28 outubro 2025

Helena Petrovna Blavatsky

Legado para a Maçonaria

Helena Blavatsky. Copilot.

Helena Petrovna Blavatsky nasceu em 12 de agosto de 1831, em Ekaterinoslav, no Império Russo (atualmente Dnipro, Ucrânia). Era filha do coronel Pytor Alekseyevich Gan, nobre russo de origem alemã, e de Elene Andreyevna Fadeyeva, escritora conhecida pelo pseudônimo Zeneida R-va. Após a morte da mãe, em 6 de julho de 1842, na cidade de Odessa, então parte do Império Russo, Helena foi criada pelos avós maternos em Saratov, cidade localizada na Rússia Europeia, às margens do rio Volta. Ali teve acesso à rica biblioteca aristocrática de seu bisavô, o príncipe Pavel Dolgorukov, iniciado na Maçonaria no século XVIII, o que influenciou profundamente sua formação esotérica.

Recebeu edcuação informal por meio de governantas, aprendendo piano, dança e línguas. Autodidata, desde jovem dedicou-se ao estudo do ocultismo, alquimia e magia, lendo autores como Parecelso, Agrippa e Khunrath. A influência intelectual de sua avó, Helena Pavlovna Dolgorukova, botânica e poliglota, também foi determinante para sua formação.

Casou-se aos 17 anos com Nikifor Vassilievich Blavatsky, vice-governador da província de Erevan. O casamento não foi consumado, e ela fugiu durante a lua de mel. Posteriormente, teve uma união com Michael Betanelly, mas não há registros de filhos.

A partir de 1849, iniciou uma série de viagens que a levaram ao Egito, Índia, Tibete, Europa e Estados Unidos. Em 1875, fundou com Henry Steel Olcott a Sociedade Teosófica, em Nova York. Publicou obras influentes como Isis Sem Véu (1877) e A Doutrina Secreta (1888) que se tornaram pilares do esoterismo moderno.

Annie Besant, iniciada na Maçonaria Mista Le Droit Humain foi sua discípula e sucessora na Sociedade Teosófica. Embora Helena não tenha sido iniciada em nenhuma Loja Maçônica regular — seja masculina, feminina ou mista — foi reconhecida por John Yarker, maçom britânico envolvido com ritos esotéricos, como detentora honorífica de graus simbólicos do Rito de Adoção, sistema ritualístico utilizado por Lojas Femininas na França desde o século XVIII. Entre os títulos que lhe foram atribuídos estão: Mestra Perfeita; Cavaleira da Rosa-Cruz; e Princesa Coroada do Rito de Adoção. Esse reconhecimento era mais simbólico do que funcional, representando respeito por sua contribuição ao pensamento esotérico e à integração de tradições iniciáticas.

Esse reconhecimento não decorreu de iniciação formal em Loja, mas sim de sua atuação nos círculos ocultistas e do profundo conhecimento que demonstrava sobre os rituais e simbolismos maçônicos. Blavatsky estudou obras de maçons como Jean-Marie Ragon, teve contato direto com maçons europeus e orientais, e influenciou discípulos como Charles Leadbeater e Annie Besant — esta última iniciada na Maçonaria Mista Le Droit Humain e sua sucessora na Sociedade Teosófica.

O legado de Blavatsky para as mulheres está na forma como articulou a ideia de uma fraternidade universal, a valorização dos mistérios antigos e a busca pela sabedoria divina — pilares que dialogam diretamente com os ideais Maçônicos. Defendeu o pensamento independente, a libertação das mulheres do dogmatismo religioso e abriu espaço para a atuação feminina em ambientes intelectuais e espirituais. Embora não tenha sido maçom no sentido institucional, foi uma ponte entre o esoterismo oriental e o simbolismo ocidental, inspirando muitos maçons a aprofundarem o aspecto espiritual da Ordem.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

CRANSTON, Sylvia. Helena Blavatsky: a vida e a influência extraordinária da fundadora do movimento teosófico moderno. Brasília: Editora Teosófica, 1992.

EMILIÃO, Sergio. Madame Blavatsky e a Maçonaria. Disponível em: https://masonic.com.br/videos/blavatsky.pdf. Acesso em: 28 out. 2025.

INSTITUTO DE PESQUISAS PROJECIOLÓGICAS E BIOENERGÉTICAS – IPPB. Blavatsky e a Sociedade Teosófica. Disponível em: https://www.ippb.org.br/textos/especiais/mythos-editora/blavatsky-e-a-sociedade-teosofica. Acesso em: 28 out. 2025.

CÍRCULO DE ESTUDOS MAÇÔNICOS DO BRASIL. Helena Blavatsky e a Maçonaria. Disponível em: https://estudosmaconicos.com.br/helena-blavatsky-maconaria/. Acesso em: 28 out. 2025.

WIKIPÉDIA. Helena Blavatsky. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Helena_Blavatsky. Acesso em: 28 out. 2025.

27 outubro 2025

Josefina de Beauharnais e Marie-Henriette Heiniken no Século da Revolução

Duas Mulheres, Dois Caminhos

Josefina e Henriette. Meta AI.

Entre a corte imperial e os campos de batalha, Josefina de Beauharnais e Marie-Henriette desafiaram os limites impostos às mulheres de seu tempo, atuando na maçonaria e inspirando gerações com coragem, inteligência e protagonismo.

No final do século XVIII e início do século XIX, duas mulheres viveram intensamente os acontecimentos que marcaram a Revolução Francesa e o Império Napoleônico: Josefina de Beauharnais, Imperatriz da França, e Marie-Henriette Heiniken, militar e figura ligada à Maçonaria. Embora tenham seguido caminhos distintos, ambas se tornaram símbolos de força e inspiração para mulheres até os dias de hoje.

Josefina, nascida na Martinica em 1763, enfrentou a turbulência da Revolução Francesa, incluindo a perda de seu primeiro marido na guilhotina. Casou-se com Napoleão Bonaparte em 1796 e, em 1804, foi coroada Imperatriz da França. Com elegância e inteligência, Josefina exerceu grande influência na corte, sendo referência em moda, cltura e diplomacia informal. Além disso, ela teve papel ativo na Maçonaria Feminina da época, sendo Grã-Mestre de duas Lojas de Adoção, estrutura maçônica voltada às mulheres, que funcionava sob tutela das lojas masculinas (ISMAIL, 2024). Mesmo após o fim de seu casamento com Napoleão, por não ter gerado herdeiros, Josefina manteve prestígio e respeito, sendo lembrada como uma mulher refinada e estrategista.

