitos internos. Foi abrigo, refúgio e, ao mesmo tempo, minha inimiga diante da tirania do culto à beleza. Mas hoje estou escrevendo uma nova história. Honro minha barriga e meu corpo. Sou grata por tudo que me trouxeram, por tudo que representaram e representam na minha vida. Sinto muito por ter me maltratado e peço perdão por não ter cuidado de mim como eu merecia. Agradeço ao meu corpo por ter sustentado as quatro vidas que gerei por nove meses e e por tudo que a minha vida hoje significa para mim.

Agora sei que o caminho é o da integração: integrar as partes que antes tratei separadamente - ora com vontade, ora com inteligência, ora com amor. Hoje escolho unir as três qualidades em mim: Amor, Vontade e Inteligência caminhando juntas. Esse processo não será fácil, mas é nele que posso ser inteira. Ser, ter, estar e agir como realmente sou na minha essência. Inteira, com todas as minhas partes.

Referências Bibliográficas

BARROS, Eldelvan. Os Três Pontos na Maçonaria. [S.l.: s.n.], [2023?]. Disponível em: https://es.scribd.com/document/661517090/Os-Tres-Pontos-na-Maconaria-Eldelvan-Barros. Acesso em: 09 set. 2025.
OTÁVAREZ, Marcelo. Os Três Pontos na Assinatura de um Maçom. [S.l.: s.n.], [2023?]. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/681588253/OS-TRES-PONTOS-NA-ASSINATURA-DE-UM-MACOM. Acesso em: 09 set. 2025

Maria Luiza Menquique


19 setembro 2025

Da Inglaterra a Índia: a jornada de Annie Besant

Uma mulher à frente do seu tempo

Imagem criada ChatGPT.
Annie Wood Besant nasceu em 1º de outubro de 1847, em Londres, filha de William Burton Persse Wood e Emily Roche Morris. Seu pai faleceu quando ela ainda era criança, deixando a família em dificuldades. Sua educação foi conduzida em parte pela mãe e em parte por Ellen Marryat, amiga da família. Nessa época, Annie já mostrava um espírito questionador. Em sua autobiografia, ela recorda que “desde a infância eu tinha uma sede insaciável de saber, e nenhum medo de onde esse saber pudesse me conduzir” (Besant, 1893, p. 15).

Em dezembro de 1867, com vinte anos, casou-se com o reverendo Frank Besant, com quem teve dois filhos, Arthur e Mabel. O casamento, porém, foi infeliz, marcado por conflitos devido à crise de fé de Annie e à sua rejeição aos dogmas cristãos. A própria Annie descreveu: “Nós éramos um par mal ajustado, sem afinidade real, unidos apenas por laços externos” (Besant, 1893, p. 53). A separação legal ocorreu em 1873, quando inicialmente levou consigo a filha Mabel. (NETHERCOT, 1960, p. 45).

Após a separação Annie Besant iniciou sua militância social e intelectual na década de 1870, ao lado de Charles Bradlaugh (1833–1891), líder da National Secular Society, defendendo causas como a liberdade de expressão, a educação pública, o controle de natalidad e, de forma geral, os direitos das mulheres. A parceria ganhou destaque durante o caso Fruits of Philosophy (1877), quando ambos foram processados por publicar um livro sobre métodos de controle de natalidade, considerado obsceno na época. Segundo Taylor (1991, p. 87), “Besant encontrou em Bradlaugh um mentor e aliado, que lhe mostrou como articular ideias radicais e defender o direito à liberdade de pensamento”. A colaboração com Bradlaugh foi decisiva para o desenvolvimento do ativismo público de Annie, preparando-a para sua posterior atuação na teosofia, na educação e na política na Índia. No entanto, após essas polêmicas relacionadas às suas ideias sobre controle de  natalidade, Annie perdeu a guarda dos filhos. Em 1878, a decisão judicial favoreceu o marido, Frank Besant, o que a afetou profundamente do ponto de vista emocional.

Embora separada legalmente, Annie ainda manteve algum contato com os filhos, mas era limitado e supervisionado pelo pai. Em suas memórias, Besant expressa pesar e saudade: ela escreveu que a separação a “marcou para sempre, ensinando o preço da independência e da defesa de ideias impopulares” (Besant, 1893, p. 107). A perda da guarda reforçou sua determinação política e social. Muitos biógrafos, como Taylor (1991, p.88), destacam que "a dor pessoal de Annie fortaleceu seu compromisso com causas que ela acreditava serem justas, como educação, liberdade e direitos das mulheres". A partir de então, ela canalizou o amor pelos filhos em seu trabalho público e na educação de jovens, como nas escolas teosóficas que fundou posteriormente na Índia.

