16 outubro 2025

Helene Hadik-Barkóczy - Desafio à Exclusão de Gênero

Helene Hadik-Barkóczy. ChatGPT.

Pioneira Feminina na Maçonaria Europeia

Já abordamos algumas das mulheres que, no século XVIII, buscaram ingressar na Maçonaria. 
  • Elizabeth Aldworth (Irlanda) que, segundo uma narrativa amplamente divulgada a partir do século XIX, observou uma reunião maçônica secreta e, quando descoberta, por tratar-se da filha do maçom em cuja casa as reuniões aconteciam, em vez de ser punida, foi iniciada nos graus por ela presenciados. Em seguida.
  • Duquesa de Bourbon (Grã-Mestra das Lojas de Adoção).
  • Marie-Henriette Heiniken - A história da sua iniciação maçônica é amplamente registrada em fontes maçônicas e históricas confiáveis, embora ainda seja considerada um episódio singular e excepcional dentro da tradição maçônica.
  • Salome Anderson (EUA - Califórnia). Mencionada como iniciada em loja masculina. Informação a ser pesquisada.
  • Catherine Babington (EUA - Carolina do Norte). Registros indicam iniciação em loja masculina).
  • Imperatriz Josefina (França) - Mencionada como líder do renascimento das Lojas de Adoção durante o Império Napoleônico - informação a ser confirmada.
  • Clémence Royer (França) - Lembrada como uma pioneira do feminismo, do livre-pensamento, tradutora da obra A Origem das Espécies (Darwin) para o francês e primeira mulher filiada a Société d'Anthropologie (instituição Maçônica). Conheceu Maria Deraismes (França) e participou com ela do Congresso Internacional sobre os Direitos da Mulher em 1889. 
  • Maria Deraismes e Geroges Martin fundaram (em 1893, Paris) a primeira Loja Maçônica Mista chamada Le Droit Humain, algo inovador para aquele tempo.

Enquanto tais movimentos se desenrolavam na França, em outros países mulheres também buscavam um lugar na Maçonaria. Na Hungria, tivemos a condessa Helene Hadik-Barkóczy (1833-1887), também conhecida como Ilona Hadik-Barkóczy. Ela foi uma aristocrata húngara que se destacou por sua tentativa pioneira de ingressar na Maçonaria regular ainda no final do século XVIII (VARI, 2017, p. 2). Filha única do conde János Barkóczy e da condessa Antónia Festetics de Tolna, herdou, após a morte de seu pai em 1871, uma vasta biblioteca que incluía obras sobre Maçonaria. 

Helene casou-se com Béla Hadik de Futak, membro de uma família aristocrática húngara, e teve um filho, Sándor Hadik-Barkóczy, que mais tarde se tornou membro da Casa dos Magnatas da Hungria em 1888. Segundo Denslow (2004, p. 128) Sándor também atuou como membro do Comitê de Avaliação entre 1880 e 1892.

Em 1875, Helene foi iniciada na Loja Egyenlõség (Igualdade) localizada em Ungvár, sob jurisdição do Grande Oriente da Hungria e com o apoio do Grão-Mestre Ferenc Pulszky. Essa iniciação aconteceu 7 anos antes da iniciação de Maria Deraismes, na França. Sua entrada foi fundamentada em argumentos jurídicos e sociais, como sua condição legal de "herdeira masculina" (praefectio), concedida por decreto real por ser a última de sua linhagem; e a ausência de restrições explícitas de gênero na Constituição do Grande Oriente. 

Apesar disso, sua iniciação gerou grande controvérsia, foi posteriormente anulada e os envolvidos foram punidos. Segundo Vari (2017, p. 3) a decisão foi tomada em uma reunião realizada em 10 de março de 1876, quando se declarou que sua admissão era contrária à lei e, portanto, nula e sem efeito. Esse episódio revela a tensão entre os ideais de igualdade e as práticas excludentes da época.