Por outro lado, Marie-Henriette Heiniken, também conhecida como Madame de Xaintrailles, viveu uma realidade marcada pela ação direta. Disfarçada de homem, serviu como ajudante de campo do homem que amava, o general Charles Antoine Xaintrailles, durante as Guerras Revolucionárias e Napoleônicas. Participou de combates, incluindo a batalha de Aboukir, em 1799, onde sofreu uma queda de cavalo que a feriu gravemente. Heiniken também esteve ligada à maçonaria: inicialmente seria iniciada em uma Loja de Adoção, mas acabou sendo iniciada na maçonaria regular masculina, recebendo o grau de Aprendiz — um feito extraordinário para uma mulher naquela época. Segundo o Bullock Texas State History Museum, sua iniciação foi motivada pela bravura demonstrada em combate, o que levou os irmãos maçons a reconhecerem seu valor e a admitirem na loja masculina.

Ambas viveram em um mundo em transformação, marcado por revoluções, guerras e mudanças sociais profundas. Josefina, com sua presença na corte e liderança nas Lojas de Adoção, e Heiniken, com sua bravura no campo de batalha e sua iniciação na maçonaria regular, mostraram que as mulheres podiam ocupar espaços de destaque, mesmo em tempos de grande adversidade. Hoje, suas histórias continuam a inspirar mulheres que lutam por reconhecimento, igualdade e protagonismo em diferentes áreas da sociedade.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

ISMAIL, Kennyo. A Maçonaria Feminina. No Esquadro, 20 maio 2024. Disponível em: https://noesquadro.com.br/a-maconaria-feminina/. Acesso em: 20 out. 2025.

BULLOCK TEXAS STATE HISTORY MUSEUM. Portrait of Marie-Henriette Heiniken. American Folk Art Museum, ca. 1800. Disponível em: https://www.thestoryoftexas.com/discover/artifacts/portrait-marie-henriette-heiniken. Acesso em: 20 out. 2025.

26 outubro 2025

Josefina de Beauharnais - Imperatriz

Elegância e Poder no Império Napoleônico

Josefina de Beauharnais. Meta AI
A Imperatriz Josefina de Beauharnais (Marie Josèphe Rose Tascher de La Pagerie), esposa de Napoleão Bonaparte, é uma figura central na história da maçonaria feminina. Sua atuação como Grã-Mestra das Lojas de Adoção no início do século XIX representa um marco na luta pela inclusão das mulheres em espaços iniciáticos e filosóficos.

Josefina nasceu em 23 de junho de 1763, em Les Trois-Îlets, na Martinica, então colônia francesa. Filha de Joseph Gaspard Tascher de La Pagerie e Rose Claire des Verges de Sannois, foi educada de forma doméstica, como era comum entre as elites coloniais (WIKIPEDIA, 2025).

Em 1779, com 16 anos de idade, casou-se com Alexandre de Beauharnais (1760-1794), com quem teve dois filhos: Eugênio (1781-1824) e Hortênsia (1783-1837). Alexandre foi guilhotinado em 1794 durante o Terror da Revolução Francesa, e Josefina (com 31 anos de idade) foi presa, sendo libertada após a queda de Robespierre (WIKIPEDIA, 2025).

Segundo a Grande Loja Simbólica da Lusitânia (2018), Josefina foi iniciada na Maçonaria em 1790, na cidade de Estrasburgo, tornando-se membro ativo das Lojas de Adoção Fidélité e Sainte Sophie, consideradas paramaçônicas. Essa iniciação ocorreu enquanto seu marido, Alexandre de Beauharnais, servia no exército do Reno, do qual se tornaria comandante-chefe em 1793. Curiosamente, a combatente Marie-Henriette Heiniken também atuou nesse exército como ajudante de campo do general Charles Antonie Dominique Lauthier-Xaintrailles, seu companheiro, entre 1792 e 1793.

Em 1796, casou-se com Napoleão Bonaparte, tornando-se Imperatriz dos Franceses em 1804. O casamento foi anulado em 1810 por não gerar herdeiros, mas Josefina manteve boa relação com Napoleão até sua morte em 1814 com 51 anos de idade.

Posteriormente, entre 1804 e 1805, Josefina atuou como Grã-Mestra das Lojas de Adoção Regular da França, promovendo a criação de lojas femininas paralelas às masculinas, com o objetivo de incluir mais mulheres na maçonaria. Embora o papel dela seja central para as tradições maçônicas femininas, alguns historiadores acadêmicos debatem se sua liderança foi de fato ativa ou predominantemente honorária e de prestígio social.

Segundo Santos (2011), as Lojas de Adoção eram tuteladas por lojas masculinas e tinham funções limitadas, muitas vezes restritas a bailes e festividades. Tinham, também, ritos próprios, adaptados da tradição maçônica, com graus, símbolos e alegorias morais. Sob a liderança de Josefina, essas lojas ganharam legitimidade e visibilidade, representando um avanço na emancipação feminina dentro da maçonaria.

Josefina é considerada uma precursora da maçonaria feminina moderna, tendo inspirado movimentos posteriores como o Le Droit Humain, fundado por Marie Deraismes em 1893. Sua atuação como Grã-Mestra simboliza a possibilidade de liderança feminina em espaços tradicionalmente masculinos (HIVERT-MESSECA, 2015).

Josefina também teve papel na definição do gosto artístico e decorativo da França pós-revolucionária. Como Imperatriz, ela contribuiu para estabelecer o chamado estilo Consulado e Império, caracterizado pela inspiração na arte e arquitetura da Antiguidade clássica, com elementos como colunas, esfinges, águas e liras. Esse estilo se manifestava tanto na decoração de interiores quanto na moda, com móveis de linhas retas e tecidos nobres, além de vestidos de corte império que se tornaram símbolo de elegância feminina. O Castelo de Malmaison, residência pessoal de Josefina, tornou-se referência estética e cultural, influenciando palácios e residências aristocráticas em toda a Europa. Sua sensibilidade artística e refinamento ajudaram a consolidar uma estética que refletia o poder, a ordem e a sofisticação do novo regime napoleônico.

Além disso, sua trajetória de vida — de viúva empobrecida à Imperatriz — reflete resiliência, inteligência social e influência política, tornando-a modelo de elegância, diplomacia e poder feminino em tempos de revolução e império. 

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

GRANDE LOJA SIMBÓLICA DA LUSITÂNIA. Josefina de Beauharnais e a Maçonaria de Adoção. Facebook, 29 ago. 2018. Disponível em: https://www.facebook.com/grandelojasimbolicalusitania/posts/httpsgrandelojasimbolicalusitaniapt/1829749607079202. Acesso em: 19 out. 2025. [facebook.com]

HIVERT-MESSECA, Gisèle; HIVERT-MESSECA, Yves. Femmes et Franc-maçonnerie: Trois siècles de franc-maçonnerie féminine et mixte en France (de 1740 à nos jours). 2. ed. Paris: Éditions Dervy, 2015.