Em 1889, ela ingressou na Sociedade Teosófica, tornando-se uma de suas líderes mais influentes. Em 1907, foi eleita presidente mundial, cargo que exerceu até sua morte. Annie acreditava que a espiritualidade deveria andar lado a lado com a transformação social. Segundo Besant (1893, p. 212) “A verdadeira religião deve ser vivida na vida diária, traduzida em serviço à humanidade”.

No campo maçônico, Annie Besant foi iniciada em Paris, em 27 de julho de 1902, na Ordem Le Droit Humain. Poucos meses depois, em 26 de setembro de 1902, participou da fundação da Loja Human Duty n. 6, em Londres, tornando-se sua primeira Venerável Mestra. Esta loja estava ligada à Le Droit HumainComo lembra Nethercot (1963, p. 211), “com a fundação da nova loja, Besant consolidou a presença da co-maçonaria (como era chamada a maçonaria mista naquela época - co-freemasonry) na Grã-Bretanha e abriu caminho para sua expansão mundial”. Besant trabalhou para expandir a maçonaria mista para diversos países, incluindo Irlanda, Índia, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e regiões do Sudeste Asiático.

Na Índia, Besant atuou como educadora e nacionalista. Apoiou a criação de escolas e faculdades, editou jornais e, em 1916, fundou a Home Rule League (inspirada em movimentos irlandeses de autonomia) que exigia autogoverno para a Índia dentro do Império Britânico. Por isso, foi presa em 1917 sob a Defense of Indialegislação que dava poderes ao governo colonial para prender líderes sem julgamento formal, em nome da 'segurança do império'. O governo britânico considerava a atividade de Besant subversiva, especialmente durante a Primeira Guerra Mundial, quando qualquer movimento político (que pudesse enfraquecer a autoridade britânica) era visto como perigoso. 

Annie ficou confinada em Ooty (montanhas do sul da Índia) por cerca de 93 dias. Sua prisão provocou grande mobilização popular e apoio de líderes indianos, o que aumentou a visibilidade do movimento Home Rule League. Após essa forte pressão popular, ela foi libertada e eleita presidente do Congresso Nacional Indiano no mesmo ano (CHANDRA, 2001, p. 74).

Annie Besant faleceu em 20 de setembro de 1933, em Adyar, Índia. Sua vida foi marcada por profundas transformações espirituais e políticas. Como resume Taylor (1991, p. 301), “ela foi ao mesmo tempo livre-pensadora, socialista, teósofa, maçom e nacionalista indiana — um exemplo raro de coerência na diversidade”. Deixou as seguintes obras publicadas de sua autoria:

BESANT, Annie. The Education of the People. 1882.
BESANT, Annie. An Autobiography. London: T. Fisher Unwin, 1893.
BESANT, Annie. The Ancient Wisdom. 1897.
BESANT, Annie. Woman’s Work in the World. 1902.
BESANT, Annie. Education in the West Indies. 1907.
BESANT, Annie. An Introduction to Yoga. 1908.
BESANT, Annie; LEADBEATER, Charles W. Occult Chemistry. 1908.
BESANT, Annie. Theosophy and the Soul. 1911.
BESANT, Annie. The Case for India. 1917.
BESANT, Annie. India: Its Problems and Its Leaders. 1923.

Referências Bibliográficas

BESANT, Annie. An Autobiography. London: T. Fisher Unwin, 1893. Disponível em: https://www.gutenberg.org/ebooks/12085. Acesso em: 16 set. 2025.

CHANDRA, Jyoti. Annie Besant: From Theosophy to Nationalism. New Delhi: K.K. Publications, 2001.

NETHERCOT, Arthur H. The First Five Lives of Annie Besant. Chicago: University of Chicago Press, 1960.

NETHERCOT, Arthur H. The Last Four Lives of Annie Besant. Chicago: University of Chicago Press, 1963.

TAYLOR, Anne. Annie Besant: A Biography. Oxford: Oxford University Press, 1991.

Sandra Cristina Pedri

16 setembro 2025

Marie Béquet de Vienne: qual foi o seu legado?

Vida e ações práticas de cunho social

Fonte: Site Droit Humain.

Marie Béquet de Vienne foi uma feminista e militante social francesa ligada ao movimento maçônico misto no final do século XIX e início do século XX. Sua atuação foi decisiva para a consolidação da Ordem Maçônica Mista Internacional Le Droit Humain, ao lado de Maria Deraismes e Georges Martin.