Mesmo com a anulação oficial, Helene nunca devolveu seu Certificado de Iniciação, mantendo-o como símbolo de sua luta pela igualdade de gênero na Maçonaria. Seu caso tornou-se um marco histórico, sendo frequentemente citado como uma das primeiras tentativas femininas de romper as barreiras da Maçonaria europeia. Em estudos contemporâneos, sua história é vista como símbolo de resistência e emancipação. Ela é mencionada como precursora de uma nova era, em que mulheres passaram a reivindicar espaço nas fraternidades maçônicas, especialmente em ramos mais progressistas ou mistos

Além de seu envolvimento na Maçonaria, Helene Hadik-Barkóczy era uma figura culturalmente ativa: culta, poliglota, com profundo interesse por história, artes e ciências. Foi membro da Sociedade Histórica Húngara, o que reforça seu papel como mulher de destaque intelectual e social numa época de fortes limitações para as mulheres. 

Seu caso destaca-se como exemplo significativo da busca por igualdade de gênero na Maçonaria, precedendo a fundação do Le Droit Humain em 1893 (por Maria Deraismes e Georges Martin) — organização internacional que passou a admitir mulheres e homens na Maçonaria (DENSLOW, 2004). 

Segundo Vari (2017) Helene faleceu aos 53 anos de idade, em 24 de janeiro de 1887, na cidade de Kassa (atualmente Kosice), na Eslováquia.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

DENSLOW, William R. 10.000 Famosos Maçons. 2 ed. São Paulo: Pensamento, 2004.

VARI, László. Women and Freemasonary in HungaryThe Case of Countess Helene Hadik-Barkóczy. Budapest: Research Paper, 2017. Disponível em: 
https://www.researchgate.net/publication/312498662_The_Curious_Case_of_Helene_Hadik-Barkoczy_with_the_Freemasons_Hadik-Barkoczy_Ilona_kulonos_esete_a_szabadkomuvesekkel. Acesso em 28 set. 2025.

15 outubro 2025

Símbolos Maçônicos nas Cidades Brasileiras

Tradição, Influência e Memória

Obelisco em Manaus. Copilot.
Ao cruzar os limites urbanos de diversas cidades brasileiras, é comum encontrar monumentos com o esquadro e o compasso, colunas, pirâmides ou estátuas que remetem à simbologia maçônica. Esses elementos não são apenas decorativos: representam a presença histórica da Maçonaria e sua influência na formação política, social e cultural do Brasil.

O esquadro representa a retidão moral, enquanto o compasso simboliza o equilíbrio espiritual e a busca pelo aperfeiçoamento. A letra G no centro pode remeter a God (Deus) ou à Geometria, ciência fundamental para os construtores medievais, origem simbólica da Maçonaria.

Outros símbolos recorrentes incluem:

  • Colunas J e B: força e estabilidade.
  • Pavimento em mosaico: dualidade entre luz e trevas.
  • Estrela flamejante: iluminação espiritual.
  • Pirâmides: ascensão e sabedoria.

Exemplos de Cidades com Monumentos Maçônicos

Há diversas cidades brasileiras com a presença desses símbolos, especialmente nas entradas, praças e locais públicos, como por exemplo:

  • Cosmópolis (SP): monumento triangular com esquadro e compasso em frente à rodoviária, erguido pela Loja Maçônica 31 de Março nº 152. 
  • Trindade (GO): monumento com o símbolo maçônico e uma estátua, localizado na entrada da cidade.
  • Realengo (RJ): monumento maçônico registrado em pesquisa acadêmica sobre simbolismo no espaço público.
  • Santo André (SP): monumento com três colunas douradas e o símbolo do esquadro e compasso com a letra G, representando igualdade.
  • São Caetano do Sul (SP): pirâmide com símbolos maçônicos em praça pública.

Além dessas, podemos citar: Campinas, Santos, Sorocaba, Presidente Prudente, Itanhaém, Uberaba, Varginha, Campina Grande, Venâncio Aires, Florianópolis, Niterói, Paraty, Angra dos Reis, entre outras. 