SANTOS, Fernanda Cristina. A mulher na história da maçonaria portuguesa: opressão e liberdade no contexto maçónico. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2011. Disponível em: https://archive.org/download/a-mulher-na-historia-da-maconaria-portuguesa. Acesso em: 19 out. 2025.

WIKIPÉDIA. Josefina de Beauharnais. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Josefina_de_Beauharnais. Acesso em: 19 out. 2025.

23 outubro 2025

Marie-Louise de Monspey

Marie-Louise de Monspey. Meta AI.

Mística, Visionária e Pioneira na Maçonaria Esotérica Francesa

A história da presença feminina na maçonaria começa com episódios marcantes de coragem e ruptura. Elizabeth Aldworth, iniciada por volta de 1712 na Irlanda, é considerada a primeira mulher aceita em uma loja maçônica, apesar de sua entrada ser considerada acidental. Poucas décadas depois, na França, surge Marie-Louise de Monspey, uma mulher que, embora não tenha sido iniciada formalmente em uma loja maçônica como Aldworth, exerceu uma influência profunda e estruturante na maçonaria esotérica como veremos a seguir.

Marie-Louise de Monspey, também conhecida como Églée de Vallière ou Madame de Vallière, foi uma figura marcante da nobreza francesa e uma das mulheres mais enigmáticas e influentes do misticismo europeu no século XVIII. Nascida em 1 de outubro de 1731, na cidade de Saint-Georges-de-Reneins, ela viveu até os 82 anos, falecendo em sua cidade natal em 16 de maio de 1814.

Filha de Joseph-Henri de Monspey, marquês de Monspey e conde de Vallière, e de Marie-Anne-Livie de Pontevès d'Agoult, descendente da tradicional nobreza provençal, Marie-Louise herdou não apenas títulos, mas também uma profunda ligação com o universo espiritual e esotérico. Recebeu o títlo de Condessa de Vallière e tornou-se chanoinesse (canonesa) da abadia de Remiremont, uma prestigiada instituição religiosa que reunia mulheres nobres dedicadas à vida espiritual, mas sem o rigor monástico das ordens tradicionais — o que favorecia o desenvolvimento de estudos místicos e esotéricos.

Ficou conhecida como o "Agente Desconhecido", pseudônimo sob o qual produziu uma vasta obra mística inspirada por visões da Virgem Maria. Ao longo da vida, escreveu mais de cem cadernos com reflexões espirituais, interpretações esotéricas e ensinamentos sobre temas como magnetismo animal, anatomia simbólica e purificação da alma. Segundo Bergé (2009) ela relata em seus manuscritos: "Onde aprendi a escrever? No silêncio de uma reclusão, abatida por uma longa enfermidade, considerando apenas uma decadência iminente. Invoquei meu anjo guardião, e a bateria respondeu. Eis o começo."

Seu trabalho teve papel fundamental na maçonaria esotérica francesa, especialmente no desenvolvimento dos altos graus do Rito Escocês Retificado, ao lado de Jean-Baptiste Willermoz. Esse rito, criado em 1778, combina simbolismo maçônico, ideais templários e espiritualidade cristã, com o objetivo de promover a reintegração moral e espiritual do homem por meio da introspecção, da caridade e da prática das virtudes. Os textos de Marie-Louise foram estudados por maçons de graus superiores, que viam em suas palavras uma ponte entre o simbolismo maçônico e a espiritualidade cristã esotérica.

Em 1785, segundo Bergé (2009), seus cadernos foram entregues a Willermoz por seu irmão Alexandre de Monspey, contendo escritos que ele descreveu como: "milagrosas missivas vindas do Céu, ditadas por espíritos puros." 

Em uma época em que o misticismo feminino era frequentemente marginalizado, Marie-Louise de Monspey conseguiu deixar uma marca profunda e duradoura. Sua obra continua a ser estudada por iniciados e pesquisadores da espiritualidade oculta, revelando uma mulher que soube unir nobreza, fé, sabedoria e coragem em uma trajetória singular. Ela conseguiu deixar uma marca profunda na espiritualidade e na maçonaria esotérica francesa.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

BERGÉ, Christine. Le corps et la plume. Écritures mystiques de l’Agent inconnu. Revue d’histoire du XIXe siècle, n. 38, 2009. Disponível em: https://journals.openedition.org/rh19/3867. Acesso em: 22 out. 2025.

BERGÉ, Christine. Identification d'une femme. Les écritures de l'Agent inconnu et la franc-maçonnerie ésotérique au XVIIIe siècle. In: L’Homme, 1997.

JOLY, Alice. Willermoz et l’Agent Inconnu. Paris: La Tour Saint Jacques, 1962.

21 outubro 2025

O que É, de Fato, Participar de uma Loja Maçônica?

Comprometimento, Contribuição e Presença Significativa 

Irmã maçom. Meta AI.
A Maçonaria, em sua essência, é uma escola de valores. Justiça, fraternidade, liberdade e igualdade não são apenas palavras inscritas em nossos rituais — são princípios que devem guiar cada decisão, cada gesto, cada votação. Esses valores formam o cerne da filosofia maçônica e moldam sua abordagem em relação à vida e à sociedade (MAÇONARIA DO PARANÁ, 2024).

E é justamente nesse ponto que precisamos refletir: o que significa, de fato, participar de uma Loja Maçônica?

Uma irmã atuante não é somente aquela que atingiu o percentual mínimo de presença física em Loja. A norma dos 50% mínimos de presença existe, é verdade. Mas a justiça maçônica vai além da letra da lei — ela exige discernimento, sensibilidade e equidade.

A irmã que cumpre suas obrigações administrativas em qualquer um dos cargos, embora nem sempre fisicamente presente, é constante, efetiva e essencial para o funcionamento da Loja.

A Maçonaria nos ensina que a verdadeira presença não se mede apenas pela cadeira ocupada em sessão, mas pela dedicação, pelo comprometimento e pelo cuidado com a egrégora. Ignorar isso é reduzir a participação a um número, a uma estatística — e isso não condiz com os valores que juramos defender. Por isso, alguns cargos administrativos (Grandes Secretariados entre outros) ficam fora dessa regra. 

Levanta-se aqui uma questão ética: é justo aplicar uma regra sem considerar o contexto e o impacto emocional sobre as irmãs? A resposta, para quem compreende a Maçonaria como espaço de construção coletiva, é clara: NÃO.

Victor Hugo, em Os Miseráveis, nos lembra que "a lei pode ser justa, mas a justiça vai além da lei" — uma reflexão que transcende o legalismo e nos convida à empatia e à equidade (HUGO, 182 apud CHAVES, 2017).