Segundo o site Le Droit Humain, ela nasceu em 4 de fevereiro de 1854, em Paris, e morreu em 25 de setembro de 1913, em Hermanville-sur-Mer, sendo sepultada no Cemitério Père-Lachaise (WIKIPEDIA, acesso em 2025).

Era filha de Philippe de Vienne, arquiteto-chefe do governo imperial, e de Anne de Chatelain. Sua família era burguesa com fortes tradições republicanas e laicistas. Casou-se com Léon Béquet, conselheiro de Estado e livre-pensador, de quem ficou viúva relativamente jovem. Não há registros precisos sobre sua formação acadêmica, mas acredita-se que tenha recebido educação compatível com sua posição social.

Em 1876, fundou uma Sociedade de Aleitamento Materno e também organizou refúgios (ouvroirs) para mulheres grávidas em situação de dificuldade. Essas instituições ofereciam acolhimento, assistência médica, apoio no parto e cuidado às crianças. Em 1880, uma delas foi oficialmente reconhecida como de utilidade pública (SEGALEN, 2013).

Esse engajamento mostra que Béquet de Vienne uniu sua militância política a ações práticas de apoio social, buscando melhorar as condições de vida das mulheres e da infância.

Fonte: Wikipedia, 2025.
De acordo com algumas fontes, Marie Béquet de Vienne atuou ao lado de Maria Deraismes e figura entre as pioneiras da maçonaria mista. Sua iniciação teria ocorrido em 1893, na Loja Le Droit Humain nº 1, em Paris, considerada a primeira oficina mista do mundo, fundada em 4 de abril de 1893 por Maria Deraismes e Georges Martin. Isso significa que ela foi iniciada um ano antes do falecimento de Deraismes. Entretanto, há divergências quanto à data exata dessa iniciação e ao número de mulheres admitidas na ocasião: algumas fontes mencionam seis, enquanto outras apontam até dezesseis (WIKIPEDIA, acesso em 2025; LE DROIT-HUMAIN.it, 2023).

Ela ocupou cargos de destaque na maçonaria, como o de Primeira Vigilante na loja, e deu continuidade e impulso à maçonaria mista, juntamente com Georges Martin, principalmente após o falecimento de Deraismes. Cedeu sua própria residência na Rue Jacob para as reuniões da ordem durante o primeiro ano de funcionamento (1893). Posteriormente, em 1896, fundou uma loja do Le Droit Humain em Rouen, onde exerceu o cargo de Venerável Mestre por vários anos (SEGALEN, 2013).

O legado de Marie Béquet de Vienne pode ser observado em quatro aspectos principais:
  1. Integração entre ativismo social e maçonaria – Sua militância não foi apenas simbólica; ela concretizou projetos de apoio à maternidade e à infância.
  2. Abertura de espaços institucionais – Ofereceu sua casa como local de reunião e fundou lojas maçônicas mistas.
  3. Exemplo de liderança feminina – Ocupou cargos de direção e demonstrou a capacidade das mulheres em exercer funções de responsabilidade dentro da maçonaria.
  4. Influência duradoura – Algumas instituições que criou continuaram funcionando por décadas, fortalecendo a inserção das mulheres na vida social e maçônica.

Referências Bibliográficas

DROIT-HUMAIN.IT. Marie Béquet de Vienne. Disponível em: https://www.droit-humain.it Acesso em: 12 set. 2025.

SEGALEN, Dominique. Marie Béquet de Vienne: une vie pour l’enfance. Paris: Bibliothèque des Bibliothèques Spécialisées, 2013.

WIKIPÉDIA. Marie Béquet de Vienne. Disponível em: https://fr.wikipedia.org/wiki/Marie_B%C3%A9quet_de_Vienne. Acesso em: 12 set. 2025.

Sandra Cristina Pedri

15 setembro 2025

Marie-Adelaide Deraismes, quem foi?

Fonte: Imagem criada pelo Meta AI.

Pioneira da Maçonaria Mista

Marie-Adélaïde Deraismes (1828-1894), mais conhecida como Maria Deraismes, nasceu em 17 de agosto de 1828, em Paris, França, em uma família burguesa liberal, com profundas tendências ao livre-pensamento (LE DROIT HUMAIN, [s.d.]). Seus pais foram François Deraismes (pai) e Anne Geneviève Deraismies (mãe). Eles eram pessoas abastadas da elite burguesa liberal, com interesses culturais, filosóficos e intelectuais elevados. Seu pai, François Deraismes, era descrito como alguém "muito dedicado à cultura" e conhecedor profundo de Voltaire, o que indica que tinha meios e educação para atividades intelectuais. Anne (sua mãe) foi dona de casa. Desde jovem, Maria Deraismes recebeu uma educação erudita no ambiente doméstico: aprendeu latim e grego, estudou filósofos iluministas, interessou-se pelas religiões orientais e pelos textos dos filósofos modernos (WIKIPÉDIA, 2023).