Obelisco na Rotatória do Eldorado, em Manaus (AM)

Um exemplo notável é o obelisco localizado na rotatória do Eldorado, no bairro Parque Dez de Novembro, em Manaus (AM). Este obelisco foi construído pela Grande Loja Maçônica do Amazonas (GLOMAM) com o apoio da Loja Esperança e Porvir n.1, fundada em 1872. Totalmente financiado pela Maçonaria, sem uso de recursos públicos. Sua instalação foi autorizada pelo Instituto Municipal de Ordem Social e Planejamento Urbano (Implurb), após solicitação da Ordem. 

Segundo o venerável mestre Tufi Salim Jorge Filho, da Loja Esperança e Porvir n.1, os objetivos da construção do obelisco foram: homenagear as obras filantrópicas realizadas pela Maçonaria no Amazonas; mostrar à população o que é a Maçonaria, seus valores e atuação social; e celebrar os princípios universais da Ordem. O monumento foi inaugurado em julho de 2012, como parte das comemorações dos 347 anos da cidade de Manaus.

Contexto Histórico e Cultural

A Maçonaria brasileira teve papel ativo em momentos decisivos da história nacional, como a Independência, a Proclamação da República e o movimento abolicionista. Lojas Maçônicas foram fundadas por intelectuais, políticos e líderes locais, que muitas vezes contribuíram com obras públicas, educação e filantropia.

Segundo o historiador Michel Silva, a Maçonaria deve ser compreendida como um fenômeno sociopolítico que influenciou a identidade política brasileira desde o século XIX. Já José Castellani, autor de História do Grande Oriente do Brasil, destaca que até 1930 a história da Maçonaria se confundia com a própria história do país.

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

CMSB. Biblioteca Digital da Confederação Maçônica do Brasil. [S.l.]: CMSB, 2025. Disponível em: https://cmsb.org.br/biblioteca/. Acesso em: 05 out. 2025.

GOB. Biblioteca Virtual do Grande Oriente do Brasil. Brasília: GOB, 2025. Disponível em: https://www.gob.org.br/biblioteca-virtual/. Acesso em: 05 out. 2025.

GOB-SP. Monumentos Maçônicos do Estado de São Paulo. São Paulo: Grande Oriente do Brasil – SP, 2025. Disponível em: https://gobspcultura.org/home/monumentos/. Acesso em: 05 out. 2025.

CASTELLANI, José; CARVALHO, William. História do Grande Oriente do Brasil. São Paulo: Madras Editora, 2009.

MACEDO, Andrew Jones Rodrigues de. Novo Ordo Seclorum: simbolismo maçom no espaço público e a representação de influência política da ordem. Uma análise sobre secularismo. Seropédica: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2023. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Ciências Sociais). [arquivos.ufrrj.br]

RODRIGUES, Marcel Henrique. Maçonaria e Simbologia: uma análise do preconceito através da História e da Psicologia. [S.l.]: Academia.edu, 2020. Disponível em: https://www.academia.edu/42017927. Acesso em: 05 out. 2025. 

SILVA, Michel (Org.). Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade. San José: REHMLAC+, 2015.

14 outubro 2025

Clémence Royer - Filiada a Société d'Anthropologie

 Da tradução de Darwin à luta feminista

Clémence Royer (Clémence-Auguste Royer) nasceu em Nantes (França) em 21 de abril de 1830. Filha única de Augustin-René Royer, oficial militar realista, e Joséphine-Gabrielle Audouard, costureira, Royer foi educada em casa e, aos 10 anos, enviada ao convento do Sacré-Coeur em Le Mans. No entanto, abandonou a fé católica na adolescência e continuou sua educação de forma autodidata, desenvolvendo interesse por filosofia, ciência e feminismo.

Clémence Royer. ChatGPT.