E é esse "além" que precisa ser cultivado dentro das Lojas. A pressão sobre quem se ausenta por motivos legítimos (doença — própria ou de um familiar próximo — um curso, problemas familiares complicados e até financeiros etc.) não fortalece a egrégora — sufoca. E quando atitudes excludentes se acumulam, o afastamento emocional é inevitável, mesmo que a presença física continue.

Irmãs em Loja. Copilot.

Participar de uma Loja Maçônica é contribuir com o coração, com o tempo (dentro ou fora da Loja), com os talentos e com a alma. É estar presente nos bastidores, nos cuidados invisíveis, nas palavras de apoio e nas ações concretas. É ser vista, reconhecida e valorizada por tudo o que se faz — e não por quantas sessões se frequentou.

Contudo, é preciso também refletir sobre outro ponto sensível: há irmãs que estão sempre presentes em Loja, mas não contribuem com nada além da presença física. Não ajudam na montagem do templo, na organização ao final dos trabalhos, tampouco entregam os estudos ou tarefas solicitadas. Isso não é participação plena — é presença vazia.

A Maçonaria exige envolvimento. Mesmo as Mestres, que já entregaram trabalhos em etapas anteriores, devem continuar contribuindo, revisando, ampliando ou até refazendo seus estudos. Isso não apenas fortalece o crescimento coletivo, como também permite que cada irmã perceba sua própria evolução na compreensão dos temas abordados.

Participar é estar em movimento. É contribuir com o crescimento de todas ali presentes, mesmo que não se ocupe um cargo que exija tarefas extra Loja. A verdadeira participação é ativa, generosa e comprometida com o propósito maior da Ordem.

É preciso incluir, acolher e ampliar. Que a Maçonaria Feminina continue sendo um espaço de justiça viva, onde cada irmã é vista em sua totalidade — por sua entrega, por sua presença significativa, por sua contribuição real — e não apenas por sua frequência.

Conheça os valores da Fênix Nut acessando o nosso site (www.fenixnut.com.br) na página SOBRE NÓS.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

CHAVES, Rosângela. “Os Miseráveis”, a lei e a justiça. Ermira Cultura, 2017. Disponível em: https://ermiracultura.com.br/2017/12/20/os-miseraveis-a-lei-e-a-justica. Acesso em: 21 out. 2025.

HUGO, Victor. Os Miseráveis. Tradução de Isabel Vieira. São Paulo: Martin Claret, 2021.

MAÇONARIA DO PARANÁ. Princípios Fundamentais da Maçonaria: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. 2024. Disponível em: https://maconariadoparana.org.br/noticia/principios-fundamentais-da-maconaria-liberdade-igualdade-e-fraternidade. Acesso em: 21 out. 2025.

19 outubro 2025

Estudar é um Ato Maçônico

A Fênix Nut Incentiva a Formação Acadêmica das Irmãs

Na Maçonaria — especialmente na feminina — o combate à ignorância é uma das premissas fundamentais. A busca pelo conhecimento não é apenas uma recomendação: é um dever maçônico.

O estudo e a maçonaria. Meta AI.

Estudar, refletir, questionar e evoluir são atitudes que fortalecem o espírito, ampliam a consciência e preparam cada irmã para exercer sua liderança com sabedoria, empatia e justiça.

Por isso, a Fênix Nut incentiva fortemente que suas integrantes busquem formação contínua — seja por meio de cursos de pós-graduação, mestrado, doutorado ou outras especializações, dentro ou fora de suas áreas de atuação. A educação formal é uma ferramenta poderosa para transformar realidades, desconstruir preconceitos, superar intolerâncias e combater os fanatismos que ainda persistem em nossa sociedade.

Cada diploma conquistado por uma irmã representa não apenas um avanço pessoal, mas também um fortalecimento coletivo. Mulheres instruídas ocupam espaços de decisão, constroem pontes entre saberes, e tornam-se referências dentro e fora da Ordem. Elas inspiram outras mulheres, elevam o nível dos debates, dos temas estudados e contribuem para que a Maçonaria Feminina seja reconhecida como um espaço de excelência intelectual e ética.

Além disso, o estudo é um caminho para o autoconhecimento — outro pilar essencial da jornada maçônica. Ao mergulhar em novas áreas, ao enfrentar desafios acadêmicos, ao dialogar com diferentes correntes de pensamento, a irmã se transforma. E essa transformação reverbera na Loja, na comunidade e no mundo. Por isso, não faz sentido ouvir comentários como:

— Por que estudar tanto?
— Para que tantos cursos?
— Você está faltando na Loja por causa de um curso? — como se isso fosse algo imperdoável.

Essas falas revelam uma incompreensão dos princípios que sustentam a Maçonaria. Estudar é um ato de construção interna e externa. É uma forma de lapidar a pedra bruta e contribuir com mais luz para a Oficina. A ausência ocasional ou temporária de uma irmã por causa de um curso é, na verdade, uma presença futura mais forte, mais preparada e mais consciente. 

Devemos acreditar que o verdadeiro poder está no saber. E que o saber, quando compartilhado com generosidade e propósito, é capaz de iluminar caminhos, romper barreiras e construir um futuro mais justo e fraterno.

Finalizamos este texto com a afirmação de Albert Pike: "o verdadeiro maçom constrói pontes, não muros. A ignorância é a prisão, o conhecimento é a chave".

Sandra Cristina Pedri

18 outubro 2025

Marie-Henriette Heiniken

A Combatente Esquecida da Revolução Francesa

Marie-Henriette. Meta AI.

Marie-Henriette Heiniken nasceu em BerlimPrússia, no século XVIII em data desconhecida. Não há registros disponíveis sobre os nomes de seus pais. Apaixonou-se pelo general Charles Antoine Dominique Lauthier-Xaintrailles com quem manteve uma relação amorosa. Segundo o artigo de Guida (2018), apesar de ter adotado o nome “Madame de Xaintrailles” como sinal de esperança de casamento, a união nunca se concretizou. O casal não teve filhos.

Para acompanhar o general Xaintrailles, Marie-Henriette disfarçou-se de homem e serviu nas Guerras Revolucionárias Francesas como sua ajudante de campo. Demonstrou coragem e habilidade militar em diversas batalhas, destacando-se na recuperação de um parque de artilharia dos prussianos, no salvamento de batalhões franceses em situações críticas e na travessia a nado de um rio para levar informações ao quartel-general, salvando Armée du Rhin (CRUYPLANTS; AERTS, 1912)

Foi afastada do exército por volta de 1793, durante uma purga (exclusão) de elementos femininos das forças armadas francesas. Essa exclusão das mulheres refletia a tentativa de reafirmar normas patriarcais em meio à instabilidade política e social da época.