Transformando Tradição em Modernidade

Desde seus primeiros anos de atuação intelectual, Deraismes envolveu-se com a causa dos direitos das mulheres, com especial atenção para a igualdade legal, o acesso à educação e a liberdade política (OPENEDITION JOURNALS, 2011).

O evento mais simbólico em sua trajetória de vida ocorreu em 14 de janeiro de 1882 (com 53 anos), quando foi iniciada na Loja Les Libres Penseurs, em Le Pecq, uma pequena localidade próxima a Paris. Essa iniciação a marcou como a primeira mulher a participar oficialmente de uma loja maçônica masculina, rompendo com normas tradicionais da maçonaria daquele tempo (WIKIPÉDIA, 2023; LE DROIT HUMAIN, [s.d.]).

Após essa iniciação, a loja sofreu repercussões: foi suspensa pela Grande Loja Simbólica Escocesa da França, em virtude de regras que não admitiam mulheres. A suspensão, entretanto, durou apenas alguns meses, após os membros da loja omitirem o nome de Deraismes das listas de filiação para reintegração (WIKIPÉDIA, 2023).

Onze anos depois, em 4 de abril de 1893, Maria Deraismes e Georges Martin fundaram em Paris a primeira loja maçônica mista chamada Le Droit Humain (ou Ordem Maçônica Mista Internacional “Le Droit Humain”), na qual homens e mulheres teriam iguais direitos e deveres, algo inovador para seu tempo (WIKIPÉDIA, 2023).

Além de maçônica e feminista, Deraismes consolidou-se como oradora e escritora. Participou da fundação de associações feministas, como L’Association pour le droit des femmes em 1869, além de manter estreito diálogo com o movimento republicano, anticlerical e de livre-pensamento (OPENEDITION JOURNALS, 2011).

Maria Deraismes faleceu em 6 de fevereiro de 1894 (com 66 anos), em Paris, deixando como legado não apenas textos e discursos, mas também instituições e práticas que afirmavam a igualdade de gênero, especialmente no âmbito maçônico e dos direitos civis das mulheres (LE DROIT HUMAIN, [s.d.]).

Sua foto mais divulgada é a que está em preto e branco. No entanto, pedimos ao ChatGPT para criar uma foto da Maria Deraismes mais jovem usando como base essa foto.

Referências Bibliográficas

DERAISMES, Maria. Ève dans l’humanité. Angoulême: Éditions Abeille et Castor, 1868/2008.

LE DROIT HUMAIN Brasil. Biografia: Maria Deraismes. Disponível em: https://www.ledroithumainbrasil.com.br. Acesso em 14 set. 2025.

OPENEDITION JOURNALS. Maria Deraismes (1828-1894). Revue d’histoire du XIXe siècle, 2011. Disponível em: https://journals.openedition.org/rh19/3536. Acesso em 14 set. 2025..

WIKIPÉDIA. Maria Deraismes. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: https://fr.wikipedia.org/wiki/Maria_Deraismes. Acesso em 14 set. 2025.

Sandra Cristina Pedri

13 setembro 2025

Quem foi Elizabeth Aldworth?

Imagem criada pelo Meta AI.

Vida, contexto e tradição da sua iniciação maçônica

Elizabeth St. Leger (mais conhecida como Elizabeth Aldworth ou "Dama Maçônica da Irlanda") nasceu em 1695 em Doneraile, Condado de Cork (Irlanda), e era filha de Arthur St. Leger, Primeiro Visconde Doneraile, e de Elizabeth Hayes. Em 1713 casou-se com Richard Aldworth e viveu a maior parte da sua vida em Doneraile / Newmarket, no Condado de Cork. (WIKIPEDIA, 2025; UNIVERSAL FREEMASONRY, s.d.).

Sua família de origem pertencia à pequena nobreza anglo-irlandesa local. Seu pai era maçom e Doneraile Court (mansão aristocrática que era a residência da família St. Leger) foi um centro de vida social e política, acolhendo a aristocracia e servindo, também, como local para reuniões privadas, incluindo sessões de maçons (UCC, 2021; IRISH HERITAGE TRUST, 2023). Esse quadro social é central para entender como uma jovem poderia vir a observar (e, segundo a tradição, ser iniciada em) ritos que, em regra, eram masculinos e reservados (CONDER, 1895; UCC, 2021).