Em 1856 (com cerca de 26 anos de idade) estabeleceu-se em Lausanne, Suíça, onde viveu com recursos próprios e dedicou-se ao estudo de filosofia, economia e ciência. Em 1862, traduziu para o francês a obra A Origem das Espécies de Charles Darwin, incluindo uma introdução de 60 páginas que refletia suas próprias ideias evolucionistas, influenciadas por Jean-Baptiste Lamarck (Scientific Women, s.d.). 

Lamarck foi um naturalista e biólogo francês que propôs uma teoria coerente da evolução das espécies, antes de Darwin, desenvolvendo a ideia de herança de caracteres adquiridos. Para ele os organismos poderiam transmitir às próximas gerações características adquiridas durante sua vida. Ele é considerado um precursor do evolucionismo, embora sua teoria não tenha resistido à seleção natural darwiniana, especialmente porque a genética moderna mostrou que caracteres adquiridos não são transmitidos hereditariamente.

Essa tradução feita por Clémence Royer foi controversa na época, pois ao incorporar suas próprias interpretações nas páginas iniciais da tradução que fez, acabou gerando críticas tanto de Darwin quanto de outros cientistas.

Em 1865, Royer iniciou uma união com Pascal Duprat, intelectual francês exilado, com quem teve um filho. Apesar de seu envolvimento intelectual e político, detalhes sobre sua vida familiar são escassos.

Mais tarde Royer participou ativamente do movimento feminista francês (republicano, laico e racionalista) da Terceira República. Nessa época sua atuação foi mais filosófica e intelectual, defendendo que a ciência e a instrução feminina seriam os instrumentos de emancipação. Sendo assim, ela defendia as mesmas ideias de Maria Deraismes.

Em 1878, esteve presente no primeiro Congresso Internacional sobre os Direitos da Mulher. No Congresso de 1889 foi convidada por Maria Deraismes para presidir a seção histórica. Em seu discurso argumentou que a introdução do sufrágio feminino (direito das mulheres de votar e serem votadas em eleições políticas) provavelmente levaria a um aumento do poder da Igreja. Sob a liderança de Hubertine Auclert, Maria Deraismes e Clémence Royer passaram a lutar pelo direito ao voto feminino, focando seus esforços na educação, nos direitos civis e na crítica ao poder da Igreja sobre as mulheres. Defendiam a necessidade de uma educação laica que favoreceria o livre-pensamento, pois temiam que mulheres pouco instruídas votassem de forma conservadora, fortalecendo a Igreja Católica.

Clémence Royer (filósofa, economista, tradutora e feminista francesa) faleceu em 6 de fevereiro de 1902, em Neuilly-sur-Seine, França, com 71 anos de idade.

Relação com a Maçonaria

Clémence esteve ligada a círculos de livre-pensamento e à Maçonaria por meio da Société d'Anthropologie de Paris, instituição maçônica de prestígio ligada à ciência e ao pensamento filosófico tendo sido a primeira mulher admitida nesta Sociedade. Embora não haja registros específicos sobre sua iniciação em uma loja maçônica tradicional, sua afiliação a esta instituição indica sua participação em círculos maçônicos e intelectuais (Scientific Women, s.d.).

Royer é lembrada como uma pioneira do feminismo e da ciência no século XIX. Sua tradução de Darwin introduziu o darwinismo na França e influenciou o pensamento científico da época. Além disso, sua participação ativa no movimento feminista e sua afiliação a Société d'Anthropologie (instituição maçônica) destacam seu papel na promoção da igualdade de gênero e na disseminação do livre-pensamento (Wikipedia, 2025; Scientific Women, s.d.).

Sandra Cristina Pedri

Referências Bibliográficas

ROYER, Clémence. A Origem das Espécies de Charles Darwin. Tradução francesa com introdução de Clémence Royer. Paris, 1862.

SCIENTIFIC WOMEN. Clémence Royer. Disponível em: https://scientificwomen.net/women/royer-clemence-85?utm_source=chatgpt.com. Acesso em 27 set. 2025.

WIKIPEDIA. Clémence Royer. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cl%C3%A9mence_Royer. Acesso em 27 set. 2025.

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