Em 1795, Marie-Henriette Heiniken retornou ao serviço militar, possivelmente com o apoio de Lazare Carnot, figura influente no governo revolucionário. Sua reintegração pode ter sido motivada por sua comprovada competência militar e pela necessidade de quadros experientes em meio às guerras revolucionárias.

Lazare Nicolas Marguerite Carnot (1753-1823), conhecido como o "Organizador da Vitória", foi engenheiro militar, matemático e político, membro do Comitê de Salvação Pública, criador da levée en masse, diretor do Diretório (1795-1797) e ministro da Guerra em 1800.

Com o término de seu relacionamento com Xaintrailles — que a abandonou em 1798, após anos de convivência e batalhas compartilhadas — Henriette foi enviada ao Egito em missão confidencial por Napoleão Bonaparte. Atuando como ajudante de campo do general Jacques-François Menou, participou da Batalha de Aboukir (1799), um confronto terrestre contra tropas otomanas que haviam desembarcado na costa egípcia. Durante os combates, sofreu uma grave queda de cavalo, o que a levou a se afastar do serviço ativo em 1801 (WHEELWRIGHT, 2020).

Jacques-François Menou, conhecido como Abdallah de Menou após sua conversão ao Islã, foi um importante militar e político francês, deputado da nobreza nos Estados Gerais, presidente da Assembleia Nacional Constituinte em 1790 e comandante na campanha do Egito.

Por volta de 1800, Marie-Henriette Heiniken foi iniciada na Maçonaria na Loja Les Frères Artistes, em Paris, presidida por Jean-Guillaume-Augustin Cuvelier. A loja planejava uma cerimônia de Adoção, voltada às mulheres, mas ao descobrirem sua verdadeira identidade como guerreira combatente, os irmãos decidiram iniciá-la na Maçonaria regular masculina, conferindo-lhe o grau de Aprendiz (GUIDA, 2018).

Sua resposta à proposta de se tornar maçom foi memorável:

“Fui um homem para minha pátria, serei um homem para meus Irmãos.” (GUIDA, 2018)

Apesar de sua bravura, após a queda de Napoleão, perdeu a pensão que recebia do Império Napoleônico — por ter sido antiga companheira do general Xaintrailles —, vindo a morrer em condições precárias (GUIDA, 2018; WIKIPEDIA, 2025). 

Sobre a Pensão Recebida

Segundo a Wikipedia francesa (2025), Marie-Henriette Heiniken desejava receber uma pensão como ex-combatente, mas o reconhecimento oficial veio apenas por sua ligação com o general Xaintrailles, e não por mérito próprio. Morin (2010) relata que Marie-Henriette Heiniken escreveu ao próprio Napoleão Bonaparte, indignada por lhe recusarem a pensão como ex-combatente, alegando que o motivo da recusa era o fato de ela ser mulher e declarou:

"Não fiz a guerra como mulher, fiz a guerra como um bravo." (MORIN, 2010, p. 36). 

Ela também citou na carta que participou de sete campanhas do Reno como ajudante de campo, e que o que importava era o cumprimento do dever, não o sexo de quem o desempenhava.

A pensão foi suspensa em 1814, após a queda de Napoleão Bonaparte e a restauração da monarquia dos Bourbons, com Luís XVIII no trono. Com a mudança de regime, muitos benefícios concedidos pelo Império foram revogados, especialmente os que não estavam formalmente registrados ou que envolviam figuras consideradas controversas, como as mulheres combatentes (WIKIPEDIA, 2025). Assim, após o fim de seu relacionamento com Xaintrailles, que a abandonou, e com o encerramento de sua carreira militar, Henriette enfrentou severas dificuldades sociais e financeiras, vivendo seus últimos anos na pobreza.

Marie-Henriette Heiniken representa um símbolo de coragem, transgressão de normas de gênero e pioneirismo feminino tanto no campo militar quanto na maçonaria. Sua história é frequentemente citada em enciclopédias maçônicas e estudos sobre mulheres guerreiras e maçons.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

CRUYPLANTS, Eugène; AERTS, Winand. Dumouriez dans les ci-devant Pays-Bas autrichiens. Bruxelles: A. de Boeck, 1912.

CRUYPLANTS, Eugène; AERTS, Winand. La Belgique sous la domination française (1792–1815): Dumouriez dans les ci-devant Pays-Bas autrichiens. Paris: Librairie générale des sciences, arts et lettres, 1912. Disponível em: https://archive.org/details/AertsCruyplants1912Bnf34083962b. Acesso em: 17 out. 2025.

GUIDA, Francesco. Una storia di Amore e Massoneria Francesco Guida - Blog, 21 nov, 2018. Disponível em: https://www.francescoguida.org/2018/11/21/una-storia-di-amore-e-massoneria. Acesso em: 17 out. 2025.

MORIN, Tania Machado. As marselhesas no front. Revista de História da Biblioteca Nacional, Ano 6, Nº 63, dezembro 2010, p. 36.

MORIN, Jean-Frédéric. The Two-Level Game of Transnational Network: The Case of the Access to Medicines CampaignInternational Interactions, v. 36, n. 4, p. 309–334, 2010. Disponível em:
https://www.academia.edu/1973122/Morin_J_F_2010_The_Two_Level_Game_of_Transnational_Network_The_Case_of_the_Access_to_Medicines_Campaign_International_Interactions_vol_36_4_p_309_334. Acesso em: 17 out. 2025.

WHEELWRIGHT, Julie. Sisters in Arms: Female warriors from antiquity to the new millennium. Londres: Bloomsbury Publishing, 2020. p. 192-194.

WIKIPÉDIA. Marie-Henriette Heiniken. Disponível em: https://fr.wikipedia.org/wiki/Marie-Henriette_Heiniken. Acesso em: 17 out. 2025.

      17 outubro 2025

      Julia Apraxin

      Da Aristocracia Vienense à Iniciação Maçônica em Madrid

      Enquanto os movimentos pela inclusão feminina na Maçonaria ganhavam força na França — com figuras como Clémence Royer e Maria Deraismes — e na Hungria, com a condessa Helene Hadik-Barkóczy, na Espanha, uma mulher de origem russa se destacava por sua coragem e determinação: Julia Apraxin. Sua trajetória, ainda pouco conhecida, representa mais um elo da cadeia de mulheres que, no final do século XVIII, mesmo enfrentando forte resistência, conquistaram seu lugar na Ordem rompendo paradigmas e reafirmando o papel feminino na construção de uma Maçonaria mais inclusiva e universal.

      Julia Apraxin. Copilot.

      Julia Alexandrovna Apraxin nasceu em 16 de outubro de 1830, em Viena, capital do Império Austríaco. Era filha do conde Alexandre Petrovich Apraxin, diplomata russo, e da condessa Hélène Bezobrazova, de origem polaco-russa. Há indícios de que seu pai biológico tenha sido o conde Esterházy, com quem sua mãe se casou após o divórcio (VÁRI, 2020).