A narrativa, amplamente divulgada a partir do século XIX e posteriormente consolidada por publicações maçônicas e locais, descreve que, numa noite de inverno, quando ainda estavam em andamento as obras em Doneraile Court, ela notou que alguns tijolos da parede da biblioteca haviam sido mal assentados. Movida pela curiosidade, ouviu vozes e percebeu luzes através das frestas que davam para uma sala contígua. Aproximou-se, retirou alguns tijolos e passou a observar o que ocorria no espaço adjacente. Ao ser descoberta pelo vigia/porteiro da Loja - que, segundo algumas versões, seria também um servo da casa - foi confrontada pelos maçons ali reunidos. Estes, ao reconhecerem tratar-se da filha do Visconde, decidiram iniciá-la ali mesmo nos graus que haviam sido vistos por ela. Há divergências nos relatos a respeito dos graus a ela conferidos. No entanto, a narrativa descreve que, em vez de ser punida por sua indiscreta curiosidade, os maçons a admitiram para preservar os segredos da Ordem, iniciando-a na maçonaria. (CONDER, 1895; DAY, 1914; WIKIPEDIA, 2025).

Incertezas documentais

Não se sabe ao certo a data/ano da iniciação de Elizabeth Aldworth na maçonaria, mas investigações históricas (incluindo o estudo de Edward Conder publicado na revista Ars Quator Coronatorum) apontam que muito provavelmente foi entre os anos 1710 e 1712. O ano mais citado na tradição é 1712 apesar de diversos pesquisadores admitirem que a confirmação documental está ausente. 

Do ponto de vista material e comemorativo, a memória de Elizabeth Aldworth foi preservada por lápides, por um retrato que a representa usando o avental e as joias maçônicas e por menções em períodos e compilações maçônicas dos séculos XIX e XX. Em Cork existe uma placa memorial, junto ao local do seu sepultamento em St. Fin Barre's Cathedral, colocada pelos maçons de Cork, que menciona seu nome, sua filiação e a data de nascimento (1695) e morte (1775). A placa também menciona o nome da loja em que ela foi iniciada em Doneraile Court (Masonry in Lodge n. 44). 

Estudos críticos sobre o caso distinguem três níveis de afirmação: (1) a existência de Elizabeth St. Leger como pessoa histórica (documentada); (2) a circulação de uma tradição - já no século XIX amplamente relatada em periódicos maçônicos - de que ela foi iniciada; e (3) a ausência de registros maçônicos formais no início do século XVIII que confirmem, sem margem de dúvida, o fato tal como contado pelas tradições locais.

Autores do século XIX (como Conder, por exemplo) buscaram reunir provas e confrontar versões, assim como historiadores locais e curadores de arquivos. Na melhor das hipóteses, o episódio é exceção e foi tratado posteriormente como curiosidade e símbolo mais do que como precedente institucional. Mesmo com as incertezas, Elizabeth Aldworth é citada como a primeira mulher "iniciada" na maçonaria regular e a sua história tem sido evocada por estudiosos de gênero, criações literárias e por organizações maçônicas. Resumindo, ela é, sem dúvida, uma personagem histórica real cuja vida e contexto familiar tornam plausível a ocorrência de uma experiência extraordinária ligada à maçonaria. A posição histográfica mais responsável é, portanto, reconhecer o valor memorial e simbólico do episódio, e manter cautela quanto à sua confirmação documental absoluta.

Referências Bibliográficas

CONDER, Edward. The Hon. Miss St. Leger and Freemasonry. Ars Quatuor Coronatorum, vol. VIII, 1895. Reimpressão e transcrição disponível em: Freemasonry.bcy.ca (reprint). Disponível em: https://freemasonry.bcy.ca/aqc/aldworth.html. Acesso em: 12 set. 2025.

DAY, John (ed.). Memoir of the Honble. Elizabeth Aldworth of Newmarket Court, Co. Cork: who was initiated into the Ancient Order of Freemasonry at Doneraile House, Co. Cork. Cork: Guy & Co., 1914. (Obra consultada em digitalização). Disponível em: https://books.google.com/books?id=CBL3q-ypjToC Acesso em: 12 set. 2025.