      Criada entre Viena e o castelo Esterházy em Cseklész (atual Bratislava), Julia recebeu uma educação excepcional para uma mulher de sua época. Estudou línguas, literatura, filosofia, astronomia, história, direito e anatomia. Teve como tutor o renomado acadêmico Toldy Ferenc e frequentava as aulas do professor Lenhossék József (WIKIPÉDIA, 2025).

      Desde a infância, demonstrava talento artístico e literário. Aos oito anos, já atuava em peças teatrais e escrevia poesia. Sua vida social era intensa: frequentava bailes da corte vienense e manteve um salão literário em Buda e Pest, reunindo intelectuais e artistas (VÁRI, 2020).

      Em 15 de outubro de 1849, casou-se com o conde Artúr Batthyány, com quem teve cinco filhos: Ilona Jozefa (1850-1880), Katalin (1852-1885), Artúr Ödön (1854-1874), Georgina (1856-1929) e Tasziló (1858-1863) (FAMILYSEARCH, 2023). Após a morte do marido, casou-se com Lorenzo Rubio di Espinosa, com quem viveu na Espanha até o fim da vida.

      Em 1853, Johann Strauss II dedicou-lhe a polca Tanzi Bäri (O Urso Dançante), comparando-a a uma "condessa domadora de ursos", em alusão à sua habilidade de encantar os homens nos salões vienenses (TETRAKTYS, 2023).

      O momento mais marcante de sua trajetória ocorreu em 14 de junho de 1880, quando foi iniciada na Loja Fraternidad Ibérica, do Grande Oriente Nacional da Espanha, em Madrid. Sua iniciação aconteceu cinco anos após a iniciação de Helene Barkóczy (na Hungria). Julia tornou-se a primeira mulher a ser iniciada em uma loja maçônica masculina regular na Espanha, adotando o nome simbólico de Buda, em homenagem à cidade húngara onde viveu (VÁRI, 2020). A autorização para sua iniciação foi concedida pelo Grão-Mestre Seoane, que reconheceu seus serviços prestados ao exército francês e sua postura "varonil", conforme registrado nas atas da Loja (VÁRI, 2020).

      Embora Julia Apraxin e Helene Hadik-Barkóczy tenham vivido em contextos sociais e geográficos próximos — ambas pertencentes à aristocracia austro-húngara e iniciadas na maçonaria em datas próximas —, não há registros históricos ou acadêmicos que confirmem que tenham se conhecido pessoalmente. Nenhuma correspondência, encontro ou relação direta entre elas foi documentada nas fontes consultadas, incluindo estudos de László Vári, que pesquisou profundamente a trajetória de ambas.

      Julia Apraxin faleceu em 20 de maio de 1913, na Espanha. Embora suas obras literárias não tenham resistido ao tempo, sua vida permanece como símbolo de coragem, erudição e pioneirismo feminino na maçonaria europeia.

      Sandra Cristina Pedri

      Referências Bibliográficas

      FAMILYSEARCH. Julia Alexandrovna Apraxin (1830–about 1917). Disponível em: https://ancestors.familysearch.org/en/L8YH-DJK/julia-alexandrovna-apraxin-1830-1917. Acesso em: 16 out. 2025.

      TETRAKTYS. Julia Apraxin – The First Woman Freemason in Spain. Disponível em: https://tetraktys.co.uk/julia-apraxin/. Acesso em: 16 out. 2025.

      VÁRI, László. Buda, the first woman Freemason in Spain: Life and Career of Countess Julia Apraxin (1830–1913). In: RUIZ SÁNCHEZ, J. L. et al. La masonería: mito e historia en el III centenario de la fundación de la masonería moderna. Vol. 2. Sevilla: Universidad de Sevilla, 2020. p. 889–906. Disponível em: https://www.academia.edu/107872022. Acesso em: 16 out. 2025.

      WIKIPÉDIA. Apraxin Júlia. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: https://hu.wikipedia.org/wiki/Apraxin_J%C3%BAlia. Acesso em: 16 out. 2025.



      16 outubro 2025

      Helene Hadik-Barkóczy - Desafio à Exclusão de Gênero

      Helene Hadik-Barkóczy. ChatGPT.

      Pioneira Feminina na Maçonaria Europeia

      Já abordamos algumas das mulheres que, no século XVIII, buscaram ingressar na Maçonaria. 
      • Elizabeth Aldworth (Irlanda) que, segundo uma narrativa amplamente divulgada a partir do século XIX, observou uma reunião maçônica secreta e, quando descoberta, por tratar-se da filha do maçom em cuja casa as reuniões aconteciam, em vez de ser punida, foi iniciada nos graus por ela presenciados. Em seguida.
      • Duquesa de Bourbon (Grã-Mestra das Lojas de Adoção).
      • Marie-Henriette Heiniken - A história da sua iniciação maçônica é amplamente registrada em fontes maçônicas e históricas confiáveis, embora ainda seja considerada um episódio singular e excepcional dentro da tradição maçônica.
      • Salome Anderson (EUA - Califórnia). Mencionada como iniciada em loja masculina. Informação a ser pesquisada.
      • Catherine Babington (EUA - Carolina do Norte). Registros indicam iniciação em loja masculina).
      • Imperatriz Josefina (França) - Mencionada como líder do renascimento das Lojas de Adoção durante o Império Napoleônico - informação a ser confirmada.
      • Clémence Royer (França) - Lembrada como uma pioneira do feminismo, do livre-pensamento, tradutora da obra A Origem das Espécies (Darwin) para o francês e primeira mulher filiada a Société d'Anthropologie (instituição Maçônica). Conheceu Maria Deraismes (França) e participou com ela do Congresso Internacional sobre os Direitos da Mulher em 1889. 
      • Maria Deraismes e Geroges Martin fundaram (em 1893, Paris) a primeira Loja Maçônica Mista chamada Le Droit Humain, algo inovador para aquele tempo.

      Enquanto tais movimentos se desenrolavam na França, em outros países mulheres também buscavam um lugar na Maçonaria. Na Hungria, tivemos a condessa Helene Hadik-Barkóczy (1833-1887), também conhecida como Ilona Hadik-Barkóczy. Ela foi uma aristocrata húngara que se destacou por sua tentativa pioneira de ingressar na Maçonaria regular ainda no final do século XVIII (VARI, 2017, p. 2). Filha única do conde János Barkóczy e da condessa Antónia Festetics de Tolna, herdou, após a morte de seu pai em 1871, uma vasta biblioteca que incluía obras sobre Maçonaria. 

      Helene casou-se com Béla Hadik de Futak, membro de uma família aristocrática húngara, e teve um filho, Sándor Hadik-Barkóczy, que mais tarde se tornou membro da Casa dos Magnatas da Hungria em 1888. Segundo Denslow (2004, p. 128) Sándor também atuou como membro do Comitê de Avaliação entre 1880 e 1892.

      Em 1875, Helene foi iniciada na Loja Egyenlõség (Igualdade) localizada em Ungvár, sob jurisdição do Grande Oriente da Hungria e com o apoio do Grão-Mestre Ferenc Pulszky. Essa iniciação aconteceu 7 anos antes da iniciação de Maria Deraismes, na França. Sua entrada foi fundamentada em argumentos jurídicos e sociais, como sua condição legal de "herdeira masculina" (praefectio), concedida por decreto real por ser a última de sua linhagem; e a ausência de restrições explícitas de gênero na Constituição do Grande Oriente. 

      Apesar disso, sua iniciação gerou grande controvérsia, foi posteriormente anulada e os envolvidos foram punidos. Segundo Vari (2017, p. 3) a decisão foi tomada em uma reunião realizada em 10 de março de 1876, quando se declarou que sua admissão era contrária à lei e, portanto, nula e sem efeito. Esse episódio revela a tensão entre os ideais de igualdade e as práticas excludentes da época.

      Mesmo com a anulação oficial, Helene nunca devolveu seu Certificado de Iniciação, mantendo-o como símbolo de sua luta pela igualdade de gênero na Maçonaria. Seu caso tornou-se um marco histórico, sendo frequentemente citado como uma das primeiras tentativas femininas de romper as barreiras da Maçonaria europeia. Em estudos contemporâneos, sua história é vista como símbolo de resistência e emancipação. Ela é mencionada como precursora de uma nova era, em que mulheres passaram a reivindicar espaço nas fraternidades maçônicas, especialmente em ramos mais progressistas ou mistos

      Além de seu envolvimento na Maçonaria, Helene Hadik-Barkóczy era uma figura culturalmente ativa: culta, poliglota, com profundo interesse por história, artes e ciências. Foi membro da Sociedade Histórica Húngara, o que reforça seu papel como mulher de destaque intelectual e social numa época de fortes limitações para as mulheres. 

      Seu caso destaca-se como exemplo significativo da busca por igualdade de gênero na Maçonaria, precedendo a fundação do Le Droit Humain em 1893 (por Maria Deraismes e Georges Martin) — organização internacional que passou a admitir mulheres e homens na Maçonaria (DENSLOW, 2004). 

      Segundo Vari (2017) Helene faleceu aos 53 anos de idade, em 24 de janeiro de 1887, na cidade de Kassa (atualmente Kosice), na Eslováquia.

      Sandra Cristina Pedri

      Referências Bibliográficas

      DENSLOW, William R. 10.000 Famosos Maçons. 2 ed. São Paulo: Pensamento, 2004.

      VARI, László. Women and Freemasonary in HungaryThe Case of Countess Helene Hadik-Barkóczy. Budapest: Research Paper, 2017. Disponível em: 
      https://www.researchgate.net/publication/312498662_The_Curious_Case_of_Helene_Hadik-Barkoczy_with_the_Freemasons_Hadik-Barkoczy_Ilona_kulonos_esete_a_szabadkomuvesekkel. Acesso em 28 set. 2025.

      15 outubro 2025

      Símbolos Maçônicos nas Cidades Brasileiras

      Tradição, Influência e Memória

      Obelisco em Manaus. Copilot.
      Ao cruzar os limites urbanos de diversas cidades brasileiras, é comum encontrar monumentos com o esquadro e o compasso, colunas, pirâmides ou estátuas que remetem à simbologia maçônica. Esses elementos não são apenas decorativos: representam a presença histórica da Maçonaria e sua influência na formação política, social e cultural do Brasil.

      O esquadro representa a retidão moral, enquanto o compasso simboliza o equilíbrio espiritual e a busca pelo aperfeiçoamento. A letra G no centro pode remeter a God (Deus) ou à Geometria, ciência fundamental para os construtores medievais, origem simbólica da Maçonaria.

      Outros símbolos recorrentes incluem:

      • Colunas J e B: força e estabilidade.
      • Pavimento em mosaico: dualidade entre luz e trevas.
      • Estrela flamejante: iluminação espiritual.
      • Pirâmides: ascensão e sabedoria.

      Exemplos de Cidades com Monumentos Maçônicos

      Há diversas cidades brasileiras com a presença desses símbolos, especialmente nas entradas, praças e locais públicos, como por exemplo:

      • Cosmópolis (SP): monumento triangular com esquadro e compasso em frente à rodoviária, erguido pela Loja Maçônica 31 de Março nº 152. 
      • Trindade (GO): monumento com o símbolo maçônico e uma estátua, localizado na entrada da cidade.
      • Realengo (RJ): monumento maçônico registrado em pesquisa acadêmica sobre simbolismo no espaço público.
      • Santo André (SP): monumento com três colunas douradas e o símbolo do esquadro e compasso com a letra G, representando igualdade.
      • São Caetano do Sul (SP): pirâmide com símbolos maçônicos em praça pública.

      Além dessas, podemos citar: Campinas, Santos, Sorocaba, Presidente Prudente, Itanhaém, Uberaba, Varginha, Campina Grande, Venâncio Aires, Florianópolis, Niterói, Paraty, Angra dos Reis, entre outras. 

      Obelisco na Rotatória do Eldorado, em Manaus (AM)

      Um exemplo notável é o obelisco localizado na rotatória do Eldorado, no bairro Parque Dez de Novembro, em Manaus (AM). Este obelisco foi construído pela Grande Loja Maçônica do Amazonas (GLOMAM) com o apoio da Loja Esperança e Porvir n.1, fundada em 1872. Totalmente financiado pela Maçonaria, sem uso de recursos públicos. Sua instalação foi autorizada pelo Instituto Municipal de Ordem Social e Planejamento Urbano (Implurb), após solicitação da Ordem. 

      Segundo o venerável mestre Tufi Salim Jorge Filho, da Loja Esperança e Porvir n.1, os objetivos da construção do obelisco foram: homenagear as obras filantrópicas realizadas pela Maçonaria no Amazonas; mostrar à população o que é a Maçonaria, seus valores e atuação social; e celebrar os princípios universais da Ordem. O monumento foi inaugurado em julho de 2012, como parte das comemorações dos 347 anos da cidade de Manaus.

      Contexto Histórico e Cultural

      A Maçonaria brasileira teve papel ativo em momentos decisivos da história nacional, como a Independência, a Proclamação da República e o movimento abolicionista. Lojas Maçônicas foram fundadas por intelectuais, políticos e líderes locais, que muitas vezes contribuíram com obras públicas, educação e filantropia.