FREEMASONRY B.C. & YUKON. The Hon. Miss St. Leger and Freemasonry (Edward Conder, 1895). Freemasonry.bcy.ca, [s. l.], [s.d.]. Disponível em: https://www.freemasonry.bcy.ca/aqc/aldworth.html. Acesso em: 12 set. 2025.

IRISH EXAMINER. Finn, Clodagh. Inside the secret world of the first lady Freemason. Cork — Irish Examiner, 22 abr. 2023. Disponível em: https://www.irishexaminer.com/opinion/columnists/arid-41121871.html Acesso em: 12 set. 2025.

MUNSTER PROVINCIAL GRAND LODGE. The Lady Freemason. Munster Freemason, [s. l.], [2023?]. Disponível em: https://www.munsterfreemason.com/history/the-lady-freemason/.https://catalogue.nli.ie/Record/vtls000313394. Acesso em: 12 set. 2025.

NATIONAL LIBRARY OF IRELAND — Catalogue. Memoir of the Honourable Elizabeth Aldworth of Newmarket Court, Co. Cork ... (registro de holdings). Disponível em: https://catalogue.nli.ie/Record/vtls000313394. Acesso em: 12 set. 2025.

PURCELL AUCTIONEERS. Memoir of a Lady Freemason. Purcell Auctioneers, Portlaoise, 2023. Catálogo de leilão. Disponível em: https://www.purcellauctioneers.ie/catalogue/lot/4c3217da4c636fb013c6197b1f403137/81b29ab6fa187a02a829c1899b734425/auction-of-the-library-of-the-late-frank-meehan-portla-lot-269/. Acesso em: 12 set. 2025.

UNIVERSITY COLLEGE CORK — Special Collections. HI6091: Elizabeth Aldworth, The Lady Freemason (online work placement). Cork, 29 jan. 2021. Disponível em: https://theriverside.ucc.ie/2021/01/29/hi6091-elizabeth-aldworth-the-lady-freemason-online-work-placement-2020/. Acesso em: 12 set. 2025.

“The Hon. Miss St. Leger and Freemasonry” (reimpressão). Freemasonry.bcy.ca (reprint of AQC article). Disponível em: https://freemasonry.bcy.ca/aqc/aldworth.html. Acesso em: 12 set. 2025. (Nota: essa fonte reproduz o artigo clássico de Conder e é amplamente citada em estudos maçônicos.)

WIKIPEDIA. Elizabeth Aldworth. Última edição consultada em 2025. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Elizabeth_Aldworth. Acesso em: 12 set. 2025.

Sandra Cristina Pedri

11 setembro 2025

História das Mulheres na Maçonaria

Transformando Tradição em Modernidade

Fonte: Meta AI
Fonte: Imagem criada por Meta AI.

A Maçonaria é uma das instituições mais antigas e respeitadas da história. Não se tem uma data específica que determine seu surgimento e os dados colhidos são contraditórios, pouco claros e não conclusivos. Não há, portanto, uma fonte segura de quando teve início, por exemplo, o Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA). Alguns pesquisadores afirmam que sua origem foi na Inglaterra ou na Escócia e outros apresentam fatos e documentos que atestam sua existência bem anterior na França.

Sabe-se, porém, que no período medieval, com a ascensão das Guildas de Pedreiros e Construtores na Alemanha, Escócia e Inglaterra, os maçons começaram a se estruturar em irmandades e, em 1717, foi criada a Grande Loja de Londres, que admitia apenas homens. É preciso lembrar que, naquela época, as mulheres eram consideradas dependentes dos homens e, em sua maioria, analfabetas, o que dificultava sua participação e admissão, e a Ordem Maçônica passou a ser tradicionalmente associada ao universo masculino.

A Maçonaria tem vivenciado, ao longo do tempo, a inserção feminina em sua história. Esse movimento reflete não apenas uma mudança interna, mas também a evolução da sociedade em direção à igualdade e ao reconhecimento do papel da mulher. Sendo assim, compreender a presença feminina na Maçonaria é reconhecer a importância de vozes que, pela coragem e sabedoria, ajudaram a transformar tradição em modernidade.

A participação feminina na história da Maçonaria

A trajetória das mulheres na Maçonaria não foi linear, mas marcada por marcos simbólicos que abriram portas para novas gerações. Entre as pioneiras, duas figuras se destacam: Elizabeth Aldworth e Maria Deraismes.

Elizabeth Aldworth (1693-1775) era conhecida como "Dama Maçônica da Irlanda" e considerada a primeira mulher a ser iniciada na Maçonaria no século XVIII. Filha de um nobre irlandês e maçom ativo, ela acabou tendo contato direto com rituais maçônicos, circunstância que levou à sua aceitação na Ordem.