      Segundo o historiador Michel Silva, a Maçonaria deve ser compreendida como um fenômeno sociopolítico que influenciou a identidade política brasileira desde o século XIX. Já José Castellani, autor de História do Grande Oriente do Brasil, destaca que até 1930 a história da Maçonaria se confundia com a própria história do país.

      Sandra Cristina Pedri

      Referências Bibliográficas

      CMSB. Biblioteca Digital da Confederação Maçônica do Brasil. [S.l.]: CMSB, 2025. Disponível em: https://cmsb.org.br/biblioteca/. Acesso em: 05 out. 2025.

      GOB. Biblioteca Virtual do Grande Oriente do Brasil. Brasília: GOB, 2025. Disponível em: https://www.gob.org.br/biblioteca-virtual/. Acesso em: 05 out. 2025.

      GOB-SP. Monumentos Maçônicos do Estado de São Paulo. São Paulo: Grande Oriente do Brasil – SP, 2025. Disponível em: https://gobspcultura.org/home/monumentos/. Acesso em: 05 out. 2025.

      CASTELLANI, José; CARVALHO, William. História do Grande Oriente do Brasil. São Paulo: Madras Editora, 2009.

      MACEDO, Andrew Jones Rodrigues de. Novo Ordo Seclorum: simbolismo maçom no espaço público e a representação de influência política da ordem. Uma análise sobre secularismo. Seropédica: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2023. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Ciências Sociais). [arquivos.ufrrj.br]

      RODRIGUES, Marcel Henrique. Maçonaria e Simbologia: uma análise do preconceito através da História e da Psicologia. [S.l.]: Academia.edu, 2020. Disponível em: https://www.academia.edu/42017927. Acesso em: 05 out. 2025. 

      SILVA, Michel (Org.). Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade. San José: REHMLAC+, 2015.

      14 outubro 2025

      Clémence Royer - Filiada a Société d'Anthropologie

       Da tradução de Darwin à luta feminista

      Clémence Royer (Clémence-Auguste Royer) nasceu em Nantes (França) em 21 de abril de 1830. Filha única de Augustin-René Royer, oficial militar realista, e Joséphine-Gabrielle Audouard, costureira, Royer foi educada em casa e, aos 10 anos, enviada ao convento do Sacré-Coeur em Le Mans. No entanto, abandonou a fé católica na adolescência e continuou sua educação de forma autodidata, desenvolvendo interesse por filosofia, ciência e feminismo.

      Clémence Royer. ChatGPT.

      Em 1856 (com cerca de 26 anos de idade) estabeleceu-se em Lausanne, Suíça, onde viveu com recursos próprios e dedicou-se ao estudo de filosofia, economia e ciência. Em 1862, traduziu para o francês a obra A Origem das Espécies de Charles Darwin, incluindo uma introdução de 60 páginas que refletia suas próprias ideias evolucionistas, influenciadas por Jean-Baptiste Lamarck (Scientific Women, s.d.). 

      Lamarck foi um naturalista e biólogo francês que propôs uma teoria coerente da evolução das espécies, antes de Darwin, desenvolvendo a ideia de herança de caracteres adquiridos. Para ele os organismos poderiam transmitir às próximas gerações características adquiridas durante sua vida. Ele é considerado um precursor do evolucionismo, embora sua teoria não tenha resistido à seleção natural darwiniana, especialmente porque a genética moderna mostrou que caracteres adquiridos não são transmitidos hereditariamente.

      Essa tradução feita por Clémence Royer foi controversa na época, pois ao incorporar suas próprias interpretações nas páginas iniciais da tradução que fez, acabou gerando críticas tanto de Darwin quanto de outros cientistas.

      Em 1865, Royer iniciou uma união com Pascal Duprat, intelectual francês exilado, com quem teve um filho. Apesar de seu envolvimento intelectual e político, detalhes sobre sua vida familiar são escassos.

      Mais tarde Royer participou ativamente do movimento feminista francês (republicano, laico e racionalista) da Terceira República. Nessa época sua atuação foi mais filosófica e intelectual, defendendo que a ciência e a instrução feminina seriam os instrumentos de emancipação. Sendo assim, ela defendia as mesmas ideias de Maria Deraismes.

      Em 1878, esteve presente no primeiro Congresso Internacional sobre os Direitos da Mulher. No Congresso de 1889 foi convidada por Maria Deraismes para presidir a seção histórica. Em seu discurso argumentou que a introdução do sufrágio feminino (direito das mulheres de votar e serem votadas em eleições políticas) provavelmente levaria a um aumento do poder da Igreja. Sob a liderança de Hubertine Auclert, Maria Deraismes e Clémence Royer passaram a lutar pelo direito ao voto feminino, focando seus esforços na educação, nos direitos civis e na crítica ao poder da Igreja sobre as mulheres. Defendiam a necessidade de uma educação laica que favoreceria o livre-pensamento, pois temiam que mulheres pouco instruídas votassem de forma conservadora, fortalecendo a Igreja Católica.

      Clémence Royer (filósofa, economista, tradutora e feminista francesa) faleceu em 6 de fevereiro de 1902, em Neuilly-sur-Seine, França, com 71 anos de idade.

      Relação com a Maçonaria

      Clémence esteve ligada a círculos de livre-pensamento e à Maçonaria por meio da Société d'Anthropologie de Paris, instituição maçônica de prestígio ligada à ciência e ao pensamento filosófico tendo sido a primeira mulher admitida nesta Sociedade. Embora não haja registros específicos sobre sua iniciação em uma loja maçônica tradicional, sua afiliação a esta instituição indica sua participação em círculos maçônicos e intelectuais (Scientific Women, s.d.).

      Royer é lembrada como uma pioneira do feminismo e da ciência no século XIX. Sua tradução de Darwin introduziu o darwinismo na França e influenciou o pensamento científico da época. Além disso, sua participação ativa no movimento feminista e sua afiliação a Société d'Anthropologie (instituição maçônica) destacam seu papel na promoção da igualdade de gênero e na disseminação do livre-pensamento (Wikipedia, 2025; Scientific Women, s.d.).

      Sandra Cristina Pedri

      Referências Bibliográficas

      ROYER, Clémence. A Origem das Espécies de Charles Darwin. Tradução francesa com introdução de Clémence Royer. Paris, 1862.

      SCIENTIFIC WOMEN. Clémence Royer. Disponível em: https://scientificwomen.net/women/royer-clemence-85?utm_source=chatgpt.com. Acesso em 27 set. 2025.

      WIKIPEDIA. Clémence Royer. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cl%C3%A9mence_Royer. Acesso em 27 set. 2025.

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