Como afirma Stevenson (2008, p. 87), "a presença de Elizabeth Aldworth na Maçonaria demonstra que, ainda em um contexto patriarcal, havia espaço para reconhecer a relevância das mulheres na preservação e transmissão de valores iniciáticos". Sua trajetória, ainda que uma exceção em seu tempo, mostra que a tradição maçônica não esteve completamente fechada à participação feminina.

Maria Deraismes (1828-1894) era francesa e, mais de um século depois de Elizabeth, tornou-se um dos nomes mais importantes da luta pela inclusão feminina na Maçonaria. Jornalista, intelectual e defensora dos direitos das mulheres, ela foi iniciada em 1882, em Paris, tornando-se a primeira mulher a ingressar 'formalmente' em uma Loja simbólica.

Segundo Pike (2019, p. 44), "a iniciação de Maria Deraismes representou não apenas um feito individual, como também uma ruptura nas estruturas maçônicas tradicionais". Foi aí que surgiu o Rito da Maçonaria Mista, também conhecido como Le Droit Humain, que institucionalizou a presença de homens e mulheres em Lojas conjuntas.

Atualmente, a Maçonaria possui lojas exclusivamente masculinas (a grande maioria), mistas e exclusivamente femininas. As duas últimas (mistas e femininas) têm se fortalecido em diversos países, inclusive no Brasil, com fraternidades, associações e Lojas compostas por mulheres que participam ativamente de ações sociais, culturais e educativas. Dessa forma, elas reforçam o compromisso da Ordem com o desenvolvimento humano e a fraternidade universal. A representatividade feminina contribui para que os ideais maçônicos de liberdade, igualdade e fraternidade se concretizem de forma mais inclusiva.

Como vimos, Elizabeth Aldworth e Maria Deraismes viveram em épocas distintas mas sua atuação foi decisiva para a participação da mulher na Maçonaria que, como toda instituição viva, continua a evoluir de modo a permitir que tradição e modernidade caminhem lado a lado em benefício da humanidade.

Referências Bibliográficas

PIKE, William. Women and Freemasonry in Europe: Historical Perspectives. London: Routledge, 2019.

STEVENSON, David. The Origins of Freemasonry: Scotland's Century, 1590–1710. Cambridge: Cambridge University Press, 2005.

VÁZQUEZ, María Eugenia. Maria Deraismes y la Masonería Mixta: Historia de una Iniciación. Madrid: Editorial Complutense, 2016.

Sandra Cristina Pedri



10 setembro 2025

Fênix Nut na COMAM 2025

A COMAM 2025 - Conferência Maçônica Americana - foi fundada em Santiago do Chile em 24 de maio de 2025. Seu objetivo é unir Obediências Maçônicas que tenham como princípio o trabalho de desenvolvimento da perfeição individual com absoluta liberdade de consciência.

Com a finalidade de fortalecer a cadeia de união e os laços fraternos entre as Obediências Membros, é premissa básica, desde sua formação, o trabalho contínuo para unir o que está disperso em uma cadeia de amor e fraternidade.

Esta Conferência é realizada anualmente e, em 2025, a sede será no Brasil, tendo o G.'.O.'.M.'.P.'. (Grande Oriente Maçônico Pan-Americano) como organizador. As irmãs da Fênix Nut estarão presentes.

O evento acontecerá entre os dias 23 e 26 de outubro no Hotel Pestana, localizado na Rua Tutoia, 77 - Jardim Paulista, São Paulo-SP. Por estar localizado a poucos metros da Avenida Paulista e muito próximo do Parque Ibirapuera, os participantes do evento estarão rodeados por ruas arborizadas e excelentes opções de gastronomia, lazer e negócios.

O tema da COMAM 2025 é: Estratégias que permitam afiançar o trabalho da COMAM na América

Para saber mais a respeito do evento e fazer sua inscrição acesse: https://www.gomp/org.br/comam

08 setembro 2025

O Sigilo Maçônico

Com base nos fundamentos, princípios e aplicações do Sigilo Maçônico, explicado a seguir, o Blog da Fênix Nut não terá em suas páginas pranchas e outros textos que venham a infringir o 23o Landmark. 

Fundamentos, Princípios e Aplicações

Imagem criada pelo ChatGPT.
O sigilo maçônico é um dos pilares fundamentais da Maçonaria, sendo compreendido como a confidencialidade dos ensinamentos, rituais e conhecimentos específicos da Ordem. Este sigilo é transmitido aos iniciados por meio de juramentos solenes e representa não apenas uma prática tradicional, mas também um valor ético e filosófico que sustenta a identidade da Fraternidade.

O que inclui o sigilo maçônico? Segundo Aveline e Oliveira (s.d.), o sigilo maçônico abrange:

  • Rituais e Ensinamentos: transmitidos exclusivamente aos iniciados, os rituais e lições filosóficas são protegidos por juramentos e não devem ser divulgados aos profanos.
  • Sinais e Palavras de Reconhecimento: métodos de identificação entre maçons, como apertos de mão e palavras específicas, são mantidos em segredo.
  • Confidências Privadas: os maçons devem guardar com discrição as informações pessoais compartilhadas entre irmãos, reforçando a confiança mútua.
Por que a Maçonaria mantém o sigilo? A prática do sigilo tem múltiplas funções dentro da Ordem:
  • Proteção da Identidade e Tradição: o sigilo preserva os aspectos esotéricos da Maçonaria, evitando interpretações equivocadas por parte dos não iniciados (AVELINE; OLIVEIRA, s.d.).
  • Promoção da Discrição e Disciplina: a circunspecção é considerada uma virtude essencial para o progresso espiritual do maçom.
  • Fortalecimento da Fraternidade: o compromisso com o segredo reforça os laços entre os membros, criando um ambiente de confiança e respeito. 
  • Valorização dos Ensinamentos: os mistérios maçônicos são tratados como tesouros espirituais, cuja compreensão exige preparo e iniciação adequada.
  •  Caráter Filosófico e Moral: o sigilo favorece a introspecção e o autoconhecimento, elementos centrais da jornada iniciática.

O 23º Landmark e o sigilo - De acordo com Mackey (apud ARLS Pentalpha, 2012), o 23º Landmark da Maçonaria estabelece que os conhecimentos adquiridos pela iniciação — incluindo métodos de trabalho, lendas e tradições — devem ser mantidos em segredo e comunicados apenas a outros irmãos. Este princípio é considerado essencial para a integridade da Ordem.

O sigilo como símbolo e ética - A simbologia maçônica, como o compasso e o esquadro, representa valores éticos e morais que orientam o comportamento do maçom. O sigilo, nesse contexto, não é apenas uma prática, mas um símbolo de respeito à tradição e à profundidade dos ensinamentos (SOUZA, 2025).

Sigilo e Fraternidade: uma reflexão prática - Embora o sigilo seja indispensável, sua aplicação deve ser feita com discernimento. A exclusão de irmãs iniciadas e integrantes do grau em que determinadas informações foram transmitidas, como decisões tomadas em sessões das quais se ausentaram por motivos justos, contraria os princípios de fraternidade e solidariedade. O balaústre, por exemplo, existe justamente para registrar e compartilhar os acontecimentos da Loja, garantindo a continuidade dos trabalhos (AVELINE; OLIVEIRA, s.d.).

Referência bíblica ao sigilo - A prática do sigilo encontra respaldo até mesmo em ensinamentos cristãos. Em Mateus 17:9, Jesus instrui seus discípulos a manterem em segredo a visão da transfiguração até que o Filho do Homem ressuscitasse. Essa passagem ilustra que o sigilo pode ser uma ferramenta de proteção espiritual e de respeito ao tempo certo para revelações (BÍBLIA, 2014).

Referências Bibliográficas

AVELINE, Arthur; OLIVEIRA, Jaime Balbino de. O sigilo maçônico. Disponível em: 
https://www.cavaleirosdaluz18.com.br/trabalhos/O%20Sigilo%20Maconico.pdf. Acesso em: 05 set. 2025.

BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada: Novo Testamento. Tradução de Padre Fábio Meira. Santa Catarina: Inove, 2014.

MACKAY, Albert G. Os Landmarks - compilados por Albert G. Mackey. ARLS Pentalpha nº 2239. Disponível em: https://arlspentalpha.webnode.com.br/news/os-landmarks-/. Acesso em: 05 set. 2025.

SOUZA, Renato Ângelo Ribeiro de. O sigilo maçônico: entendendo os mistérios e juramentos. Prezi. Disponível em: https://prezi.com/p/rnj5uxdcyc5t/o-sigilo-maconico-entendendo-os-misterios-e-juramentos/. Acesso em: 05 set. 2025. 

Sandra Cristina Pedri

Sociedade Teosófica - Saiba Mais

Desvende a Sabedoria da Teosofia Blavatsky e Olcott . Copilot. Você já parou para refletir sobre as grandes questões da existência? Quem som...